

Entrevistada por Folha do Domingo em 2010, Sandra Matinhos testemunhava a dimensão terapêutica da espiritualidade e uma invulgar capacidade de aprendizagem com o que lhe tinha trazido um cancro, diagnosticado dois anos antes. Agora, passados quatro anos, escreveu um livro – que foi ontem apresentado em Faro – para ajudar outros a conseguir fazer o mesmo.
“O que destrói o homem não é o sofrimento, mas o sofrimento sem sentido”, advertia ontem à tarde, na sessão de apresentação da publicação que decorreu no bar “O Castelo”, a enfermeira Andreina Tavares do serviço de oncologia do Centro Hospitalar do Algarve que acompanhou Sandra Matinhos no seu tratamento, explicando que a autora “deu um sentido” a essa etapa da sua vida e “conseguiu ver para além das nuvens”.
A própria Sandra Matinhos, numa alusão à capa do livro trazido a lume pela Chiado Editora com o título “O meu cancro morreu e eu renasci”, foi mais contundente e garantiu que a pessoa que existia antes da doença «morreu», tendo renascido uma outra, “especial”, porque se apuraram em si “determinadas caraterísticas” que a tornaram “mais viva, mais atenta aos pormenores da vida e aos sentimentos”. “Comecei a viver em amor. Comecei a sentir que o amor é o caminho das pessoas, é aquilo que nos une. Vivo em amor e vivo em gratidão. Todos os dias, e muitas vezes ao dia, agradeço a Deus por tudo. Não há como não ser assim. Pelo facto de Deus me ter dado uma segunda oportunidade de viver, a partir daí eu só tenho de agradecer estar viva”, afirmou, perante muitos familiares e amigos presentes.

A autora, que lembrou o “muito tempo dedicado” ao livro, as “muitas horas de escrita” e ter sido necessária “muita coragem para o fazer”, explicou que os dois motivos que a levaram a empreender a obra foi “dar informação às pessoas” e partilhar com elas os “ensinamentos” que o cancro lhe trouxe. “Acho que é muito importante mostrar que um cancro não traz só coisas más. É verdade que traz sofrimento e dor, mas temos de aprender a relativizar os problemas e a transformá-los em algo positivo para nós. E isso aplica-se a uma pessoa que tem um cancro como a outra situação da vida. Há que aprender a tirar o lado positivo dos ensinamentos”, destacou, reconhecendo que, para si própria, a realização do livro “foi uma verdadeira terapia”.

Sandra Matinhos, com 41 anos, diz que o ter começado a “viver em amor” refletiu-se, sobretudo, na dimensão solidária que a sua vida adquiriu. Encetou nos últimos anos um trabalho de apoio a doentes oncológicos que culminou na fundação da associação “Partilhas” que começou por ajudar alguns sem-abrigo. “É algo que estou fazer com muito amor”, reconheceu.

Sobre a publicação agora apresentada, que foi incentivada a escrever pela psicóloga Ana Sofia Baptista que a acompanhou durante o seu tratamento e que ontem também esteve presente, Sandra Matinhos espera que seja um livro capaz de “tocar a todos”. “Tentei escrever um livro simples e leve, com uma escrita acessível”, conta sobre a edição que contém ainda uma carta dirigida a um doente oncológico e que poderá ser destacada pelo remetente para esse fim.
