O sacerdote que, para além de pároco e médico, é assistente da Comissão Nacional Justiça e Paz, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social e assistente religioso da Caritas Portuguesa, falava na conferência “Do cuidar humano ao testemunho da Fé” sobre a identidade do Centro Paroquial de Martim Longo, que ontem comemorou 25 anos de existência.

“O importante é agilizar as instituições no sentido de que a vida seja melhor para todos, procurando o bem das pessoas que necessitam de ajuda e procurando que quem é voluntário o possa exercer na sua liberdade, sem ter de fazer de conta que está a fazer uma coisa à margem de alguma legalidade”, afirmou.

O sacerdote reconheceu a necessidade da regulamentação mas apelou ao bom senso. “O enquadramento das normas são para o bem das pessoas que servimos mas, às vezes, complicam-nos tanto a existência que já nem percebemos se as leis é que estão ao serviço das pessoas, se são as pessoas que ficam ao serviço dessas normativas”, lamentou.

O orador desafiou ainda as instituições sociais a “lutar contra as dificuldades com criatividade e imaginação” e advertiu para a obsessão com as “boas práticas”. “Se por causa das boas práticas me torno indiferente ao sofrimento do outro, as boas práticas passam a ser más práticas. Se prefiro salvar o sistema (entenda-se capitalista) a procurar o bem comum, adeus reino dos céus. Tenho de procurar o bem do outro e não salvar a banca ou os banqueiros”, criticou.

Lembrando D. Hélder Câmara, frisou que “a pergunta sobre as causas das situações injustas faz parte da Doutrina Social da Igreja (DSI)”. “Quando eu trato dos pobres acham que sou cristão, quando pergunto porque é que os pobres são pobres começam a suspeitar que eu seja comunista”, afirmou, citando o falecido bispo católico.

Considerando a DSI, uma “reflexão clara” que o magistério da Igreja tem proposto, o padre José Manuel de Almeida referiu que a identidade, nas instituições, “não é para ver quem faz melhor”. “Lá encontramos os grandes filões daquilo que nos distingue enquanto identidade para as nossas instituições sociais. Não é necessariamente para ter conteúdos diferentes das outras instituições, mas há duas coisas que nos distinguem claramente: a motivação e o horizonte de intencionalidade. Sabemos porque fazemos, move-nos o desejo de seguir Jesus e o nosso horizonte está claramente no reino [dos céus]”, afirmou.

O sacerdote frisou que, “ao aproximarmo-nos de quem precisa, aproximamo-nos de Jesus que está presente nesse ou nessa que precisa da minha ajuda”. “Não fazemos nada de extraordinário”, sustentou, lembrando que, “quer a prudência quer o risco têm de ser realizados no sentido, não do meu benefício, mas para o bem do outro com quem me encontro”.

Neste sentido, advertiu que “dar testemunho é estar disposto a conversar da nossa vida e do que nos anima, por aquilo que fazemos e o modo como vivemos”. “Não é dar sentenças nem lições, mas viver a vida ao jeito de Jesus como vida dada e entregue que faz viver”, complementou, considerando que “caridade é o nome dado a uma liberdade que torna mais livre a vida dos outros”.

Samuel Mendonça