
A temática pessoana sobre os “Orientes”, é o título bem sugestivo do último poema publicado com o epónimo “Nesso” (Carlos Porfírio), inserido na coluna “Futurismo” de «O HERALDO» (Nº379), e que Nuno Júdice recolheu laboratorialmente num pequeno livro, junto a outras tantas poesias de algarvios futuristas.
« …
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
( … )
Nasci numa província portuguesa
( … )
Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.
… »
(A. de Campos, «OPIÁRIO», 1914, pub. in «Orpheu» “Nº1”)
Em «O HERALDO», também são editados “Dispersão” (Nº369) e “Além e Bailado” (Nº377) e têm a assinatura de Mário de Sá-Carneiro futurista, a partir de Paris. São ainda publicados, “Litoral” (Nº386) de José de Almada-Negreiros e dedicado a Souza-Cardoso Pintor, e ainda um poema inédito de Álvaro de Campos: “A CASA BRANCA NAU PRETA” (Nº388). Mas, esta última e conhecida poesia, foi muito curiosamente assinada pelo “antropónimo”(7) Fernando Pessoa.
Santa-Rita Pintor, por sua vez, consegue reproduzir quatro quadros(8) na revista-manifesto «PORTUGAL FUTURISTA», e do muito profuso período artístico compreendido entre 1912 e 1915, tendo “sobrevivido” até hoje apenas uma dessas mesmas pinturas a óleo. Essas originais representações plásticas mundiais foram destruídas por vontade do autor, e logo após a sua morte ocorrida em 1918, “apagando-se” também nesse mesmo ano Amadeo de Souza-Cardoso e, ambos vítimas da tuberculose. Outro representativo quadro a óleo e obra-prima de Santa-Rita, com o título “Cabeça-Violinista” (1910-1912), constitui o protótipo supremo do Futurismo português, reúne a dualidade objecto-corpo tão querida do malaguenho, e “Outro” grande fundador do “Movimento”, Pablo Ruiz Picasso. E esse tema é referência musical, movimento-dança quase maquinal (ver imagem). O “violino” é também “cabeça” numa antevisão electrizante da moderna “guitarra eléctrica”. E a par de outra representação icónica literária cubo-futurista (“Orpheu”), homenageando dessa forma o poeta e irmão do pintor português: Augusto de Santa-Rita. Constitui outra máxima visual mitológica em Portugal, este «Orpheu» é irmanação pictórico-literária-musical e da mais “original” pintura representativa do rítmico movimento e do “Movimento Futurista”.
Achada a magnífica “plêiade” de «7» ecléticas “estrelas”, e já atrás mencionadas nesta dissertação, aliando sobretudo pintura e literatura de forma “geminada” _ a música, o teatro e a dança estão-lhes implícitas em condição irmanada e eclética futurista _ são todas dignas representações mundiais e do “Movimento” e do ecletismo internacional. (Claro está que a “7ª arte” é outra produção desta época). «6» destas personalidades, estiveram na cidade “Luz” (Paris). Só Fernando Pessoa nunca abandonou a “Patriarcal”, o célebre café “Martinho da Arcada” no Terreiro do Paço, senão para vir ao Algarve ao “Aliança”.
Faro, “Tavira”, Manhufe, Vila do Conde, Viseu, Porto, “Coimbra”, finalmente a metrópole Lisboa e, todas de «PORTUGAL FUTURISTA», não poderiam ter melhores representantes civilizacionais e provinciais através da pintura mas, dentro da cena literária internacional, incluindo o “barroquismo pictórico” e “único” de Mário de Sá-Carneiro por Paris e, com «1» Fernando Pessoa em Lisboa, constituído que fora o último, verdadeiro “chefe de fila” do “Movimento Futurista” mas, pacifista.
« …
O Arco de Triunfo da minha Imaginação
Assenta de um lado sobre Deus e do outro
… »
(A. de Campos, «Arco de Triunfo»,1914-1917)
« …
Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.
… »
(F. Pessoa, «Passos da Cruz», 1914-1916)
Nota de rodapé: As passagens em "itálico", e a cores, são expressões, termos poéticos ou excertos de poesias de Fernando Pessoa e Álvaro de Campos, e ainda citações de outras personalidades identificáveis.
(7) Nome da própria pessoa. E apelido de "Pessoa".
(8) Com os títulos futuristas: "ORFEU nos infernos", "Perspectiva dinâmica de um quarto de acordar", "Cabeça=Linha-Força. Complementarismo orgânico" e "Abstracção congénita intuitiva (Matéria-Força)".