
O padre Joaquim Beato está este ano a comemorar os 50 anos da sua ordenação sacerdotal.
O pároco das paróquias de Armação de Pêra e Porches, de 76 anos, natural de Pedreiras, no concelho de Porto de Mós (Diocese de Leiria-Fátima), celebrou no passado dia 15 de agosto o aniversário da sua ordenação presbiteral com uma missa de ação de graças no adro da igreja, presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, à qual se seguiu um jantar comemorativo com cerca de 250 pessoas. Nesse dia foi também homenageado pela Câmara de Silves com a entrega de uma salva de prata.
No passado dia 1 deste mês encontrou-se em Fátima com os colegas de curso que se ordenaram no mesmo dia para uma concelebração eucarística que teve lugar na basílica da Santíssima Trindade, a convite de D. António Marto. O bispo da Diocese de Leiria-Fátima presidiu à eucaristia, que contou com todo o clero daquela diocese, à qual pertence também o padre Joaquim Beato.
O sacerdote, ordenado no dia 15 de agosto de 1965, faz parte de uma fornada de padres saída do impulso do Concílio Vaticano II (1962-1965). “Vínhamos cheios de esperança, mas nem nos apercebemos naquela altura do que era o concílio. Víamos que havia necessidade de olhar para a Igreja de uma forma diferente e o concílio trouxe essa visão diferente da Igreja, mas não nos apercebíamos, verdadeiramente, do que seria o concílio e os seus efeitos. Só depois, com os documentos que começaram a sair e com a reflexão que se ia fazendo, é que começámos a tomar consciência”, explicou em declarações ao Folha do Domingo.
Olhando para trás, o aniversariante faz um balanço muito positivo deste meio século de vida ao serviço. “A gente olha para trás e reconhece que somos pequeninos. Talvez nem sempre tenha correspondido àquilo que o Senhor queria de mim. Mas por outro lado, penso que é motivo para dar graças a Deus por aquilo que se fez ao longo de 50 anos. Posso dizer que este tempo foi todo ele dedicado ao serviço dos outros, seja no ministério sacerdotal, seja no trabalho como professor. Tive sempre a preocupação de ser um sinal de padre onde quer que estivesse”, afirmou.
Como acontecimentos mais marcantes, o padre Joaquim Beato destaca o trabalho realizado com as famílias, particularmente o tempo em que esteve como responsável no Algarve pelo Movimento dos Cursos de Cristandade. “Foi uma coisa muito válida e muito bela”, recorda com “saudade”, lembrando os inúmeros cursos em que participou. “Tantos casais que passaram comigo por esses encontros. Muitos ficaram marcados por esse trabalho e isso animou-me”, conta.
O sacerdote realça ainda o sentido de comunidade das paróquias que tem a seu cargo. “É muito belo podermos ter uma comunidade com qual rezamos, a quem anunciamos a palavra de Deus, que refletimos e com a qual caminhamos em conjunto”, considera, acrescentando ainda o trabalho com as crianças e jovens nas catequeses, no escutismo e o trabalho no lar de idosos.
De entre os acontecimentos deste meio século de vida sacerdotal, o padre Joaquim Beato reconhece que o último ano foi um dos mais difíceis. “Vivemos um momento de uma certa tragédia com a destruição da igreja [de Armação de Pêra] com o incêndio e pelo facto de termos ficado sem nada. Por outro lado, fervorou um pouco mais a minha fé e a fé das pessoas que se uniram e que se juntaram para reedificação da igreja”, refere, sustentando que “a parte negativa foi muito superada pelo aspeto positivo, pela atitude das pessoas e por aquilo que elas realizaram”.
Em relação ao futuro, o sacerdote diz ainda ter “uma certa esperança” em relação à construção da igreja nova. “Se não for a igreja nova, pelo menos o Centro Paroquial Pastoral porque é alguma coisa que precisamos muito aqui na paróquia”, ressalva.
O padre Joaquim Beato estudou os dois primeiros anos no Seminário Menor de Fátima e completou o curso de Teologia no Seminário de Leiria. Foi ordenado pelo então Bispo de Leiria-Fátima D. João Pereira Venâncio.
Nesse mesmo ano, já por causa da falta de sacerdotes foi convidado para vir para o Algarve pelo então bispo diocesano D. Francisco Rendeiro. Com a autorização do seu bispo veio para o Algarve a 20 de outubro de 1965 e foi para Monchique, onde trabalhou durante quase três anos.
Depois da serra, D. Júlio Rebimbas, ao tempo bispo do Algarve, pediu-lhe para ir para Faro, onde deu aulas, durante cerca de 3 anos, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve. Lecionou também aulas de Educação Moral e Religiosa Católica no Liceu em Faro e foi viver para a zona de São Luís, em Faro, com o objetivo de criar a paróquia que hoje existe, tendo sido posteriormente acompanhando pelo padre António da Rocha, atual pároco daquela comunidade.
Esteve ali durante cerca de sete anos, trabalhando simultaneamente na extinta Ação Católica, e no Movimento dos Cursos de Cristandade, de que foi diretor espiritual.
Em 1974, o então bispo do Algarve D. Florentino de Andrade e Silva convidou-o para ir para Armação de Pêra e Porches e, para poder sobreviver, foi dar aulas em Silves. Completou estudos em Lisboa para poder lecionar Português e Latim e foi professor durante 26 anos.
É provedor da Santa Casa da Misericórdia de Armação de Pêra desde o seu início, há 25 anos. O lar de idosos de Armação de Pêra foi, praticamente, criado por si com a fundação da Misericórdia, uma vez que a instituição surgiu da necessidade de um centro de acolhimento de idosos. Para além desta valência foi ainda criada a creche e o jardim infantil.