Fez questão de ir ontem à Missa de rito bizantino na igreja de Santo António do Alto, em Faro, agarrado à fotografia do filho que não deixou de abraçar por um instante, uma das vítimas dos primeiros dias da guerra que acabou por se tornar numa das maiores lendas do conflito militar na Ucrânia.
O major Stepan Tarabalka, de 29 anos, piloto da Força Aérea ucraniana, deu origem ao fenómeno que ficou conhecido como o ‘Fantasma de Kiev’, o ás da aviação capaz de abater um número impressionante de caças inimigos, defendendo a pátria dos agressores. Apesar de a Força Aérea ucraniana já ter confirmado que o major Tarabalka — falecido em combate no dia 13 de março deste ano aos comandos do seu MIG-29 durante um ataque russo à capital ucraniana — “não atingiu 40 aviões” invasores, a identidade do piloto ficou para sempre associada à do herói que defende a nação.
A própria instituição esclareceu que o militar “foi heroicamente morto numa batalha área com as forças dominantes dos ocupantes russos” e acrescentou que o ‘Fantasma de Kiev’ não representa uma identidade particular, mas a incorporação do espírito coletivo “dos pilotos altamente qualificados” que defendem a capital. O próprio Estado ucraniano condecorou postumamente o major Stepan Tarabalka com o título de “Herói da Ucrânia” pela “proteção do espaço aéreo, valor e coragem”.
🕯13 березня 2022 року під час повітряного бою з переважаючими силами 🇷🇺 загарбників «пішов у небо» майор Степан Тарабалка.
⁰🎖За захист повітряного простору, доблесть і відвагу майору Степану Тарабалці присвоєно звання «Герой України» (посмертно). pic.twitter.com/otjqT32ZP4— Defense of Ukraine (@DefenceU) March 25, 2022
O pai acredita que o piloto do esquadrão de defesa da capital ucraniana terá abatido mesmo cerca de quatro dezenas de aviões inimigos. Ivan Tarabalka — que foi imigrante em Portugal durante seis anos, regressou à Ucrânia durante nove e voltou para cá há oito — descreve o filho ao Folha do Domingo como uma pessoa muito corajosa que terá inclusivamente substituído inúmeras vezes os colegas porque teriam medo de voar em determinadas condições.
Ivan Tarabalka refere que só no ataque que vitimou mortalmente o filho e outro colega em Zhytomyr, a cerca de 140 quilómetros de Kiev, havia “mais de 30 aviões da Rússia” para apenas “oito ucranianos”. Embora a ocorrência ainda esteja em investigação, a versão oficial indica que o avião explodiu após ter sido atingido por um míssil. No entanto, o pai do major Stepan continua a alimentar a esperança de que o filho ainda possa estar vivo, uma vez que o caixão foi entregue fechado à família, sem poder ser aberto.
Quando a guerra começou, em fevereiro deste ano, o pai e a irmã de Stepan, dois anos mais nova, com a nova família que então constituiu, permaneceram em Portugal, mas a mãe regressou logo à Ucrânia. Com a verba da indemnização atribuída pela morte do filho, a mãe fundou na Ucrânia uma clínica de reabilitação de militares, onde trabalha.
Stepan Tarabalka era casado e deixou um filho com 9 anos. Com a idade do descendente morava perto de um aeroporto na Ucrânia e sonhava em ser piloto de aviões. Depois de concluir o 7º ano de escolaridade ingressou no ensino militar e mais tarde conseguiu entrar na universidade da Força Aérea. Terminado o curso, começou a trabalhar no patrulhamento da fronteira com a Rússia até a guerra começar.