O pároco da Mexilhoeira Grande lamenta que desde 2016 nunca mais tenha sido autorizado a visitar as salas de aula do primeiro ciclo da Escola Básica José Sobral, no início do ano letivo, para entregar o convite, dirigido aos encarregados de educação dos alunos, para a catequese e para as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC).

A não autorização nos últimos anos, da visita que costumava realizar anualmente, levou mesmo o padre Domingos da Costa a apresentar uma queixa à Comissão da Liberdade Religiosa, da qual resultou apenas, segundo o sacerdote, um telefonema do presidente daquela entidade a pedir-lhe mais esclarecimentos sobre a ocorrência.

No início deste ano letivo, o pároco voltou a pedir por escrito a autorização para a visita àquele estabelecimento educativo do Agrupamento de Escolas da Bemposta. Sem resposta da coordenação da escola da Mexilhoeira Grande, o pároco decidiu fazer a distribuição do convite aos pais dos alunos dos três ciclos à porta do estabelecimento educativo, mas na véspera foi contactado pela sua coordenadora, Maria Conceição Correia. “Respondeu-me à carta com um telefonema, dizendo-me que não autorizava a minha ida à escola, porque se me autorizasse a mim teria que autorizar todas as outras confissões religiosas”, lembra o sacerdote, considerando que a justificação “não faz qualquer sentido”. “Na paróquia, que eu saiba, não há outras confissões religiosas. Foi o que lhe respondi, acrescentando que as havendo teria que as autorizar a todas”, observa, complementando que a responsável, tal como no ano anterior, lhe voltou a propor que lhe enviasse o texto do convite que ela mesma se encarregaria de o fazer chegar aos pais, o que voltou a não aceitar.

O padre Domingos da Costa garante que o acolhimento à entrega do convite à porta da escola “foi ótimo”. No texto do mesmo, que também foi difundido nas redes sociais da paróquia, o sacerdote alertava para a “falta de valores” da sociedade atual que considera estar na base de muitos dos problemas de hoje como o do “aumento da criminalidade”.

Lembrando os 27 anos em que foi professor de EMRC nas escolas daquela freguesia, alertava os pais e encarregados dos alunos que “o melhor modo de formar cidadãos responsáveis e livres está na educação para a liberdade e para a responsabilidade” e que a catequese e as aulas de EMRC “podem ser uma ajuda” nessa tarefa.

Parte dos alunos da escola frequenta também o ATL do Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande. Na mesma altura em que pediu autorização para visitar a escola, o pároco da Mexilhoeira Grande pediu também a dispensa desses alunos das aulas no dia 2 de outubro passado, para que pudessem participar na festa dos padroeiros do jardim infantil do Centro Paroquial. “A resposta foi imediata na distribuição de uma circular aos alunos de ATL, em que é evidente a tentativa de demover os pais da participação dos filhos na festa”, conta o padre Domingos da Costa, lembrando que “durante muitos anos, a autorização era automática, sem qualquer preocupação de consultar os pais”.

Na circular, assinada pelas professoras, era referido que as atividades do ATL “decorrem, normalmente, em horário escolar e acabam por causar constrangimento em relação ao funcionamento da escola e ao cumprimento dos programas curriculares”. O sacerdote assegura que “das cerca de 30 crianças, só quatro famílias não autorizaram a participação do educando na festa”.

O jornal Folha do Domingo contactou a direção do Agrupamento de Escolas da Bemposta, mas não obteve qualquer esclarecimento sobre o assunto.