A multissecular Procissão do Enterro do Senhor, popularmente conhecida como «Procissão do Senhor Morto», realizada em Faro em noite de Sexta-feira Santa não pôde sair este ano devido às condições climatéricas.



A Santa Casa da Misericórdia de Faro, que a organiza, viu-se forçada a cancelar o cortejo devido à chuva que caiu, tendo realizado em seu lugar uma celebração no interior da igreja daquela instituição, presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, concelebrada pelos cónegos Carlos César Chantre e Rui Barros Guerreiro, párocos das paróquias da cidade, e participada pelas autoridades civis e militares e por muitas outras pessoas.



“Certamente que todos sentimos pena de não nos ser possível realizar, como habitualmente, esta Procissão do Enterro do Senhor pelas ruas da nossa cidade. Vamos recolher-nos em oração para viver este momento e, sobretudo, para interiorizar aquilo que esta procissão sempre nos sugere: uma atitude de gratidão e de reconhecimento ao Senhor Jesus pelo seu exemplo de amor até ao fim e, ao mesmo tempo, de reconhecer que o seu sepultamento nos leva a proclamar a sua ressurreição”, começou por referir D. Manuel Quintas.



“Que a alegria que brota de Cristo ressuscitado possa dissipar, tanto quanto possível, as tristezas e algum mal-estar que sentimos em relação ao mundo que nos rodeia, às guerras que continuam a cometer as atrocidades que todos conhecemos e que, cada dia, nos são transmitidas pela televisão. Sejamos mais fortes do que o mal. É isso que Cristo nos ensinou com a sua morte na cruz e, sobretudo, com o seu amor até ao fim”, desejou, agradecendo à Misericórdia de Faro pelo seu “esforço” e “serviço à cidade de Faro”.



O cónego César Chantre, que proferiu a homilia, e que deu “graças a Deus” pelo “bem sagrado” da chuva, realçou que “jamais pode haver um enterro do Senhor”. “Deus não pode ser enterrado, mas precisamos desta coreografia para compreendermos que Jesus sofreu e morreu por nossa causa. Precisamos destes cenários, destes gestos para contemplar melhor a mensagem maravilhosa que Deus nos trouxe por intermédio de Jesus”, clarificou.



Considerando que “Deus na cruz é um escândalo” para muitos, disse ser “precisamente na cruz que Deus demonstra que compreende o sofrimento do ser humano”, “enviando o seu próprio filho para também sofrer”. “Serve-se do sofrimento para salvação dos homens”, realçou, lamentando que se esteja a “atingir o nível de indiferença perante o sofrimento, perante a morte e perante as injustiças, não obstante os direitos humanos, as liberdades”.
O cónego César Chantre disse ainda que “Jesus veio para todos” e para “iluminar todas as culturas”. “Não há uma cultura de Jesus Cristo. Não há uma cultura cristã. Todas as culturas são resgatadas em Jesus Cristo”, referiu.

A celebração contou ainda com a atuação do coro de câmara de Sé de Faro ‘Cantate Domino’, dirigido pelo maestro Rui Jerónimo, e da Sociedade Filarmónica 1.º de Maio, de Lagos, uma das bandas que acompanha anualmente a Procissão do Enterro do Senhor.