
O padre Pedro Rocha Mendes veio lembrar às religiosas das congregações e institutos de vida consagrada que trabalham no Algarve que neste Ano Santo da Misericórdia, iniciado pelo papa Francisco no passado dia 6 deste mês, devem transformar-se interiormente.
“O Senhor este ano pede a cada um de nós, e principalmente a nós consagrados, uma renovação, uma transformação interior, uma conversão para que aquilo que nós fazemos seja aquilo que Ele nos pede”, afirmou o sacerdote, também ele membro de um instituto religioso – a Companhia de Jesus –, que orientou o dia de recoleção promovido no passado domingo pelo Secretariado Regional do Algarve da CIRP – Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, com a participação de 28 consagradas.

“Muitas vezes, – para não dizer todas –, vamos ter de renunciar à nossa vontade”, alertou o orador, que abordou o tema “Misericórdia e Vida Consagrada”, explicando que importa purificar a intenção com que se age no dia-a-dia. “A nossa tendência é, às vezes, a de sermos «funcionários» de Deus. Já estamos tão práticos, já sabemos tantas coisas que executamos um plano de tarefas. E somos ótimos! Não é que isso não seja bom… A caridade faz sempre o bem, se fizer bem ao outro. Mesmo que a nossa intenção não seja boa, se o outro for beneficiado já fizemos o bem. No entanto, podemos purificar a nossa intenção. O que este ano nos convida é a sentirmos mais profundamente este amor com que somos amados, para que aquilo que transmitimos seja mais autêntico e verdadeiro”, explicou.
E o padre Pedro Rocha Mendes advertiu que ninguém pode dar o que não tem. “Aquilo que o Senhor nos pede que ofereçamos aos outros é alguma coisa que só podemos dar se a tivermos em nós. Se, de alguma forma, não tivermos feito experiência de a ver a nossa vida tocada por esta misericórdia, provavelmente aquilo que vamos oferecer aos outros é caridade, condescendência, é dar aquilo que temos e que é bom, mas não é aquilo que o Senhor nos pede mais profundamente”, alertou, destacando que se alguém não quiser receber a misericórdia de Deus, Deus não a dará. “É preciso que a queiramos receber e que a peçamos para que Deus no-la dê”, evidenciou.

Com base na bula do papa “Misericordia vultus” (‘O Rosto da Misericórdia’) para este Ano Santo, o sacerdote jesuíta lembrou a importância dos critérios da autenticidade e da credibilidade. “As pessoas vão olhar para nós e vão reconhecer Deus em nós se nós formos como Ele. Portanto, o critério de autenticidade da nossa fé passa muito pela maneira como agimos para o exterior”, alertou.
O orador, com mestrado em Teologia Dogmática, Ciências Religiosas e Educação Moral e Religiosa Católica e coordenador da pastoral juvenil dos jesuítas em Portugal, salientou que no Ano Jubilar todos são convidados a renovar as bem-aventuranças e nesse contexto destacou a quinta que diz que serão “felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”. “É muito curioso que os misericordiosos alcancem misericórdia porque para serem misericordiosos têm já de ter sido alcançados pela misericórdia. Só alguém que foi tocado pela misericórdia é que pode depois ser misericordioso”, constatou, destacando também as obras de misericórdia corporais e espirituais.
O sacerdote aconselhou ainda os consagrados a “pôr os nossos olhos na Palavra de Deus” e também a deixarem-se “inspirar” por aquilo que for sendo escrito durante este ano.

O padre Pedro Rocha Mendes desafiou os consagrados a pedirem neste Jubileu a graça de se comoverem profundamente com a misericórdia que Deus tem em relação a si mesmos e aconselhou-os a não caírem nos dois “extremismos do farisaísmo ou da culpabilidade”: “a considerar que o mal está sempre nos outros ou sentir que se é tão débil e frágil que já não se sente necessidade de Deus”. “O ideal era conseguirmos estar a meio: conscientes da nossa fragilidade e ao mesmo tempo sabendo que necessitamos do perdão de Deus”, considerou.
No encontro de domingo, que contou também com uma introdução feita pelo bispo do Algarve, também ele membro de um instituto religioso – os Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (dehonianos) –, as consagradas tiveram alguns momentos de reflexão pessoal e puderam receber o sacramento da reconciliação. De tarde, recitaram o Terço da Misericórdia e, após um momento de partilha, fizeram adoração ao Santíssimo Sacramento.
O encontro, realizado também no contexto do Ano da Vida Consagrada, proclamado pelo papa Francisco e que a Igreja está a viver até 2 de fevereiro de 2016, terminou com a participação na eucaristia de abertura da Porta Santa na Sé de Faro, presidida por D. Manuel Quintas.