Os reclusos do Estabelecimento Prisional de Faro escreveram ao Papa em julho deste ano, enviando-lhe os desenhos e as poesias da sua autoria que constituíram uma exposição itinerante em maio deste ano e a resposta de Francisco chegou no passado dia 15 de outubro, através da Secretaria de Estado do Vaticano.

“Obrigado pela vossa prenda e as vossas mensagens, queridos irmãos. A sua leitura introduziu-me neste período da vossa vida: um período difícil, cheio de tensões, que é doloroso não só para vós, mas também para as vossas famílias”, começa por escrever o Santo Padre.

Lembrando-lhes que “Pedro e Paulo, discípulos de Jesus, também estiveram presos”, Francisco realça ter sido a oração que “os sustentou, não deixando cair no desespero”. “Oração pessoal e comunitária: eles rezaram e, por eles, se rezava. Dois movimentos, duas ações que geram entre si uma rede que sustenta a vida e a esperança e incentiva-nos a prosseguir o caminho”, precisa o Papa, evidenciando aos detidos no Estabelecimento Prisional de Faro que a sua oração, bem como a dos seus pais e restantes familiares constitui “uma rede, que vai levando a vida para diante”.

“Conversai com o sacerdote que aí vai; conversai com todos os que vêm para falar-vos de Jesus. Na verdade, quando Jesus entra na vida duma pessoa, esta não fica detida no seu passado, mas começa a olhar o presente doutra forma, com outra esperança. A pessoa começa a ver com outros olhos a própria realidade. Não fica fechada no que aconteceu, mas é capaz de chorar e encontrar nisso a força para voltar a começar”, prossegue o Papa, convidando-os a “fixar o rosto de Jesus crucificado” quando se sentirem “tristes, abatidos”.

“Todos podemos colocar junto d’Ele as nossas feridas, as nossas dores e também os nossos pecados, tantas coisas em que podemos ter errado. Nas chagas de Jesus, encontram lugar as nossas chagas; porque todos estamos chagados, duma maneira ou doutra. E então que fazer? Levar as nossas chagas até às chagas de Jesus. Para quê? Para serem curadas, lavadas, transformadas, ressuscitadas. Ele morreu por ti, por mim, para nos dar a mão e levantar-nos. Jesus sempre vos quer levantar”, desenvolve Francisco, concluindo: “Peço a Jesus que vos conceda a sua força, a sua paciência, a sua ternura, ao abençoar-vos a todos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A elaboração de desenhos e poesias daqueles detidos resultou de um workshop levado a cabo, de 06 de abril a 25 de maio deste ano, no Estabelecimento Prisional de Faro pela equipa da Pastoral Penitenciária daquela cidade, que integra o Setor da Pastoral Prisional da Diocese do Algarve. Na altura, aquela equipa explicou ao Folha do Domingo que o objetivo da iniciativa foi fazer chegar o seu serviço a detidos que se autoclassificam como “pessoas agnósticas”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Os trabalhos que resultaram daquela iniciativa foram apresentados na exposição, intitulada “É preciso que todas as crianças possam sorrir”, que teve como finalidade celebrar o Dia Mundial da Criança (1 de junho) e sensibilizar a comunidade para a importância dos seus direitos. A mostra esteve patente nas paróquias de São Luís e de São Pedro de Faro.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A equipa – que tem como assistente o cónego Carlos César Chantre – é composta só por membros católicos – incluindo duas irmãs missionárias da caridade, popularmente conhecidas como irmãs de Calcutá – mas tem promovido o diálogo com as outras denominações cristãs e com outras religiões para que seja também providenciada a assistência religiosa a reclusos crentes, mas não católicos.

Exposição de desenho e poesia de reclusos do Estabelecimento Prisional de Faro promovida pela Diocese do Algarve