Foto © Samuel Mendonça

O padre José Joaquim Nunes celebra no próximo dia 30 deste mês 50 anos de ordenação sacerdotal e em entrevista ao Folha do Domingo considera que o exemplo do seu pároco, para além dos restantes membros da sua paróquia natal, foi determinante para que tivesse querido seguir-lhe as pisadas, entregando-se a Cristo, servindo os outros.

O ministério do sacerdote de 76 anos, natural de Monchique, ficou marcado pelo exemplo de sacerdotes que privaram com ele e da comunidade onde nasceu e cresceu. “É a comunidade que nos faz. Aprendi mais com os meus pais e com o meu prior Francisco Melo do que com os professores que tive. E tive muitos. E foram as comunidades que me ensinaram a ser padre”, refere emocionado.

“Via nos padres da minha terra que eram pessoas que se dedicavam muito aos outros. O padre da minha terra era a pessoa que mais servia a comunidade e pareceu-me que ser padre era também uma forma de ser mais útil às pessoas”, prossegue com os olhos lacrimejados.

O aniversariante recorda também as “tradições muito genuínas de vida cristã” dos seus conterrâneos. “As pessoas rezavam o terço todos os dias, nunca ninguém se levantava da mesa sem louvar a Deus pela refeição que acabara de receber e havia uma grande solidariedade rural entre as pessoas. Não conheci ninguém egoísta entre as pessoas da minha terra”, acrescenta, considerando que esse “ambiente cristão genuíno” o levou a pensar em arriscar ser padre.

O sacerdote entrou então para o Seminário de São José de Faro com 13 anos, tendo estudado também no Seminário de Almada e no Seminário dos Olivais, em Lisboa, para completar a formação em Filosofia e Teologia.

Foi ordenado em 1967 na Sé de Faro por D. Júlio Tavares Rebimbas, então bispo do Algarve, tendo colaborado, logo após a ordenação e durante quase um ano, na paróquia de Silves como coadjutor do pároco, o padre José dos Santos Oliveira que diz ter sido “um exemplo” em muitos aspetos. Simultaneamente foi professor de Religião e Moral na cidade.

Em setembro de 1968 foi nomeado coadjutor da paróquia de Portimão (a única existente na altura na cidade). “Encontrei o grande padre Manuel Vitorino Correia, um padre com vistas largas, inteligente, capaz de confiar sem dar ordens. Conseguia transmitir o gosto de trabalhar sem mandar fazer nada”, conta o padre José Nunes que ali trabalhou durante 15 anos, sendo também professor de Religião e Moral e de Educação Musical na Escola D. Martinho Castelo Branco e no antigo Liceu de Portimão, hoje Escola Secundária Poeta António Aleixo.

No último ano em Portimão, assumiu simultaneamente a paróquia de Alvor até à entrada do padre Manuel Honorato Antunes.

A 6 de agosto de 1983 foi nomeado por D. Ernesto Gonçalves Costa, então bispo do Algarve, pároco de Aljezur, Bordeira e Odeceixe, tendo como colaborador, no primeiro ano, o padre seu antecessor. Ali trabalhou durante nove anos, continuando a lecionar em Portimão. “Em Aljezur não havia catequese nem nunca tinha havido, a não ser nas escolas. Comecei a catequese, mas tive também de ir restaurando as igrejas que estavam todas a cair. As igrejas de Bordeira e da Carrapateira já não tinham teto. No concelho inteiro nenhuma igreja tinha casa de banho, nem sala de catequese e a casa paroquial também estava muito degradada”, conta o padre José Nunes, lembrando que Aljezur chegou a ter uma comunidade de cinco irmãs doroteias.

O sacerdote foi nomeado em agosto de 1989 pároco “solidariamente” de Monchique, Alferce, Marmelete, Aljezur, Bordeira e Odeceixe, ficando como moderador nas paróquias do concelho de Monchique.

Depois veio para Lagoa, tendo sido nomeado pároco em setembro de 1991, onde ainda permanece. Em Lagoa foi também professor na Escola EB 2/3 Jacinto Correia e na Escola Secundária. Na paróquia levou a cabo a construção da igreja de Vale D’El Rei, terminada em 2005, bem como a construção de sete salas de catequese e reuniões na igreja matriz de Lagoa, aproveitando o terreno do antigo quintal, para além de ter realizado vários restauros na igreja matriz e na igreja do Carvoeiro.

Aquela igreja é partilhada há vários anos com a comunidade de luteranos alemães residentes no Algarve, num trabalho iniciado também pelo padre José Nunes. “Eu não sei uma palavra de alemão, mas a gente entende-se perfeitamente”, refere, salientando também a dimensão do turismo naquela paróquia. “Nunca conseguimos estar tão preparados como precisaríamos, mas a relação com as pessoas, de fora ou de cá, tem mais a ver com a nossa disponibilidade do que sabermos muito da sua língua”, considera, lembrando que “Lagoa é uma comunidade que tem muitos estrangeiros católicos”. “E até são um exemplo para os de cá. Uns moram cá e outros vêm passar férias periodicamente”, complementa.

Em jeito de balanço, o padre José Nunes diz-se agradecido por lhe ter sido concedido “dar uma migalha” dos dons recebidos para o serviço. “Deus confia em nós, mesmo quando não merecemos e não somos capazes. Ele dá sempre mais do que a gente merece”, realça, garantindo não ter projetos futuros. “Já não tenho condições para dinamizar o que isto precisa”, considera.

Para assinalar os 50 anos da ordenação sacerdotal será celebrada uma eucaristia de ação de graças no próximo dia 30 deste mês, às 12h, na igreja matriz de Lagoa, presidida pelo bispo do Algarve.