Na área da restauração, a faturação parece manter-se – o único relato de aumento do negócio junto à EN125 é feito por Ana Freitas, que se dedica à compra e venda de fruta há 14 anos e que ali vende laranjas há seis anos.

“Com a saída de trânsito da Via do Infante [autoestrada que percorre o Algarve] para aqui, temos mais paragens de pessoas para comprar laranjas”, afirma a comerciante, calculando um aumento na ordem dos 15% nas vendas em relação a anos anteriores.

Já Maria Grosso, proprietária de um café e de uma pensão em Boliqueime, junto à estrada nacional, comenta que “as pessoas passam, mas não param”. A empresária relata cenários de filas de trânsito de vários quilómetros nas primeiras horas da manhã e ao final do dia e mais acidentes do que antes da A22 ser portajada, em dezembro passado.

“Arranjem a estrada, façam as rotundas e tirem as portagens para termos mais turismo”, apela a empresária.

Maria Grosso diz que há um ano tinha várias reservas de turistas espanhóis e que este ano não tem nenhuma. A crise económica pode ter impedido algumas reservas, mas a empresária acredita que a introdução de portagens também é um entrave, uma questão que pesa na altura de marcar férias.

A prometida e adiada requalificação da EN125 é ansiada por muitos, que acreditam que trará mais segurança para peões e condutores, menos caos e melhores condições para que os clientes acedam aos estabelecimentos comerciais.

“Estou convicto de que quando fizerem a rotunda prevista, aí será melhor para nós”, comenta Manuel Santos, proprietário de um restaurante também instalado à beira da via, junto à entrada para Vilamoura.

O empresário diz que o afunilamento do trânsito regional para a EN125 não trouxe “aumento significativo” para o seu negócio.

“De vez em quando, aparece um ou outro cliente que comenta que passava pela Via do Infante e que agora passa por aqui”, prossegue, admitindo que tinha criado expectativa de que o negócio melhorasse com o aumento do trânsito. “Estamos em frente a uns semáforos e quando o sinal está verde as pessoas passam e nem reparam no restaurante”, refere.

Na zona da Patã, concelho de Albufeira, a convivência da população e dos comerciantes com o trânsito ‘apertado’ na EN125 não é diferente.

Otília Serafim está a gerir um café e um minimercado há cerca de um ano e teve oportunidade de perceber as diferenças na estrada antes e após as portagens na A22. “Há muito trânsito, é difícil atravessar a estrada, mas em matéria de melhorar o comércio não notamos alteração nenhuma. Talvez derivado da crise”, afirma.

Com a época alta turística a chegar, Otília Serafim mostra-se preocupada: “Nem quero pensar nos meses de julho e agosto. Em matéria de acidentes, nem se fala! Imagino que devam ser filas do dia todo. Como é que nós vamos sair daqui, como é que vamos a qualquer lado?”.

A A22 percorre o Algarve desde o Barlavento até ao Sotavento desde 1991, altura em que foi batizada de Via do Infante. Até 8 de dezembro de 2011, foi percorrida gratuitamente.

A decisão tem sido contestada por vários líderes regionais e movimentos cívicos e já foi mote para a entrega de várias petições na Assembleia da República.

Entre os argumentos surgem apelos em prol da economia regional e do setor turístico, assim como o facto de grande parte dos troços terem sido feitos com fundos europeus.

Lusa