“As pessoas pensam que quando têm dúvidas estão a perder a fé. Nada mais errado”, lamenta, acrescentando que “quem não põe dúvida nenhuma é porque não tem fé mas uma fezada”. “A gente, se não pergunta é porque não percebe e já não se importa em perceber ou não. Se nos incomodamos com a fé, questionamos. Temos que nos perguntar: «Mas e o que é que isso tem a ver com a minha vida? Como é que eu traduzo isso na minha pessoa?”, adverte, apontando à “questão nevrálgica”.

O sacerdote, que lamenta que a tenha deixado de “ser testada”, falava no segundo encontro de reflexão sobre o Ano da Fé (proclamado pelo Papa, de outubro de 2012 a novembro de 2013, para toda a Igreja) que o Colégio de Nossa Senhora do Alto tem vindo a promover em Faro.

O orador considerou que a Igreja de hoje está “acomodada” e “parece regredir para os tempos velhos e antigos”. “Estamo-nos a fechar. Ou com saudosismo da cristandade, da massa, do número – o que é uma desgraça – e deixámos de «pescar à linha», de coração a coração”, lamentou.

Por outro lado, o sacerdote defende que “faz falta quem adapte à linguagem de hoje, as verdades principais da fé”. “Não vejo Deus nas lautas liturgias, nem nos emparelhados de teologia. Isso pode ajudar. Um dos problemas de hoje é a falta da tradução destas verdades na linguagem e nos símbolos que sejam compreensíveis para nós”, afirmou, acrescentando que “as pessoas, quando vão à igreja, sentem a falta da dimensão da família, da festa, da alegria e não percebem aquelas palavras, aqueles gestos e aqueles sinais”. “Como é que a gente pode amar aquilo que não percebe?”, interrogou.

O padre Carlos de Aquino constatou ainda que “a dimensão geracional não está na comunidade cristã”. “Não temos expressão na Igreja, a partir dos 15 anos e até aos 65. Os jovens e as crianças não conhecem Jesus. Isso é uma inquietação”, sustentou, lamentando que a iniciação cristã não cumpra o seu papel. “Escolarizámos a catequese mas não tivemos a preocupação de fazer a evolução que fez a escola. A catequese, como está estruturada teoricamente, é para iniciar na fé mas depois o percurso não tem isso em consideração. O percurso é feito por causa das festas e não para iniciar na fé. Este é o grande problema. E, por isso, a gente chega ao fim do 10º ou 12º ano e não temos cristãos”, lamentou.

Samuel Mendonça