Foto © Luís Forra/Lusa

As portagens na Via do Infante (A22) continuam a ser um obstáculo à afluência de turistas espanhóis no Algarve e prejudicam a imagem do destino turístico, disseram hoje à Lusa responsáveis de associações empresariais da região.

“A razão da descida do mercado espanhol [no Algarve] não pode ser toda imputada às portagens, mas o que é facto é que desde a introdução das portagens o mercado espanhol tem descido sempre e era um mercado que estava a subir exponencialmente”, afirmou o líder da maior associação de hoteleiros na região, Elidérico Viegas, numa semana em que se regista um grande volume de viaturas vindas de Espanha, para as miniférias da Páscoa.

Para o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), além da introdução das portagens, “é ainda mais injusto” o modelo de pagamento adotado, que cria confusão aos estrangeiros que entram na região pela Autoestrada 22 através de Vila Real de Santo António.

“As portagens revelaram-se um desastre económico e manter as portagens neste momento é mais uma questão de teimosia política do que propriamente uma vantagem”, afirmou Elidérico Viegas, sublinhando que os últimos dados apontam para uma presença decrescente dos turistas espanhóis na região.

Foto © Luís Forra/Lusa

Em 2015, os espanhóis representavam 4,8% das dormidas registadas no Algarve, mas em 2016 as suas dormidas desceram para 3,7%, ao longo de todo o ano, ilustrou.

Já no ano passado, os espanhóis tiveram um peso de 10,5% nos resultados turísticos totais da região.

Também o presidente da Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA), Vítor Neto, considera que as portagens são “um elemento negativo” para a economia regional.

“Tendo em conta a importância do turismo na economia do nosso país, que no ano passado foi o setor mais importante nas exportações de Portugal de bens e serviços, com quase 17% do total das exportações, e tendo em conta que o Algarve terá nesses valores um peso entre os 40% e 50%, é completamente irracional existirem obstáculos ao desenvolvimento desta atividade”, vincou.

Vítor Neto, que entre 1997 e 2002 foi secretário de Estado do Turismo, defende que a mobilidade é fundamental para qualquer estratégia turística, em qualquer parte do mundo.

Para o presidente da NERA, no Algarve a mobilidade tem vários problemas, como é o caso das portagens, da falta de ligação ferroviária ao aeroporto, do sucessivo adiamento da eletrificação da linha ferroviária e das obras da Estrada Nacional 125.

Quanto ao impacto das portagens no comportamento dos turistas espanhóis, Vitor Neto disse que, “além do valor em si, é um obstáculo psicológico” que tem muita influência no caso do consumidor turístico.

Para o representante dos empresários, não existem dúvidas de que este é um tema que tem de ser visto no conjunto do interesse global da economia do turismo para o país.

Vítor Neto apontou ainda que o turismo no Algarve é um setor dinamizador de toda a economia e gerador de riqueza e de emprego e que as portagens têm tido impacto no turismo, mas também nos residentes, nos trabalhadores e nas empresas.

“Tem de haver uma perspetiva de médio e longo prazo que potencie a consolidação do destino, lhe dê prestígio e que garanta que as pessoas que aqui veem se sentem bem, se podem movimentar com facilidade e saem satisfeitas e com vontade de voltar”, concluiu.

As portagens na A22, tal como noutras ex-Scut (estradas sem custos para o utilizador), começaram a ser cobradas em dezembro de 2011, através de pórticos eletrónicos.

Os espanhóis que não quiserem alugar o dispositivo eletrónico específico para a cobrança têm duas opções – associar um cartão de crédito à matrícula (o que pode ser feito em máquinas colocadas na autoestrada) ou comprar um cartão pré-pago que se pode adquirir em postos de combustíveis.

As duas primeiras saídas para quem vem da Andaluzia – Vila Real/Castro Marim e Altura/Montegordo – estão isentas de pagamento.