Pelas 14:30, a praça da fonte começou a acolher gradualmente os participantes, que antes do início da marcha o comissário da PSP de Faro Jorge Carneiro quantificou em mais de dois mil, mas o número ainda subiu mais e na altura do início do desfile já superava claramente essa marca.

A iniciativa, convocada via redes sociais na Internet para protestar contra a precariedade laboral e o desemprego, contou com a presença de muitos jovens, mas também de pessoas de idade mais avançada, que se reviram no seu caráter apartidário e pacífico.

Entre os milhares de participantes que marcaram presença em Faro esteve Diogo Mendes, de 24 anos e estudante de design, comunicação e multimédia, que está a participar nos sensos para ajudar a pagar os estudos.

“Portugal é um país em que temos deixado que os outros façam por mim e acho que para mudarmos alguma coisa temos de meter mãos à massa, nem que seja marcar presença, ser um número, para ajudar a causa de alguém. Esta causa é nobre, pacífica, apartidária e é uma forma de mostrar o quão descontentes estamos”, afirmou.

Diogo Mendes frisou que é “necessário mostrar” que “os trabalhos não sejam tão precários” e “é necessário mais condições para sobreviver enquanto pessoas, país e sociedade”.

“Espero que consigam perceber que a juventude não está nada contente com as condições que tem para trabalhar e para existir. Se não formos ouvidos e esta não funcionar, não podemos cruzar os braços e dizer que afinal não dá. Fazemos outra, outra e outra até mostrarmos efetivamente que não estamos a ir a lado nenhum e não podemos continuar nestas condições”, defendeu.

Susana Neves, 34 anos e música há 15 anos, criticou o facto de ter de passar recibos verdes para poder trabalhar, pagando de contribuições “às vezes mais que o que se ganha”, num “trabalho que é muito sazonal” porque está dependente das atuações em hotéis e bares.

“Trabalhei durante seis meses como outro qualquer trabalhador, avisaram-me no próprio dia que já não precisavam dos meus serviços e não tive direito a nada, a nenhum subsídio, a nenhumas regalias”, lamentou.

Neves lamentou ainda o fato de, apesar de não trabalhar, ter de descontar para a Segurança Social.

“Às vezes recebo zero na época baixa e tenho de pagar 60 euros à Segurança Social todos os meses. Não consigo, com um filho para alimentar. O que tenho é para as contas e não posso estar a dispensar 60 euros todos os meses se eu não ganho isso”, frisou.

Agora, Susana Neves tem a Segurança Social a penhorar-lhe os bens por uma dívida relativa a um período em que não teve qualquer encaixe financeiro.

“Já não tenho quase bens, tenho apenas o carro que utilizo para trabalhar quando tenho trabalho. Sou mãe, estudante, trabalhadora, e até já me senti discriminada por ter muitas competências”, concluiu.

Folha do Domingo/Lusa