Foi ontem assinado o protocolo de colaboração interinstitucional entre a Diocese do Algarve, a Câmara Municipal e a Universidade do Algarve (UAlg), para criação do Núcleo Museológico da antiga Tipografia União, na Vila Adentro, em Faro.
“Este é apenas um primeiro passo que esperemos que conduza ao tal futuro museu”, afirmou a coordenadora do estudo de uma proposta para a constituição do núcleo, levado a cabo pela UAlg, no espaço da antiga tipografia da diocese algarvia que funcionou entre 1909 e 2013. Alexandra Gonçalves, docente da UAlg e especialista em gestão do património cultural e turismo, acrescentou que “criar um novo centro de debate, de conhecimento é o objetivo maior da concretização deste futuro núcleo museológico”.

“Temos condições para estabelecer aqui um rumo e uma proposta de uma nova atração cultural e, sobretudo, de um novo pilar cultural e de criação de conhecimento na região”, sustentou aos jornalistas no final da cerimónia que decorreu no Museu Municipal de Faro, defendendo que o futuro museu poderá “servir de base para a construção de novo conhecimento” porque cruzará “várias áreas, da ciência à cultura, a própria religião, a ideologia”.

Por outro lado, a antiga diretora regional de Cultura do Algarve, disse que o projeto permitirá “reafirmar Faro na sua centralidade que teve” no surgimento da cultura escrita europeia. “Muitos ainda não conhecem as narrativas associadas a esse período da nossa história. A história daquele espaço não é só a história de Faro. É a história de uma região, de vários períodos que demonstram que, culturalmente, o Algarve teve uma relevância que é muito desconhecida da maior parte da população”, destacou, acrescentando que para além do “levantamento de testemunhos em torno daquele espaço”, será feito “o levantamento e o estudo documental do que existe em torno da imprensa escrita e da história, não só da Tipografia União, mas também da cultura impressa no Algarve e em Faro”.

Alexandra Gonçalves referiu que “não está esquecido do programa a definir, o pensamento de financiamentos que possam acontecer para a continuidade do projeto”. “A própria equipa propõe-se a identificar linhas de financiamento que possam contribuir para outros projetos associados a esta centralidade da cultura escrita em Faro”, completou.


A equipa multidisciplinar que deverá ter pronta a proposta dentro de um ano é composta, para além de Alexandra Gonçalves, pela investigadora algarvia Patrícia de Jesus Palma, do CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com vasto trabalho desenvolvido nesta área (algum do qual já publicado), especialista em História Contemporânea e Estudos Portugueses, que tem sido também uma das impulsionadoras à criação do futuro núcleo museológico. Fazem ainda parte do grupo de trabalho Maria Caeiro, na área do Design, Mauro Figueiredo, na área de Sistemas de Computação e Realidade Virtual Aumentada, e Bruno Silva, na área da Comunicação, Cinema e Literatura.

Lembrando que o “trabalho iniciado há cerca de quatro anos” com vista à criação do futuro museu “começa-se a desenhar com as comemorações dos 530 anos do primeiro livro impresso em Portugal, precisamente na cidade de Faro, o Pentateuco”, o reitor da UAlg adiantou que a equipa daquela instituição pretende “promover uma proposta inclusiva, intergeracional, multissensorial, ponto de encontro entre a cultura escrita e as religiões, que perspetive o futuro da edição e impressão”. “Não será estático. Será dinâmico o que se pretende ali colocar”, garantiu.
A intenção de criação de um núcleo museológico no espaço da antiga tipografia da diocese foi anunciada em julho de 2017 pelo bispo do Algarve, que também esteve ontem presente na cerimónia, e repetida em diversas ocasiões públicas.

O presidente da Câmara de Faro, que lembrou que a equipa do Museu Municipal também colaborará no projeto, destacou a importância do projeto para a cidade. “Aquilo que ali está faz parte da nossa identidade. É a nossa história que ali está, é a história do povo farense naquela área do património”, afirmou Rogério Bacalhau.

Na mesma tónica prosseguiu o vigário geral da Diocese do Algarve, que destacou a importância do projeto para a valorização do núcleo histórico de Faro. “Esta assinatura do protocolo, esperemos, que venha enriquecer este núcleo histórico da cidade. O largo da Sé, a Sé, o Paço Episcopal, o Seminário e o Município têm de dar a mãos para que esta zona geográfica da cidade seja o ex-líbris do Algarve”, afirmou.
A Tipografia União foi criada em 1909 para impressão, primeiramente do Boletim do Algarve (1910-1913) e, a partir de 1914, do jornal da diocese algarvia Folha do Domingo, seu sucedâneo, naquele ano fundado. A tipografia, que se especializou na impressão de periódicos, foi entre as décadas de 1940 e 1960, a que imprimiu praticamente todos os jornais do Algarve da altura.