Visita do presidente do Conselho, Marcello Caetano, ao Algarve
Visita do presidente do Conselho, Marcello Caetano, ao Algarve

O sismo de 28 de fevereiro de 1969 causou centenas de desalojados, no Algarve, devido às habitações destruídas, mas nunca foi possível contabilizar o número exato de mortos, “abafado” pelo antigo regime, segundo o historiador José Vilhena Mesquita.

Apesar de os jornais regionais da época apontarem vários feridos e apenas um morto no Algarve, em Lagos, o historiador José Vilhena Mesquita sublinha que o que veio nos jornais “não era verdade”, pois era “proibido falar de mortandade”, pelo que “muitos dos casos foram abafados” e as mortes atribuídas ao susto.

Um “forte e demorado abalo sísmico” que causou a “maior ansiedade” mas que não provocou vítimas, “senão pelo susto”, é a forma como a edição de 02 de março de 1969 do jornal “O Algarve” retrata o sismo que atingiu todo o território nacional na madrugada de 28 de fevereiro e que, segundo os registos oficiais, terá provocado pouco mais de uma dezena de mortos no país.

Notícia de Folha do Domingo sobre a visita presidente do Conselho, Marcello Caetano
Notícia de Folha do Domingo, no dia 15 de março de 1969, sobre a visita presidente do Conselho, Marcello Caetano

Apesar de se ter sentido em todo o país, o abalo causou mais danos a sul, sobretudo na zona do oeste algarvio – tal como em Lagos, Aljezur ou Vila do Bispo -, e chegou mesmo a arrasar quase por completo a aldeia de Fonte de Louzeiros, no concelho de Silves, contava a edição de 08 de março do Folha do Domingo.

“No sítio das Fontes dos Louzeiros, perto de Alcantarilha, das 16 casas existentes, só uma ficou intacta”, retratavam as páginas daquele periódico, acrescentando que em Vila do Bispo houve 60 casas “totalmente destruídas” e que Bensafrim, no concelho de Lagos, fora uma das terras “mais martirizadas”.

Folha do Domingo dava ainda conta de várias igrejas fechadas ao culto por ameaçarem ruir e da destruição quase total do hospital de Castro Marim, referindo também a visita ao Algarve, na semana seguinte ao sismo, do então presidente do Conselho, Marcello Caetano.

Segundo o historiador José Carlos Vilhena Mesquita, o sismo provocou danos sobretudo nos edifícios mais antigos, como as igrejas e os quartéis – que eram instalados em antigos conventos -, e nas habitações feitas em taipa e adobe, materiais menos resistentes que eram usados nas típicas construções rurais.

Apesar de a zona do Algarve mais afetada ter sido o barlavento (oeste), na cidade de Faro houve quedas de telhados, danos a registar no edifício do antigo Governo Civil, no Arco da Vila e nas muralhas da cidade, acrescentou.

Referindo que o sismo de 1969 “não foi dramático”, o historiador admite, contudo, que continua a ser lembrado ainda hoje, “porque nunca mais houve nenhum igual”, e recorda que o ciclone que atingiu o país em 1941 “foi muito mais desastroso”.