A ‘Missão País’ de estudantes da Universidade do Algarve (UAlg) em Paderne voltou a ser participada não apenas por estudantes católicos, mas também por quem diz não ter fé.

Foi o caso de Joana Fazendas, uma das estreantes naquela iniciativa de voluntariado universitário. Oriunda de Lisboa, aquela estudante do segundo ano de Biologia Marinha na UAlg disse à reportagem de Folha do Domingo ter sido convencida por uma amiga que já o ano passado tinha participado na semana de voluntariado em Paderne. “Quando abriram as inscrições decidi inscrever-me, não sabendo para o que é que vinha. Apesar de no início me sentir um pouco deslocada por ser a única pessoa aqui que não é católica, ao longo da semana todos me fizeram sentir muito incluída. Gostei mesmo muito e acho que saio daqui uma pessoa muito diferente”, relatou, ressalvando continuar com a sua perspetiva em relação à fé.
“A maior parte [dos participantes] vem com o objetivo de transmitir a mensagem de Deus e de evangelizar, mas não é só isso. O importante é estarmos aqui a ajudar e achei isso muito cativante e por isso é que vim. As orações, nas quais que se falou sobre assuntos muito gerais e que dizem respeito a todas as pessoas, fizeram-me pensar muito e sei que vou sair daqui com outros objetivos”, garantiu, explicando estar “muito feliz e realizada”.
A realidade de Joana Fazendas contrasta, no entanto, com a da maioria dos participantes. Catarina Gingeira, aluna do 3º ano de Enfermagem, explicou ao Folha do Domingo que também só este ano teve oportunidade de participar. Aquela jovem de Monchique contou ter tido contacto com a ‘Missão País’ na sua paróquia em 2019 e que esse contacto a motivou a fazer a experiência que disse ter sido “incrível”.
Catarina confessou que o voluntariado foi sempre algo que desejou fazer e disse que a relação com a Igreja foi sempre uma realidade na sua vida. “Os meus pais sempre foram bastante católicos, a minha irmã mais velha fez todo o percurso de catequese e eu também”, testemunhou, acrescentando que, tendo deixado o grupo de jovens quando entrou na universidade, tenciona agora voltar a integrá-lo.

Quem também se estreou no projeto foi Guilherme Bacôco, estudante de Engenharia Informática, que pertence à paróquia da Sé de Faro desde o 1º ano de catequese. Foi no grupo de jovens paroquial que teve conhecimento da ‘Missão País’, uma experiência que “sempre quis fazer”.

Embora composto por um grande número de estreantes, o segundo ano de ‘Missão País’ em Paderne também se fez com repetentes. Uma delas foi Margarida Dentinho, de Setúbal, estudante de enfermagem em Lisboa que participou o ano passado pela primeira vez, também convencida por uma amiga. “Gostei tanto da experiência que repeti”, contou, explicando ter crescido em ambiente católico familiar.
Mas o recordista de participações no contingente deste ano foi Fábio Guerreiro, que participou na anterior missão de estudantes da UAlg no concelho de Alcoutim em 2022 e em 2023 como chefe de serviço e que o ano passado foi um dos dois chefes gerais da edição inaugural em Paderne. Nesta sua quarta ‘Missão País’ foi chefe de oração e garantiu que continua a surpreender-se. “É sempre diferente. Todos os anos, com dinâmicas, às vezes, tão semelhantes, os sentimentos que temos são tão diferentes. Talvez pelo estado de espírito que temos, talvez pelo Evangelho escutado, talvez pelas decisões dos chefes, talvez pelos próprios missionários e pelo próprio ambiente. É incrível como esta missão se pode fazer sempre diferente. Embora tenha sido chefe nos últimos anos e já tenha pensado que me vou surpreender pouco, acabo sempre por descobrir que estou errado e que me surpreendo sempre mais do que tinha pensado”, contou.

Este ano a iniciativa de voluntariado estudantil regressou a Paderne, entre 25 de janeiro de 02 deste mês, para cumprir o segundo ano do triénio missionário e somou um recorde de participação, contando com 40 missionários, aos quais se juntaram os oito chefes da missão, o padre António de Freitas, assistente espiritual, e o diácono Bruno Valente, perfazendo um total de 50 elementos.

A ‘Missão País, este ano sob o lema ‘Não se perturbe o vosso coração!’, aproveitado do Evangelho segundo São João, leva cerca de 4.200 participantes, de 60 faculdades, a 73 localidades do país e tem como cor o lilás, que representa o caminho, a inquietação e a transformação.

A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou em 2003 com 20 estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.