“Tocou-me vivamente o gesto da UAlg ao se lembrar de me outorgar o título de Doutor Honoris Causa. Compreendo o gesto como vontade de homenagem que ultrapassa o próprio homenageado, mas também, e principalmente, visa uma literatura e uma nação, a angolana”, afirmou Pepetela no discurso proferido após receber as insígnias de doutor “Honoris Causa”.

O autor angolano considerou que “muito dificilmente se separará a obra e a vida de um escritor da história e cultura do seu povo”, agradeceu o título, que disse honrá-lo muito, e dedicou-o de seguida ao povo angolano.

“Dedico-o também à minha mãe, que, como se verá de seguida, teve um papel decisivo no meu percurso, e à minha mulher, infelizmente ausente nesta ocasião, responsável por, pelo menos, metade daquilo que tenho produzido”, disse ainda o escritor, cuja obra está intimamente ligada à guerra pela libertação de Angola, cuja história recente também é retrata nos seus livros.

Pepetela disse que no seu “fraco entender, um ficcionista deve contar preferentemente estórias, com ‘es’, e não falar ou escrever sobre aquilo que é o seu trabalho íntimo, talvez o mais íntimo dos trabalhos humanos”.

“Chamemos-lhe discrição ou suma vaidade a este cuidado de não revelar intimidades. Há porém escritores, também especialistas em teoria literária, e que sem caírem em esquizofrenias, conseguem analisar, ponderar e divulgar aquilo que vão descobrindo nos textos ditados pela sua própria imaginação. Alguns denominam subconsciente”, afirmou.

Pepetela disse “admirar a sua capacidade e até ousadia de exposição”, mas garantiu ser “incapaz de os seguir”, da mesma forma que disse “não ser de escrever mais de 10 linhas sobre o trabalho de outro escritor sem começar a contar estórias que (…) melhor o definem, em contraposição às analíticas palavras habituais”.

O padrinho do doutoramento Honoris Causa de Pepetela, o reitor da Universidade de Cabo Verde, António Correia e Silva, disse sentir-se “honrado” em apadrinhar “um escritor que faz parte integrante” das suas “referências literárias, políticas e afetivas”.

“Suspeito por isso que esteja um pouco desarmado perante uma obra literária complexa, que fala do branco e do negro, da paz e da guerra, da realidade e da utopia, do passado e do presente, da África e da Europa, do planalto e da estepe”, acrescentou.

Para o reitor da UAlg, João Guerreiro, a obra de Pepetela tem quatro paralelos com a instituição que dirige: “a interculturalidade, a valorização da língua portuguesa, a adoção de um intransigente compromisso social e a liberdade”.

Igualmente presente na cerimónia, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, disse que as suas palavras tinham como objetivo “saudar o escritor e através dele, não apenas a literatura, mas o homem nas suas metamorfoses, que revelam a história”.

Lusa