A investigadora algarvia Patrícia de Jesus Palma realça que o projeto de criação do núcleo museológico da antiga Tipografia União “representa a possibilidade de reconhecer e inscrever Faro na História Global da Cultura Escrita e, em particular, o seu lugar fundacional na construção da civilização da cultura impressa”, “que teve o seu nascimento há 533 anos em Portugal, através da cidade de Faro, a primeira cidade portuguesa a imprimir, sendo justa a denominação «cidade-berço» da imprensa”.

Recorde-se que a impressão do “Pentateuco” (conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio) foi levada a cabo pelo judeu Samuel Gacon em Faro, em 1487, marcando o início da imprensa em Portugal.

A especialista com investigação desenvolvida nesta área, que tem sido também uma das agentes impulsionadoras à criação do núcleo museológico da antiga Tipografia União, destaca ainda “a possibilidade deste equipamento enquanto instrumento científico, pedagógico e lúdico, ao serviço da população e do público escolar”. “Será sem dúvida um importante contributo para a construção de uma cidadania mais esclarecida e ativa, baseada na literacia informacional e dos seus diferentes suportes, para além de que constituirá uma oferta cultural e turística inédita, distintiva baseada numa identidade, que ao contrário do que os mitos teimam afirmar, também é a do Algarve: a da cultura(s) escrita(s)”, acrescentou, numa reação ao Folha do Domingo, sobre o protocolo que amanhã será assinado entre a Diocese do Algarve, o Município de Faro e a Universidade do Algarve para a criação do núcleo museológico.

Há um ano, na apresentação da publicação “Pentateuco: 530 anos de livro impresso em Portugal (1487-2017)”, com organização editorial da sua autoria, a investigadora lembrou que a Tipografia União, encerrada no final de 2012, “foi criada nos finais de 1909 para imprimir, nos inícios de 1910, o boletim oficial [da Diocese do Algarve] para começar aí a sua publicação que há-de dar depois origem à Folha do Domingo que continua a publicar-se desde então, sendo a publicação mais antiga que se publica no Algarve”.

“Esta tipografia tem uma história lata e foi inclusivamente, dos anos 40 aos anos 60, a oficina que mais jornais imprimiu. Neste período, praticamente todos os jornais do Algarve se imprimiram naquela casa”, prosseguiu Patrícia Palma na apresentação do livro, explicando que a antiga gráfica se especializou na impressão de periódicos.

Patrícia Palma lembrou que Faro acolheu a imprensa em Portugal “logo nos primórdios do avanço da tipografia pela Europa”. “É dos primeiros países a acolher a atividade de tipográfica que entra pelo sul, pela cidade de Faro, através da comunidade judaica”, confirmou.

Patrícia Palma, autora da obra ‘O Reyno das Letras: a cultura letrada no Algarve (1759-1910)‘, é investigadora integrada do CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde desenvolve temas como a circulação cultural no espaço europeu e transatlântico, a história e património da imprensa, ou as relações entre a cultura e o desenvolvimento territorial.

Em paralelo, desde 2018, atua no “Lugar Comum”, projeto que criou para investigação, consultadoria, ação cultural e ação educativa e que tem como principais objetivos fomentar o acesso ao conhecimento e à fruição cultural.

Foi ainda a coordenadora científica do projeto da Hemeroteca Digital do Algarve.