O presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 disse ao clero das dioceses do sul do país que o desafio dos jovens à Igreja é o de que faça “caminho com eles”.

D. Américo Aguiar encerrou as jornadas de atualização dos bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que decorreram online de 18 a 20 deste mês sob o tema “Testemunhar com audácia o Evangelho, força renovadora da humanidade”.

Aquele responsável, que substituiu o secretário-executivo do Comité Organizador Local da JMJ 2023 que não pôde estar presente, refletiu sobre o tema “O desafio dos Jovens à Igreja. A JMJ 2023”. D. Américo Aguiar considerou que a geração destinatária do encontro mundial da juventude com o Papa tem sido alvo de inúmeras propostas e pressões e tem de sentir o acompanhamento da Igreja. “Estes jovens têm sido permanentemente fuzilados, têm sofrido bullying permanente de um conjunto de pensamentos, de ideologias, de desafios, de propostas mais ou menos sérias, mais ou menos humanizantes (algumas totalmente contrárias)”, afirmou.

“Às vezes, pergunto-me que confusão é que anda dentro daquelas cabeças e daqueles corações. Estes jovens desde tenra idade são permanentemente metralhados com a ideologia do género, na escola, nas redes [sociais], nos amigos, na família”, prosseguiu, lembrando que também “viveram situações particularmente sofridas nas suas famílias” motivadas pela crise anterior e pela atual. “Nem nos passa pela cabeça o quanto eles sofreram e sofrem em razão de os seus pais, da sua família, dos seus amigos, da sua comunidade viverem problemas económicos e financeiros graves. Muitos deles tiveram paragens a fundo naquilo que foi a sua sociabilização, os seus relacionamentos”, acrescentou, explicando que muitos encontraram “um refúgio ainda mais reforçado nas redes [sociais], no ecrã”.

“Quais são os danos efetivos na vida, nos sonhos, nos projetos desta malta nova? O que é que tem sido ou pode ser o nosso papel?”, questionou, exortando os participantes a “não perder o desejo de conhecer esta realidade” e tentar “fazer alguma coisa”, percebendo se estão “a ser capazes de corresponder àquilo que são os anseios, os gritos, as preocupações, os sofrimentos”. “Pode acontecer que os jovens não sintam que sentimos com eles, que sofremos com eles, que rimos com eles”, alertou, considerando que a Igreja tem de se “enfarinhar naquilo que é a realidade da vida dos jovens” de dentro, mas “principalmente” na dos de fora. “Estamos a trabalhar muito para dentro do aquário, mas a imensidão dos cardumes está fora do aquário”, metaforizou, considerando que a JMJ, “desafio que Deus colocou no caminho da Igreja Católica em Portugal, é uma oportunidade a agarrar com as mãos todas”.

Nesse sentido desafiou a “arriscar em lugares e em pessoas” que não estariam à espera de que o convite para a JMJ lhes fosse feito e que os símbolos do evento – a Cruz e o ícone mariano – acabem por ir ao encontro deles, em vez de estarem parados num sítio à espera de que as pessoas venham ao seu encontro.

D. Américo Aguiar disse ainda que “todos juntos” serão “poucos” para corresponder àquilo que é necessário para a organização da JMJ 2023, evento cuja preparação “tem apresentado novos desafios para lá daquilo que é a organização dita normal da jornada”. A título de exemplo lembrou ser a primeira que tem como destinatários apenas “nativos digitais”, pessoas nascidas depois de 1990. “O facto de nos dirigirmos a jovens que já são na totalidade de um caldo cultural totalmente digital obriga-nos a abandonar algumas coisas do costume”, adiantou, explicando que não serão impressos materiais. Por isso, referiu o “esforço financeiro suplementar” para as “exigências de software e programação”. “É um enorme desafio tecnológico para nós e para as empresas de comunicações com quem trabalhamos. Implica mesmo a colaboração das forças armadas e dos serviços especiais que o Estado tem para que todos os sistemas possam funcionar. Não podemos arriscar que haja um apagão da capacidade de comunicação”, sustentou.

Por fim, considerou que o “legado mais importante da preparação” da JMJ poderá ser a “experiência de trabalho das 21 dioceses, através dos Comités Diocesanos”, e defendeu que o evento poderá “ser uma alavanca para as paróquias, para as comunidades e para as dioceses”. D. Américo Aguiar desejou que o mesmo proporcione aos participantes “um encontro com Cristo vivo e seja essa a experiência principal” do encontro.