Foto © Samuel Mendonça
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Quarenta e sete jovens universitários do Instituto Superior Técnico vieram de Lisboa passar a primeira semana deste mês em Aljezur para realizar uma missão que os levou a evangelizar a população local através do testemunho da fé em Jesus Cristo, do serviço e da caridade.

Os estudantes integraram a Missão País, um projeto católico criado em 2003 a partir do Movimento de Schoenstatt (embora hoje seja independente) que organiza e desenvolve missões universitárias a partir de várias faculdades de Portugal, de Braga a Beja passando pelo Porto, Lisboa e Coimbra e que este ano contou com 43 missões em 39 faculdades diferentes. As missões são semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares: externa, interna e pessoal.

Foto © Samuel Mendonça
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Chegados a Aljezur no primeiro dia deste mês, os jovens, divididos por equipas de seis ou sete elementos no âmbito da missão externa, contactaram ao longo da semana os habitantes locais porta-a-porta, levando-lhes a Mãe Peregrina, uma imagem de Nossa Senhora de Schoenstatt, um dos símbolos que carateriza a Missão País que este ano teve como lema “Alegra-te, foste encontrado!”, da parábola do filho pródigo. Visitaram ainda a Escola EBI/JI, a Casa da Criança do Rogil, a Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Longa Duração e Manutenção e o lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia onde realizaram diversos serviços.

Alojados no Espaço Multiusos de Aljezur em tendas militares, os estudantes promoveram ainda uma tarde de jogos e diversões constituída por um torneio de futebol e um ateliê de dança para raparigas que terminou com um lanche-convívio para as famílias. Também a noite de teatro e a vigília de oração na igreja que encerrou a intensa semana de missão foram outros dos momentos altos.

Francisco Nascimento, um dos dois chefes gerais da equipa composta por chefes de oração, chefes de serviço e chefes de teatro, disse ao Folha do Domingo que, não obstante o cansaço, o balanço é “muito positivo”. Depois de uma semana a acordarmos às 8h e deitarmo-nos por volta da meia-noite, chegamos ao fim cansados mas é um cansaço físico que é sobreposto pela satisfação com que daqui saímos. Não vimos só trazer. Em geral é mais ouvir o que é que as pessoas têm para nos dizer, porque muitas vivem sozinhas e precisam de falar, desabafar e partilhar a experiência da sua vida. Há coisas que as pessoas nos dizem que nos marcam, há histórias de vida que não temos oportunidade de ouvir no nosso meio. Embora muito cansados, acabamos por sair daqui muito marcados e com um sorriso muito grande”, testemunhou sobre o contacto porta-a-porta que classificou como a “grande essência” da Missão País.

Foto © Samuel Mendonça
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Aquele responsável, que já realizou quatro missões no âmbito daquele projeto, destaca o acolhimento com que os missionários universitários foram recebidos. “Têm-nos aberto as portas. Ainda hoje [sábado] todos os missionários foram cozinhar a casa das pessoas em que só levavam um pacote de arroz e uma caixa para trazer a comida e trouxeram entradas, pratos principais e sobremesas”, contou, explicando que esta caraterística foi um dos motivos que levou à escolha de Aljezur para a realização da missão. “Achámos que era essencial vir para o Sul. O projeto está muito concentrado de Lisboa para cima”, complementou.

Francisco Nascimento destaca ainda que a Missão País tem constituído a rampa de lançamento para importantes mudanças na vida de muitos jovens e uma «porta» de entrada na Igreja Católica. “Muitas missões são um ponto de partida para uma vivência na fé e para se envolverem em projetos de serviço”, conta, acrescentando que “para além de muitos dos jovens virem à procura de servir, vêm à procura de um encontro com Deus”.

Foto © Samuel Mendonça
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Os 47 missionários foram acompanhados pelo padre Lorenzo Lütjens, do Movimento de Schoenstatt, sacerdote que colaborou nas dimensões interna e pessoal da missão que se fundamentam na eucaristia e na oração. Para além de presidir à celebração diária da missa, colaborou com os chefes de oração na orientação das dinâmicas e das meditações dos temas bíblicos propostos nos momentos de oração da manhã e da noite, nos quais se projetava e se fazia o balanço do dia. “Tratou-se de ir fazendo a percepção do desenvolvimento espiritual da comunidade dos missionários, porque são eles que se têm de alimentar espiritualmente para puderem levar essa espiritualidade aos outros”, explicou o sacerdote, acrescentando que a assistência espiritual ao grupo se estendeu ainda à administração do sacramento da reconciliação muito por causa das “experiências de conversão” vividas pelos próprios missionários. “Para muitos jovens é a primeira experiência que fazem de testemunho religioso e é também uma experiência de conversão para eles”, sustenta.

O pároco de Aljezur diz que ao longo da semana houve uma “maior adesão” de pessoas que começam a despertar para a fé. O padre Nuno Coelho confia que a “sementeira”, realizada pelos jovens da Missão País, “dará fruto a seu tempo” até porque o projeto estará de volta à paróquia nos próximos dois anos. “Acho que vai despertando as pessoas para aquilo que é a fé e a realidade do cristão: este encontro com Cristo e uns com os outros, sobretudo, na alegria”, referiu ao Folha do Domingo.

O prior espera que, principalmente, os jovens se tenham sentido interpelados. “Espero que essa faixa etária – que é a que mais afastada está porque vão para a universidade ou porque acham que não é para eles – sinta que ser jovem cristão vale a pena. E esta missão veio demonstrar isso, que vale a pena ser cristão no mundo de hoje, um mundo com tantas dificuldades, e que mesmo na universidade se pode ser cristão. E manifestar isso da maneira que eles manifestaram é muito bom”, afirmou.

Ao longo de 13 anos, a Missão País, que começou com 20 missionários sob o lema geral “Inspirar gerações que vivam a Fé Católica em Missão”, conta já com mais de 2000 e 154 missões realizadas um pouco por todo o território nacional, privilegiando aldeias ou vilas.