© Samuel Mendonça
© Samuel Mendonça

O padre Pedro Manuel, em declarações a Folha do Domingo, defendeu uma reorganização da estrutura da Diocese do Algarve após um período de reflexão numa “perspetiva de sinodalidade e comunhão”.

O sacerdote, responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, mostra-se “apologista” da junção de serviços diocesanos que têm destinatários comuns e da conjugação de iniciativas, evitando um certo “desgaste pastoral”.

“Acho que está a chegar o momento de nos sentarmos, numa perspectiva de sinodalidade e comunhão, e de pensarmos em que medida é que as nossas atividades podem conjugar-se e encaixar-se. Sou da opinião que o nosso trabalho seria muito mais exequível se houvesse uma maior coordenação de estruturas. Se calhar ganharíamos muito mais (até a nível de frutos espirituais e pastorais) se não tivéssemos os serviços da nossa diocese tão compartimentados. Temos de descobrir caminhos comuns”, sustentou, defendendo “menos estruturas e mais comunhão”.

“A nível diocesano ainda não tivemos a coragem de nos sentarmos, não só para conjugar datas, mas para conjugar iniciativas, percebendo que uma mesma iniciativa, quando partilhada e dividida, pode dar os mesmos frutos que outra iniciativa que está a ser feita em paralelo”, considerou, lembrando haver um “conjunto de trabalhos paroquiais que poderiam deixar de existir se houvesse uma comunhão de esforços a nível vicarial ou de circunscrição civil (concelho)” e, “muito mais”, a nível diocesano. “Evitar-se-ia a agitação pastoral e um certo desgaste pastoral”, considera.

O sacerdote entende que se continuam a manter hoje estruturas de há 30/40 anos que “têm muito sabor clássico” e que naquele tempo constituíam uma “novidade”. “Hoje não é assim. Até o tipo de vocabulário que utilizamos é um bocado desencarnado da vida das pessoas”, adverte.

“Hoje mantemos, com um número diminuto de padres, estruturas onde é necessária a presença presbiteral como se fossemos os mesmos padres de há 20 anos atrás. Continuamos a responder cada um pela sua capela e era necessário que nos deixássemos atualizar à luz do Espírito Santo”, evidencia, admitindo haver “muita coisa boa” na atual estrutura. “É preciso saber o que é que o Espírito Santo nos vai pedindo. Se começamos a achar que os nossos jovens não nos respondem (e eu até acho que respondem a muito), é porque, se calhar, não estamos a captar que estamos a dar coisas demais, apesar de ser tudo muito bom. É que podemos estar a obrigar os nossos adolescentes e jovens a viverem numa certa agitação pastoral parecida à nossa. Damos em excesso e tudo com muita qualidade, mas não chega a surtir o efeito que gostaríamos que surtisse”, acrescentou.

Também o bispo do Algarve alertou na última Quarta-feira de Cinzas para os perigos da “agitação pastoral”. D. Manuel Quintas criticou a “agitação pastoral” que não é “ação pastoral” e que leva a esquecer os outros. “Por vezes, sofremos – eu também, como bispo – desta azáfama e esquecemo-nos de olhar os outros, olhos nos olhos, como irmãos que somos da mesma família e de estarmos atentos àqueles que precisam da nossa ajuda e de nos unirmos para responder a essas necessidades”, lamentou.

A necessidade de um caminho sinodal é igualmente uma constatação recorrente. A ideia foi apresentada nas conclusões do simpósio sobre o Concílio Vaticano II que a Igreja Católica algarvia realizou em Faro em novembro passado. Pediu-se naquele documento uma “atitude de conversão permanente” e que os cristãos algarvios continuem a percorrer “caminhos da Sinodalidade, da Colegialidade e da fraternidade”, sem descurarem a evangelização, “particularmente dirigida às periferias existenciais, às famílias e aos jovens”, uma proposta saída da intervenção do padre António Manuel Martins naquele simpósio. “A celebração dos 50 anos do concílio neste simpósio poderá constituir momento para redescobrimos a herança conciliar mas também para nos projetarmos num caminho de renovação e na perspetiva de convocação de um possível sínodo”, afirmou o sacerdote.