A Procissão da Ressurreição, também conhecida como Procissão do Aleluia, que integra a tradicional Festa das Tochas Floridas, em São Brás de Alportel, é uma das nomeadas para as ‘7 Maravilhas da Cultura Popular’.

“O anúncio da nomeação, pela avaliação da comissão organizadora das ‘7 Maravilhas da Cultura Popular’, que consiste no alcançar da primeira etapa no percurso deste concurso deveria acontecer em plena edição de 2020 da Festa das Tochas Floridas”, anunciou o município de São Brás de Alportel, lamentando que a mesma não tenha sido possível devido à pandemia do novo coronavírus.

A Associação Cultural Sambrasense, com o apoio do Município de São Brás de Alportel, apresentou a candidatura ao concurso que pretende apurar quais são as sete mais significativas “Maravilhas da Cultura Popular” de Portugal, uma iniciativa que se segue a um conjunto de outros concursos “7 Maravilhas” que desde 2007 pretendem divulgar e comunicar os valores positivos de uma “Identidade Nacional forte – causas nacionais reconhecidas”, explicou a autarquia.
A Procissão da Ressurreição, participada por milhares de pessoas, incluindo emigrantes e muitíssimos turistas (portugueses de vários pontos do país e estrangeiros), vai-se impondo no Algarve como a segunda de maior participação, logo depois da de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana), superando mesmo a Procissão do Senhor Morto em Faro, realizada em noite de Sexta-feira Santa.

No Domingo de Páscoa, após a eucaristia na igreja matriz de São Brás de Alportel, segue-se a Procissão da Ressurreição com as tochas floridas, onde os andores dão lugar às flores que ornamentam as trabalhadas tochas e as ruas, depois de uma longa madrugada de trabalho em que centenas de voluntários se lançam na árdua tarefa de preparar os tapetes floridos.
Depois de uma árdua semana na apanha e preparação da matéria-prima, é na madrugada do Domingo de Páscoa, que todos os minutos são poucos, até ao amanhecer, para que, quando o sol nasça, possa revelar uma longa tapeçaria com um quilómetro de flores que cobre o chão com símbolos, descrevendo o percurso da procissão com cores e aromas de funcho, rosmaninho, alecrim, alfazema e flores silvestres.
O tapete florido, que louva a ressurreição de Cristo, pode ser observado logo de manhã nas ruas de São Brás de Alportel.

As ruas, engalanadas também com bandeiras vermelhas e brancas, colchas penduradas às janelas e lonas com a imagem de Cristo ressuscitado, transformam-se num «mar» de tochas floridas com os homens a abrir a procissão, formando alas e empunhando na mão uma tocha.
Ao longo do cortejo, reúnem-se em pequenos grupos para, alternadamente, levantarem o grito do “aleluia”. Aqui e além ouve-se uma voz potente e sonora: “Ressuscitou como disse!”. O grupo, erguendo bem alto a tocha, responde: “Aleluia, aleluia, aleluia!”.

O historiador e antigo vigário paroquial de São Brás de Alportel, padre Afonso Cunha Duarte, explica que “esta procissão foi outrora popular em todo o Algarve”, realizando-se presentemente também ainda em Portimão.
No século XIX, “praticamente todas as aldeias organizavam esta Procissão da Ressurreição”, na qual as pessoas levavam nas mãos uma vela que antigamente “era designada por tocha”, conta o sacerdote. Também conhecida como a Procissão das três Marias (em alusão às mulheres que se deslocaram ao túmulo de Jesus na manhã da ressurreição), as confrarias, responsáveis pela organização, eram então obrigadas a levar uma tocha acesa ou luminária e as opas vestidas. Posteriormente, a falta de cera levou ao aparecimento de paus pintados e ornamentados com flores, no cimo do qual se colocava uma pequena vela.

Mais tarde, com o desaparecimento das confrarias, permanecem na procissão os paus enfeitados, as lanternas e as velas acesas ao lado do pálio e as opas, que ainda hoje são usadas pelos homens que transportam o pálio. “Ao longo da procissão, cantavam-se hinos, responsos e o aleluia, em honra da Ressurreição do Senhor. Antigamente havia também um ou dois coros a cantar e o povo respondia, mas com o passar do tempo, a falta de clero e de cantores, levou a que o canto ficasse na boca do povo. Com a implantação da República esta situação, que era comum em todas as paróquias, alterou-se, pois, as manifestações públicas foram proibidas. A tradição das procissões esmoreceu”, refere o padre Cunha Duarte que, a título de exemplo, relembra que, em Lagos, a primeira procissão apenas voltou em 1941.
Com a ida do antigo pároco, padre José Cunha Duarte, (irmão do padre Afonso Cunha Duarte) para a paróquia de São Brás de Alportel em 1981, a festa foi recuperada e nunca mais cessou.
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Este ano, a festa não pôde realizar-se, mas a eucaristia foi transmitida em direto na internet e, após a celebração, o padre António Farias, acompanhado pelos restantes párocos são-brasenses, percorreu as ruas da vila como Santíssimo Sacramento, por onde passaria a procissão. “Nas ruas vazias, as colchas ondulavam ao vento, algumas tochas se esgueiravam pelas varandas e aqui e além os tradicionais cânticos soavam às janelas… Um gesto simples, mas carregado de significado, que pretendeu abençoar a comunidade são-brasense e rogar a Deus ajuda para que o mais brevemente possível possamos vencer esta Pandemia!”, destacou a Câmara Municipal.