O secretário-geral do Sínodo dos Bispos disse hoje ao clero do sul do país que o Papa Francisco “estabeleceu uma ligação explícita entre a catequese e o processo sinodal”.

“Para o Papa, portanto, o Sínodo é catequese, evangelização. É assim porque cada viagem sinodal, se corretamente compreendida e vivida, é uma escola do Evangelho, um campo de treino para a vida cristã e uma experiência da Igreja. Poderíamos também inverter os termos e acrescentar: a catequese é um Sínodo”, afirmou o cardeal Mario Grech, explicando que a catequese “tem sempre um horizonte sinodal, metodologia e perspetiva”.

Aquele responsável disse aos bispos, padres, diáconos e seminaristas das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal — reunidos desde ontem em Albufeira para quatro dias de atualização sobre o tema “Igreja Sinodal, uma Igreja atenta aos Sinais dos Tempos” — que “assumir na catequese uma perspetiva sinodal significa, em primeiro lugar, tomar consciência de que a catequese não é obra de alguns especialistas” – os catequistas – “mas de todos, porque toda a comunidade cristã é, por natureza, evangelizadora”.

“O que isto significa na prática? Essa catequese, se quiser assumir um estilo sinodal, terá de aprender cada vez mais para se caraterizar pelo envolvimento comum de diferentes atores: não só o catequista, mas também o padre e o diácono, o homem e as mulheres consagrados, o animador da liturgia e do maestro do coro, o leitor e o acólito, o responsável pelo oratório e o treinador desportivo, os trabalhadores da caridade, mas também as famílias, os doentes, as pessoas frágeis, os pobres”, complementou na terceira intervenção sobre o tema “Sinodalidade e Missão. A Igreja existe para evangelizar”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador explicou, assim, que deve ser “toda a Igreja que deve comprometer-se com a formação contínua dos seus membros” porque “todas as comunidades são, ao mesmo tempo, catequizadas e catequizantes, e aqueles que nelas foram formados são naturalmente levados a tornarem-se próprios formadores”. “Para o Papa, o protagonismo de todos os crentes no trabalho de evangelização não representa uma concessão de cima, nem a resposta de emergência à escassez de ministros ordenados e trabalhadores pastorais”, sustentou, garantindo que “esse protagonismo tem uma raiz teológica precisa, a mesma que sustenta a eclesiologia sinodal: é a consciência de que o batismo, como o primeiro grande sacramento sacerdotal – na medida em que confere uma participação real no sacerdócio de Cristo – permite a todos a missão eclesial”.

O cardeal maltês acrescentou que “uma catequese sinodal é a que faz uso do contributo de muitos, permitindo que cada membro dos fiéis exerça o profeta múnus com que o batismo e a confirmação o dotam”. “Uma vez que todos os batizados são ensinados por Deus e têm intuição sobrenatural, todos podem e devem desempenhar um papel na educação na fé, independentemente do seu nível de educação”, prosseguiu, advertindo que “uma catequese que não é muito sinodal – isto é, levada a cabo apenas por alguns, sem que a comunidade esteja ativamente envolvida na tarefa da formação cristã dos seus membros – não é apenas uma catequese que é quantitativamente mais escassa, porque é afeta a alguns (muitas vezes idosos ou sobrecarregados com muitas outras tarefas pastorais), mas também é uma catequese mais pobre em qualidade, porque privada da contribuição dos diferentes carismas que enriquecem a comunidade”, desenvolveu.

O orador sugeriu ainda três caraterísticas para uma catequese orientada para o Sínodo. Primeiramente referiu que “a catequese é uma questão de educar para perceber a fé como um dom comum, que nos liberta de nós mesmos e nos insere numa nova realidade, o Povo de Deus”. Em segundo lugar, enumerou uma catequese que “ensina a compreender os sacramentos da iniciação cristã como os momentos fundadores da identidade cristã”. “Se hoje a mentalidade clerical aflige os povos clericais e leigos com graus diferentes, determinando uma centralização do poder nas mãos de ministros ordenados, é porque a nossa catequese também educou os batizados a conceberem-se como recetores passivos, para não assumir conscientemente as responsabilidades que a iniciação cristã lhes atribui precisamente. Afinal, é um novo olhar sobre os batizados que a conversão sinodal exige”, explicou.

Nesse sentido, referiu que “o Santo Padre pretende «redimir» o batismo de uma longa temporada de desvalorização e, pode-se dizer, de mortificação”. “Se, na Igreja dos Santos Padres, os «grandes sacramentos» eram o batismo e a Eucaristia, na sequência da clericalização das estruturas eclesiásticas os sacramentos mais importantes, pelo menos na perceção dos fiéis, gradualmente tornaram-se a Eucaristia e o ministério ordenado, ou melhor, sacerdotal, intimamente ligados uns aos outros. O batismo tornou-se, assim, num sentimento ainda generalizado, um «pequeno sacramento», com um efeito inevitável: os batizados perceberam-se cada vez menos Igreja e, ao mesmo tempo, este último era cada vez mais identificado apenas com ministros sagrados. É precisamente contra esta distorção da mentalidade dos cristãos que a catequese deve ser orientada”, esclareceu, acrescentando que “o clericalismo deve ser combatido não só porque dificulta a proclamação do Evangelho no mundo de hoje, tirando energia do trabalho da evangelização, mas mesmo antes porque se origina de uma grave ignorância sobre o valor «eclesificante» do batismo”.

Em terceiro, defendeu uma catequese que “educa na arte do discernimento comunitário”, que “deve ajudar os crentes a escrutinar os sinais dos tempos”, que ajuda a “educar os fiéis para saberem falar na Igreja, não para se afirmarem ou defenderem posições partidárias, mas para contribuirem para discernir a vontade de Deus”.

A concluir a sua reflexão na atualização do clero do sul do país, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos disse que “hoje o maior obstáculo à renovação eclesial é constituído pela resistência à mudança, pela tenacidade dos hábitos consolidados, pela inércia e medo da novidade”. “Através de um método sinodal e de um conteúdo sinodal, a catequese pode contribuir decisivamente para a construção de um estilo sinodal entre os fiéis”, concluiu.