O reitor do Seminário da Diocese de Segóvia (Espanha) exortou o clero do sul a “uma espiritualidade presbiteral em chave sinodal”.
O padre Juan Cruz Cuesta, daquela diocese espanhola, abordou esta terça-feira o tema “O pastor: homem de fé enraizado em Deus” na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que está a decorrer em Albufeira desde segunda-feira.

Aquele sacerdote defendeu que a “espiritualidade presbiteral em chave de sinodal” é uma “espiritualidade enraizada em Deus”, explicando que “o conhecimento de Deus não deve ser exclusivamente intelectual, mas existencial, envolvendo todas as faculdades da existência humana”. “A relação com Deus é o enxerto que nos mantém dentro de um vínculo de fecundidade”, alertou.
O orador lembrou que o processo do último sínodo insistiu muito na necessidade da formação em sinodalidade, especialmente dos ministros, referindo-se a “uma cultura e uma espiritualidade sinodais animadas pelo desejo de conversão”. “A formação para uma espiritualidade sinodal está no coração da renovação da Igreja”, acrescentou.
Por outro lado, o padre Juan Cuesta referiu-se às dimensões “comunitária” e “missionária”, salientando que a sinodalidade insiste nas duas.
O formador destacou que “dentro da espiritualidade batismal”, comum a todos os batizados, “o sacerdote, através do sacramento da Ordem recebido, é chamado também a alcançar a perfeição com uma espiritualidade específica”. “Os sacerdotes diocesanos não têm de procurar fora da sua identidade e do seu ministério uma espiritualidade emprestada que os ajude a viver a sua vocação. No próprio ministério encontramos uma espiritualidade específica e própria”, afirmou, explicando que essa espiritualidade “para além de ser definida e delineada pela identidade é alimentada pelo próprio exercício do ministério”.

Neste sentido, referiu o “exercício do ministério como via central para a configuração da espiritualidade presbiteral”. O sacerdote caraterizou esta como uma “espiritualidade de comunhão”, uma “espiritualidade ecuménica” que, no exercício do ministério, se manifesta na “superação de preconceitos e num sincero desejo de conversão e na busca de reconciliação e perdão”, uma “espiritualidade de conversação do espírito e do discernimento”, uma “espiritualidade ecológica” que “pode ajudar o sacerdote a viver a pobreza evangélica e a situar-se frente ao mundo cada vez mais consumista e acelerado” e uma “espiritualidade da fidelidade e da confiança”.
O padre Juan Cuesta disse ainda que as “três características que definem a identidade do presbítero diocesano” são “a sacramentalidade, a diocesanidade e a secularidade”. Relativamente à primeira, lembrou que “o sacramento da Ordem converte o ministro na representação sacramental de Jesus Cristo” e que “a sacramentalidade do ministério está radicada na sacramentalidade da Igreja”.
Sobre a segunda, referiu que “a incardinação numa Igreja particular não é só um ato jurídico, mas uma expressão dessa dimensão eclesial do seu ministério”. “É no seio da Igreja local que o presbítero vive uma série de relações que vão configurando também o seu ser sacerdotal”, acrescentou, explicando ainda que “a relação entre os padres e o bispo é de natureza sacramental e pertence à natureza do sacramento da Ordem”. “Não se trata de uma relação estabelecida por estratégias de poder ou de funcionalidade”, completou.
Aludindo à relação entre presbíteros explicou que eles participam de “uma íntima fraternidade sacramental” e sobre a “relação que se estabelece como resto do povo de Deus, com os leigos”, acrescentou que “o sacerdote é irmão entre irmãos, mas em virtude do sacramento da Ordem é constituído pai e professor à frente da comunidade cristã”. “É neste âmbito da diocesanidade que o presbítero melhor pode combater o individualismo e a solidão”, prosseguiu, acrescentando: “não seremos fiéis ao plano de salvação de Deus se a nossa vida permanecer separada da vida dos homens, aos quais somos enviados”.
O sacerdote concluiu ser “neste triplo âmbito de relação que é chamada a viver-se mais intensamente a sinodalidade”.