© Samuel Mendonça
© Samuel Mendonça

A Igreja Católica algarvia decidiu que a renúncia quaresmal deste ano dos seus membros terá dois destinos: o apoio à construção da igreja do vicariato da Pedra Mourinha em Portimão e o “Projeto + Criança”, uma rede de Centros de Recuperação Nutricional na Guiné-Bissau.

A informação foi adiantada pelo bispo do Algarve na sua mensagem para a Quaresma que começou na Quarta-feira de Cinzas e na celebração eucarística a que presidiu naquele dia na catedral de Faro.

Obra da igreja do vicariato da Pedra Mourinha © Samuel Mendonça
Obra da igreja do vicariato da Pedra Mourinha © Samuel Mendonça

D. Manuel Quintas explicou que este ano, ao contrário do que aconteceu nos últimos quatro, a renúncia quaresmal não beneficiará, através do Fundo Diocesano Social, as famílias algarvias vítimas do desemprego porque esses destinatários serão contemplados através do Fundo Social Solidário da Conferência Episcopal Portuguesa. “Estamos a beneficiar do Fundo Social da Conferência Episcopal para continuar a apoiar aquelas famílias, uma vez que há muita gente no Algarve que também contribui para ele”, justificou.

Salão da obra da igreja do vicariato da Pedra Mourinha © Samuel Mendonça
Salão da obra da igreja do vicariato da Pedra Mourinha © Samuel Mendonça

Lembrando que a decisão dos destinatários da renúncia quaresmal foi indicada pelo Conselho Presbiteral, o prelado referiu-se à necessidade do vicariato do Sagrado Coração de Jesus, na zona da Pedra Mourinha, em Portimão, concluir a construção da igreja iniciada em março de 2006, um projeto que já tinha beneficiado da renúncia quaresmal da Igreja algarvia em 2007. “É uma comunidade necessitada de ajuda urgente. Começaram a construir a igreja, construíram apenas o salão que fica por baixo da igreja e, por cima, não foi feita uma placa para proteger da chuva e agora está a entrar água e estão a celebrar com perigo de chover”, contou.

Lembrando que a renúncia deve “ter em conta, não apenas os que estão perto, mas também os que estão longe”, D. Manuel Quintas referiu-se igualmente ao projeto da Guiné-Bissau. O bispo diocesano, que apelou à “generosidade de todos”, lembrou que os contributos podem ser feitos através de depósito bancário (NIB 001800000617213600178).

O “Projeto + Criança” da Igreja local, que inclui 25 centros dispersos por todo o território das dioceses de Bafatá e Bissau, geridos por congregações religiosas e sob a coordenação da Cáritas do país, abrange cerca de 60.000 crianças, 10.000 famílias e 320 comunidades.

Centro de recuperação nutricional da Guiné Bissau
Centro de recuperação nutricional da Guiné-Bissau

Os Centros de Recuperação Nutricional foram criados pelo padre e médico Alfredo Zamberletti, chegado à Guiné-Bissau logo após a independência (1974), fixando-se em Gabú, no leste do país. O apoio aos centros da Igreja Lusófona surgiu por intermédio e desafio da Fundação Fé e Cooperação (FEC), uma organização não-governamental para o desenvolvimento da CEP, que assinala 25 anos este ano.

“O facto desta zona interior ser uma das que ainda hoje apresenta dos piores indicadores de saúde do país levaram à criação destes centros, assim como das Casas das Mães, com o objetivo de fazerem face às situações de desnutrição grave de crianças e grávidas e promoverem a educação alimentar e, assim, melhorarem a utilização dos escassos recursos alimentares disponíveis a nível local”, explica a FEC.

“Dada a reconhecida dificuldade de acesso da população da Guiné Bissau a cuidados de saúde, quer por motivos geográficos (distância e dificuldades de transporte), quer por motivos económicos (incapacidade de pagar as deslocações e os cuidados), quer por debilidade dos serviços públicos de saúde (escassez de recursos humanos qualificados e de equipamentos e diminuta capacidade financeira), as populações recorrem aos centros na expetativa de acederem a cuidados que muitas vezes vão para além dos que aqueles podem prestar (por falta de recursos ou capacidade). Neste contexto, a existência destes centros constitui um importante recurso face às condições de vida da população que importa valorizar”, acrescenta a organização.

O “Projeto + Criança” procurará então “potenciar o trabalho dos centros no âmbito da vigilância à situação da criança, vigilância nutricional e de saúde, acesso a registo, educação parental, sistema de referenciação e encaminhamento de situações de risco, melhorando as suas infraestruturas e equipamentos, em especial dos que apresentam mais necessidades”.

Para além da do Algarve, as restantes dioceses portuguesas que aderiram ao desafio da FEC são Bragança-Miranda, Funchal, Guarda, Lamego, Leiria-Fátima, Porto, Santarém, Setúbal e Vila Real.

O bispo do Algarve informou ainda que a renúncia quaresmal de 2014 atingiu a quantia de 14.274 euros. “Baixou bastante esta quantia no último ano, o que reflete as dificuldades por que passamos todos nestes últimos anos. Mas isso não impede que a nossa partilha vá ao encontro de outros que têm mais necessidades ainda do que nós”, afirmou D. Manuel Quintas na passada quarta-feira.

O prelado indicou ainda que, no âmbito do Fundo Diocesano Social, “foram atendidos 278 processos, devidamente selecionados e acompanhados pela comissão encarregada, com a distribuição de 170.757 euros”.

A renúncia quaresmal é uma prática habitual na Igreja Católica durante o período que serve de preparação para a Páscoa. Os fiéis são convidados a privar-se de bens supérfluos em favor das populações mais desfavorecidas e a entregar esse montante à sua diocese, que o encaminha para um projeto à sua escolha.