
Pedro Vaz Patto alertou que a ideologia do género “nega o significado da realidade objetiva”, procurando forjá-la por ter, em relação a ela, uma “perspetiva subjetivista e construtivista”.
“Uma coisa é considerarmos que a realidade é o que é e nós temos de nos ajustar a ela e aceitá-la como ela é, outra coisa é querer forjar a realidade à medida da nossa vontade. A perspetiva da ideologia do género é construtivista, predominando a vontade: a realidade é aquilo que nós queremos que ela seja”, criticou o juiz desembargador, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, no colóquio promovido pelo núcleo do Algarve da Associação de Médicos Católicos Portugueses que decorreu na última segunda-feira no auditório do Hospital de Faro.
O conferencista acrescentou que, deste ponto de vista, o homem “recusa ser uma criatura” e então “a pessoa humana aparece como criadora de si própria”. “É a dualidade homem e mulher, como ponto de partida, que é contestada, deixando de ser válido aquilo que se lê na narração da Criação: «Deus criou homem e mulher». [Segundo a ideologia do género,] não foi Ele que os criou homem e mulher, mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto”, lamentou.

O orador evidenciou assim que naquela ideologia, “o género se sobrepõe ao sexo”, uma vez que “acaba por ser, em última análise, uma questão opção”. Vaz Patto afirmou que, segundo aquele pensamento, “a pessoa, independentemente daquilo que são as suas condições físicas e biológicas como homem e mulher, pode escolher um género diferente daquele que é o seu sexo”.
O conferencista evidenciou que esta posição traz “toda uma série de consequências do ponto de vista filosófico e legislativo” e contou o caso de uns pais que quiseram ocultar o sexo de seu bebé para que ele pudesse escolher ser homem ou mulher, independentemente do sexo biológico.
Segundo o preletor, que aludiu à “forma como se pretende impor e fazer penetrar esta ideologia no âmbito do ensino, quer público, quer privado”, de países europeus, trata-se de “desmontar aquilo a que se chama os estereótipos de géneros”. Vaz Patto sublinhou que se pretende “contrariar aquilo que é tradicionalmente espontâneo nas crianças, de que as meninas brinquem com bonecas e os rapazes com carrinhos” e contou o caso de uma escola italiana onde os rapazes foram convidados a vestirem-se como meninas e as meninas como rapazes”, acrescentando que, “se a questão se colocar cá em Portugal, há um princípio da Declaração Universal dos Direitos do Homem e outro da Constituição Portuguesa que podem ser invocados”.
Vaz Patto aludiu ainda a uma notícia que dava conta de que na Suécia foi introduzido no dicionário um artigo, para além dos artigos definidos masculino e feminino, que deverá servir para qualificar estas pessoas que não se reconhecem nesta dualidade.
O orador referiu-se também ao sentido da dualidade sexual porque “homem

e mulher são chamados à comunhão”. “Há uma relacionalidade da pessoa que é estrutural. Na origem da sociedade está esta unidade na diversidade. O reconhecer que cada um dos sexos não exprime toda a riqueza e plenitude da realidade humana significa que cada um deles tem necessidade do outro”, afirmou, acrescentando que a ideologia pretende impedir que cada um dos sexos reconheça esta “insuficiência e limitação” e que “a diferença entre homem e mulher não é para a contraposição nem para a subordinação, mas para a comunhão e geração” de vida.
Vaz Patto lamentou que a ideologia defenda a indiferenciação dos sexos. “O que a ideologia do género diz é que esta diferença e o acentuar das especificidades masculinas e femininas, ao longo da história, tem servido para justificar a subordinação da mulher”, afirmou, lamentando que a “afirmação e a presença da mulher” sejam conseguidas “à custa da perda da especificidade da riqueza própria e insubstituível” daquele sexo.
O preletor lembrou também que a ideologia nega assim a “indicação da natureza para que homem e mulher se unam entre si”, defendendo que “a união entre homem e mulher é uma entre várias possíveis” e que “o facto de prevalecer na sociedade a união heterossexual não tem em sim nada de natural, mas é também ela uma convenção”. “A ideologia pretende denunciar aquilo que chama de heterocentrismo”, lamentou.
O conferencista lamentou ainda a contestação da associação entre sexualidade e procriação, lembrando que esta “é vista como a afirmação de um direito individual – o «direito ao filho» – e não como dom e fruto de uma relação”. “Há quem reivindique, com base na ideologia do género, que a procriação medicamente assistida seja acessível, independentemente das situações patológicas de infertilidade, a mulheres sozinhas”, advertiu, acrescentando que a valorização da presença de um pai e de uma mãe na educação, “também fruto de uma convenção arbitrária”.
Conferência de Pedro Vaz Patto: