O presidente da associação OlhãoPesca queixou-se hoje das interdições de apanha de conquilhas no sul do país e anunciou que vai pedir ao Governo para reavaliar os níveis de toxinas permitidos.
“Há uns anos atrás as interdições iam de uma semana a 15 dias, 20 dias no máximo, e as coisas mudaram e não percebemos porquê e daí questionarmos até que ponto os níveis de segurança não estão altos demais”, disse à Lusa o presidente da Organização de Produtores de Pesca do Algarve, OlhãoPesca, Miguel Cardoso.
A captura de conquilhas, também conhecidas por cadelinhas, está interdita no sul do país desde o final de maio devido à presença de níveis considerados elevados de toxinas DSP, que provocam intoxicações diarreicas.
A situação está a causar dificuldades ao setor, até porque as interdições ocorrem com maior frequência nos seis meses de maior procura e consumo de conquilha, explicou Miguel Cardoso.
Por isso, a associação decidiu “enviar um documento ao secretário de Estado do Mar a dar conta da aflição e a solicitar ao Governo que reveja os níveis de segurança que estão afixados em regulamentação comunitária”, explicou Miguel Cardoso.
Vincando que os profissionais respeitam as interdições e não querem colocar em causa a saúde pública, Miguel Cardoso apontou, no entanto, o facto de os veraneantes apanharem todos os dias conquilhas nas praias e lembrou que não são conhecidos problemas de saúde em resultado da venda dessa captura ilegal.
“Não há notícias de intoxicações diarreicas ou outras devido ao consumo de conquilhas ou de qualquer outro tipo de bivalve, o que nos leva a duvidar de todo este processo”, refere a OlhãoPesca em comunicado.
A Lusa contactou o Centro Hospitalar do Algarve para saber o número de casos de intoxicações alimentares provocadas pelo consumo de conquilhas em períodos de interdição, mas fonte daquela entidade explicou que esse número é desconhecido porque o registo das ocorrências não aponta as causas específicas das intoxicações alimentares.
Questionada pela Lusa, a delegada regional de Saúde Pública do Algarve, Ana Cristina Guerreiro, explicou que as autoridades de saúde pugnam pelo cumprimento das interdições indicadas pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, entidade responsável pelas análises à água e amostras de bivalves.
Ana Cristina Guerreiro disse que o apuramento desses dados só seria possível se os ministérios da Agricultura e Pescas e da Saúde decidissem fazer um estudo vocacionado para esta problemática que pudesse ser realizado nos serviços de saúde do distrito de Faro.
A OlhãoPesca representa 127 embarcações de pesca, sendo que no Algarve existem 50 de ganchorra dedicadas à captura de conquilhas (a espécie com maior valor comercial na pesca com arte de ganchorra) e vários apanhadores a pé devidamente licenciados.
A OlhãoPesca explica que durante os períodos de interdição um quilo de conquilhas pode valer entre sete a 13 euros enquanto nos períodos não interditos a mesma quantidade é vendida entre os três e os quatro euros.