O sacerdote considerou a Doutrina Social da Igreja (DSI) como “púlpito do qual a Igreja pode falar para todo o mundo” e constatou que “a opinião da Igreja é escutada quando fala de questões sociais porque fala com autoridade”. “O que dá autoridade à Igreja quando fala destas questões é a síntese entre fé e razão”, acrescentaria mais adiante.
O orador complementou ainda que esta reflexão tem-se “estendido da Igreja católica a outras Igrejas”. “É bom que, nós cristãos, falemos a uma só voz sobre estas questões”, defendeu, lamentando que haja “uma ignorância muito grande deste saber da Igreja”.
O padre Manuel António deixou claro que “a DSI não é alternativa ao sistema capitalista nem ao sistema marxista”. “Aponta apenas princípios fundamentais”, clarificou, acrescentando é depois importante que surjam iniciativas da sociedade civil.
Apontando os princípios da DSI, que apresentou como um “convite à criatividade da Igreja”, disse que “é preciso defender dignidade da pessoa humana”, lembrando que “a pessoa é sempre um fim e nunca um meio”.
Reconhecendo que “o bem comum choca com interesses particulares”, defendeu que este “devia ser um princípio a orientar a atividade política”. “Na nossa ação pastoral devíamos insistir neste princípio”, afirmou aos sacerdotes.
Lançando um olhar sobre a encíclica papal de Bento XVI “Caritas in Veritate”, comparou-a com outros documentos da Igreja e advertiu que “o mundo que sairá desta crise será certamente muito diferente do que era anteriormente”.
Considerando que “um humanismo que exclua Deus é um humanismo desumano”, lembrou que “a globalização pode tornar-nos vizinhos mas não nos faz irmãos”, embora admita que “a difusão do bem comum pode ser facilitada pela globalização”.
Alertou para o “risco da técnica poder assumir-se como a única ciência”. “A técnica ligou-se ao relativismo e este é um dos problemas do nosso tempo”, disse.
Criticou um “laicismo militante que procura limitar a religião ao domínio da consciência” e lembrou que “o Cristianismo é hoje a religião mais perseguida”.
A terminar, recuperou uma ideia avançada pelo Papa na referida encíclica relacionada com a necessidade de uma autoridade política mundial de poder de tipo subsidiário, disse que seria “desejável uma revisão do estatuto da ONU” e lamentou que “a necessidade de repensar o modelo económico não foi devidamente assumida”. “Não bastam boas estruturas para que as pessoas se tornem melhores. A crise torna-se ocasião de discernimento e elaboração de nova planificação”, perspetivou.
Samuel Mendonça
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico