“Há famílias que já recorriam [ao apoio], mas agora surge uma pobreza que não é voluntária, e que é envergonhada, cujas vítimas nos pedem alguma ajuda no escondimento”, testemunha o sacerdote.

O prior de Silves, que se mostrou “profundamente preocupado e inquieto” com uma situação que considerou “dramática”, lamentando o “iminente desfecho” da sociedade cooperativa que, a acontecer, “irá levar para o desemprego imensas famílias” da sua paróquia, acrescentou ainda que a comunidade tem promovido, através da “generosidade de muitos professores já reformados”, a assistência no estudo de crianças cujos pais são trabalhadores da Alicoop.

O padre Carlos de Aquino garante que, neste momento, “é o contributo que a paróquia pode dar a essas pessoas” e adianta que a comunidade cristã tentará minorar o sofrimento em alguns aspectos que lhe seja possível, apesar de reconhecer que “é complicado garantir um apoio mais acrescentado porque a paróquia dá o que é resultado das ofertas e da generosidade dos cristãos”.

O padre Carlos de Aquino critica ainda a gestão da Alicoop que lamenta não ter sido “rigorosa, cuidada e justa”. “Não me parece que estejam todos situados ao mesmo nível. Falo dos patrões e funcionários. Não me parece que os contratos realizados, até ultimamente, tenham sido justos e benéficos para os funcionários e sei que houve posições tomadas que agravaram a situação dos próprios funcionários da instituição”, lamentou, considerando esse facto “injusto e inquietante”.

“Como pároco não posso ficar silencioso e sofro com essa situação”, afirma o sacerdote, defendendo que os responsáveis deveriam fazer uma reflexão “mais profunda e corajosa”, porque “o que está em causa são o grande número de famílias que irão para o despedimento com o fecho daquela instituição”.

“Não me parece que nesta situação seja só a crise a culpada e muito menos os funcionários. A própria gestão deveria fazer um exercício de purificação de consciência e ainda tentar, se for possível, resolver esta questão que é imensamente preocupante para o concelho de Silves”, concluiu.

Entretando, fonte da administração da Alicoop, anunciou este fim-de-semana que 65 dos 81 supermercados da cadeia Alisuper vão encerrar, no Algarve e em Lisboa, até 28 de fevereiro, dispensando 380 funcionários.

Samuel Mendonça