Cabido projeta também a construção de um panteão para os bispos do Algarve

A Sé de Faro vai entrar em obras que visam o restauro do forro da cobertura e a recuperação das pinturas dos caixotões do teto da capela-mor.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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“Constatámos que, quer o forro do teto do corpo da Sé – incluindo o madeiramento e a sua pintura –, quer as paredes, estão já num estado degradado. Portanto, era necessário fazer-se uma intervenção, inclusivamente tentando ver se haverá uma cor anterior que o torne mais claro e mais leve”, explicou ao Folha do Domingo o deão do Cabido da catedral, sublinhando que a obra será realizada “em diálogo com a Direção Regional de Cultura do Algarve [DRCAlg] que está a acompanhar” o projeto.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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O cónego Mário de Sousa acrescentou que, para além da recuperação do tabuado e da pintura, a intervenção terá em vista também a “possibilidade de se enriquecer as molduras que ornamentam esse forro, de acordo também com aquilo que estiver por debaixo da tinta atual”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Relativamente às pinturas dos caixotões da abóbada de berço da capela-mor, que lembrou terem sido alvo da última grande campanha de obras da catedral sob a tutela da então Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, o sacerdote constatou que já “estão muito degradadas e muito desfeitas” e disse ser necessário “ver como integrar os motivos florais” que ali se vislumbram.

Segundo o cónego Mário de Sousa, a montagem dos andaimes, que tem estado a decorrer nas últimas semanas para que a obra tenha início já na próxima, permitiu perceber que “as janelas-clarabóias que estão na capela-mor já têm o madeiramento todo danificado e vão ter de ser intervencionadas também”.

Imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Sé de Faro
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Imagem de Nossa Senhora da Assunção • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Imagem de S. Pedro • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Imagem de S. Paulo • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Após esta primeira fase da intervenção na igreja de Nossa Senhora da Assunção, aquele responsável adianta que a segunda ordem de trabalhos compreenderá o restauro do retábulo do altar-mor, incluindo das suas três imagens – a padroeira, São Pedro e São Paulo – “que estão muito enegrecidas pelo tempo e pelo fumo” e “também do tondo, ou seja, da tela que representa a coroação de Nossa Senhora e que encima o retábulo”, “das telas do cadeiral do apostolado, assim como do próprio cadeiral que já se encontra também num estado a precisar de intervenção”. “Para além disto, será também feita a impermeabilização do telhado porque se nota a passagem de humidades, sobretudo na capela-mor, que depois vão degradar as pinturas a ouro que lá estão”, acrescentou.

Parte do cadeiral da Sé de Faro

O deão explicou que as obras, cujo orçamento disse ser de quase meio milhão de euros, serão “custeadas inteiramente pelo Cabido” e têm um prazo previsto de seis meses. “Confiamos que as coisas estarão prontas antes disso, se tudo ocorrer como deve ser”, desejou o sacerdote, consciente de que possa haver “surpresas” que levem as intervenções a tornarem-se “mais morosas”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Os trabalhos irão coincidir com a época de maior número de visitas, mas tanto estas como as celebrações da vida pastoral da paróquia de Sé continuarão a poder ser realizadas, embora com muitas limitações. “Em conversação com o pároco da Sé, que também é membro do Cabido, viu-se a melhor solução e o culto continua neste momento numa das alas laterais da igreja”, assegurou o cónego Mário de Sousa, explicando que o combinado com o empreiteiro é que a intervenção seja faseada, numa nave de cada vez, deixando as restantes duas livres para possibilitar a continuidade quer do culto, quer das visitas.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O deão do Cabido catedralício adiantou ainda que, “tendo em conta a valorização da catedral”, tem vindo a ser intervencionada nos últimos meses a sala capitular, ao lado da capela do Santíssimo Sacramento, “que depois também será mais um espaço visitável”.

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O cónego Mário de Sousa explicou ainda que a orçamentação de quase 500 mil euros inclui igualmente a recuperação das fachadas principal e lateral (na Rua do Município) do Paço Episcopal, trabalho que inclui o reboco e a pintura.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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No exterior da catedral foi também construída uma rampa de acesso para pessoas com mobilidade reduzida, faltando abrir no gradeamento o acesso ao claustro.

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O projeto e a obra estiveram a cargo da Câmara de Faro que destaca “permitir dar respostas às exigências atuais de acessibilidade aos edifícios públicos, nomeadamente facilitando o acesso a pessoas com mobilidade reduzida a este edifício de reconhecido interesse religioso e turístico”. O investimento total da estrutura metálica foi de 114.139 euros.

A última grande intervenção na Sé de Faro foi realizada de outubro de 1999 a 2 de fevereiro de 2003, dia em que teve lugar a sua reabertura depois de quase três anos e meio encerrada ao culto e a visitas. Na altura foi feita a dedicação de o atual altar e a inauguração do renovado espaço litúrgico, com a bênção da cátedra, bem como das restantes peças do presbitério, como o ambão.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Classificado como Imóvel de Interesse Público, a catedral de Faro, antiga igreja de Santa Maria de Faro, foi construída na segunda metade do século XIII, após a reconquista cristã, sobre o local onde se situaria uma mesquita no período árabe que, por sua vez, teria sido edificada sobre edifícios do forum da romana Ossónoba adaptado a templo cristão sob o domínio visigótico.

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Em 1271, o templo foi entregue à Ordem de São Tiago como recompensa pelos serviços prestados na tomada da povoação. Foi elevada a Sé no século XIV, época em que sofreu algumas ampliações, durante o reinado de D. Dinis.

Em 1577, a Sé de Faro foi elevada a sede episcopal da Diocese do Algarve, substituindo a de Silves. Conhece sucessivas fases de obras, sendo a atual configuração o resultado do grande restauro acontecido depois do incêndio provocado em 1596 pelas tropas inglesas de Robert Devereux, conde de Essex, e das reparações impostas pelos terramotos de 1722 e 1755.

Panteão dos bispos do Algarve

O Cabido da Sé de Faro está a projetar a construção de um panteão para os bispos do Algarve no claustro daquela catedral.

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Capelas dos ossos (E) e do arcanjo S. Miguel (D) • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Interior da capela dos ossos • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Interior da capela do arcanjo S. Miguel • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
Interior da capela do arcanjo S. Miguel • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O deão da Sé adiantou ao Folha do Domingo que o projeto está em fase de estudo e a ser acompanhado pela Direção Regional de Cultura do Algarve e contempla a construção daquele espaço na capela dos ossos ou na capela do arcanjo São Miguel, onde se passarão a depositar os restos mortais dos bispos da diocese que atualmente estão em várias zonas.

“Neste momento há uma cripta onde está o corpo do D. Marcelino [Franco, bispo do Algarve entre 1920 e 1955] e também as urnas com os restos mortais de alguns outros bispos, mas que não tem condições para poder conservar com dignidade os corpos dos bispos do Algarve porque é muito húmida, nem é visitável”, justificou.

A cripta

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo/Arquivo
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A urna de D. Marcelino Franco • Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo/Arquivo

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O cónego Mário de Sousa adiantou ainda que o projeto do futuro panteão, que disse ser “habitual em todas as sés”, visa também “proteger aquilo que ainda existe da capela dos ossos com a construção de uma cobertura”.