
O padre Carlos de Aquino disse no sábado que “o Jubileu da Misericórdia necessita, antes de mais, de ser celebrado”.
“Não se trata tanto de fazermos coisas e muito menos dessas coisas caírem na espetacularidade, no fantástico e no interessante, mas trata-se de tudo aquilo que a gente faz, celebrando na fé, ser comunicador da graça, do dom do amor de Deus e isso nos transformar verdadeiramente”, afirmou o sacerdote na Jornada Teológico-pastoral da Diocese do Algarve, que decorreu no Centro Pastoral e Social de Ferragudo sob o tema “A Misericórdia Divina, fonte de vida”, com a participação de cerca de 250 pessoas.
“Não significará tanto entrar por uma «porta [santa]». Significará mais acolher a «porta» verdadeira que é Jesus, entrar em Jesus, transformar a nossa vida por Jesus ao ponto de nos tornarmos outros Jesus uns para os outros”, prosseguiu o orador na conferência (áudio disponível abaixo), sob o tema “Celebrar a infinita misericórdia divina”, que apresentou para evidenciar a dimensão litúrgica daquela jornada.
“A misericórdia é dom que deve ser por nós acolhido, não apenas refletido, mas sobretudo celebrado e experimentado. Neste Ano Santo devemos celebrar a misericórdia em perfeita união com Jesus, o rosto da misericórdia do Pai, para que toda a nossa vida também possa ser uma digna oferta para glória de Deus”, sustentou.
Lembrando que “a fonte de toda a misericórdia é Deus”, o sacerdote evidenciou que “sempre que a Igreja celebra os sacramentos, mais não faz do que tornar viva e presente” nos cristãos “a misericórdia do Pai que age pelo Filho e pelo Espírito [Santo] e transforma os corações”.

Considerando que a Igreja é desafiada a “celebrar bem o mistério da misericórdia”, disse no que deve consistir essa celebração. “Celebrar a misericórdia pode significar este ano voltarmos o coração para aquilo que é essencial: ver em Cristo o rosto do Pai, identificarmo-nos plenamente a Ele, acolhendo a misericórdia e testemunhando-a nas obras de cada dia. Pode também significar este ano e primeiramente nos deixarmos envolver por Deus que é misericórdia, tornado sempre presente em cada ação e realizarmos, com verdade, o que representamos nos gestos e proclamamos nas palavras”, frisou.
“Celebrar a misericórdia pode significar este ano dar vida aos ritos, vivê-los com fé, centrá-los sobre o essencial que é sempre a Páscoa do Senhor, ponto culminante da revelação e da misericórdia de Deus. Pode significar centrarmos todas as nossas faculdades em Deus, tornando o tempo da celebração um verdadeiro momento histórico de salvação. Pode significar centrarmos todos os sentidos em Deus, manifestado em Jesus, deixando-nos divinizar por Ele”, prosseguiu.
Sublinhando as “exigências e desafios” para se celebrar a misericórdia, defendeu que “as celebrações ao longo do ano litúrgico, onde significativamente se celebra o mistério de Cristo, poderiam este ano ser muito valorizadas”. “Por exemplo, o tempo da Quaresma poderia ser vivido intensamente como tempo forte para celebrarmos e experimentarmos a misericórdia, valorizando-se liturgias penitenciais, assim como a própria celebração do sacramento da reconciliação”, explicou.
O orador apelou ainda à “escuta orante da palavra [de Deus]”. “Para sermos capazes de misericórdia devemos sempre primeiro pôr-nos à escuta da palavra de Deus, recuperando o valor do silêncio”, afirmou, exortando à “reflexão e aprofundamento sobre as parábolas da misericórdia”, à valorização da “liturgia da caminhada catecumenal, particularmente no tempo de purificação e iluminação e nos domingos principais da Quaresma”.
O padre Carlos de Aquino destacou a celebração da Semana Santa, “sublinhando-se a verdade da salvação” e aproveitando para se “catequizar o povo sobre o que significa redimir e resgatar do pecado e ser salvo”. O conferencista, que aludiu à valorização de festas como a Exaltação da Santa Cruz ou a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, destacou ainda a importância da peregrinação e a valorização dos sacramentos do batismo e da unção dos enfermos e a própria valorização dos espaços para a celebração destes sacramentos.
“A misericórdia refaz, unifica, reconstrói. Crescer nesta dimensão deve levar-nos a valorizar particularmente o sacramento da eucaristia e as próprias obras de misericórdia. Sobre a eucaristia poderíamos valorizá-la a partir de uma vivência mais bonita de Igreja para recuperar a verdadeira beleza da missa”, afirmou, exortando à valorização do ato penitencial, da oração dos fiéis, da oração eucarística, bem como da adoração eucarística e da liturgia das horas.
Conferência do padre Carlos de Aquino: