Numa parceria entre o município e a paróquia, voltou a realizar-se no passado fim de semana em Lagoa, 50 anos após a última edição, a Festa da Família Agrária, reeditando aquela que era na década de 1960 uma das maiores festividades religiosas do concelho.

No sábado à noite, 27 de maio, foi celebrada a Eucaristia na igreja matriz, presidida pelo pároco de Lagoa, seguida de procissão de velas com a imagem de Nossa Senhora de Fátima até ao antigo convento de Nossa Senhora do Carmo (atual quinta ‘Convent’bio’ dedicada à produção e comércio de produtos biológicos).



Na celebração, o padre Nuno Coelho pediu que a reedição daquele acontecimento mais do que a recriação de uma tradição. “Vamos recriar uma grandiosa festa religiosa do nosso concelho. Foi em tempo idos uma das maiores festas religiosas não só do concelho, mas talvez da nossa região do Algarve. Que esta procissão não seja só uma recriação, mas seja sobretudo um encontro com Cristo e que esta manifestação de fé a Maria nos leve ao encontro e ao caminho de Cristo, e com Ele, ao Pai”, afirmou.




À chegada à antiga capela do Carmo, depois do cortejo em que foi recitada a oração do rosário, o sacerdote insistiu no pedido de que a fé “não seja apenas memórias, um caminhar por caminhar”, mas que, naquele “reconstruir” de uma tradição, haja lugar para o “encontro com Cristo Jesus como Maria pede”. Após a recitação de uma última dezena do terço, o padre Nuno Coelho explicou que a imagem ficaria ali sendo “velada” durante a noite.
No domingo, após a concentração das comunidades que compõem a freguesia e a paróquia no antigo convento, os participantes foram recebidos com uma degustação de sabores tradicionais, tendo-se realizado de seguida a bênção dos campos, coletividades e maquinaria e a procissão de regresso à igreja matriz, onde foi celebrada a Eucaristia.
Organizada pela paróquia, a Festa da Família Agrária era uma grande manifestação de fé em Lagoa, à época vila e sede de um concelho, essencialmente agrícola, que exibia a ruralidade da freguesia-paróquia, incubador de uma próspera adega cooperativa. Contava com o envolvimento da Ação Católica Portuguesa, através da Liga e Juventude Agrárias Católicas. O então pároco de Lagoa, padre António Martins de Oliveira, foi responsável pela sua realização e por tê-la tornado, a partir de 1966, num acontecimento de todo o concelho.
A iniciativa teve origem como Festa do Carmo, em honra de Nossa Senhora de Fátima sempre no último domingo de maio, que terá começado após a visita da imagem peregrina da Virgem a Lagoa em 1948 (inserida na visita ao Algarve). Os proprietários da Quinta do Carmo (convento de Nossa Senhora do Carmo), João Cabrita e a sua esposa, que a adquiriram em 1876 em ruínas devido aos terramotos de 1722 e 1755, disponibilizaram-na na altura, mais propriamente a capela, para a realização das festas.
Na noite de sábado saía da matriz a procissão de velas com a imagem de Nossa Senhora de Fátima até à Quinta do Carmo. No domingo celebrava-se a Missa campal no largo da capela, seguindo-se a procissão de regresso à igreja matriz.
Depois da tomada de posse do padre António Martins de Oliveira como prior de Lagoa, em 1960, a festa foi toda renovada e passou a designar-se Festa da Família Agrária, sendo presidida por vários bispos do Algarve ao longo dos anos, de D. Francisco Rendeiro a D. Florentino de Andrade e Silva, conforme o documenta imagens do arquivo da RTP, que estiveram no sábado em exibição junto à antiga capela do Carmo juntamente com uma exposição sobre a origem da festa. Em 1966, já se tinha expandido a todo o concelho de Lagoa com grande representação dos agricultores, juntando toda a comunidade, do povo às elites abastadas, em redor da devoção de Nossa Senhora de Fátima.
A reedição da Festa da Família Agrária, que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Luís Encarnação, realizou-se no âmbito das comemorações dos 250 anos da criação do concelho de Lagoa. Para a realização da iniciativa contribuiu uma recolha de informação realizada por um técnico superior da Câmara Municipal no início deste ano no arquivo do jornal Folha do Domingo.