Instituição é detentora de um desses acervos que precisa de cuidados de preservação

O Seminário de São José de Faro recebeu ontem um colóquio sobre bibliotecas patrimoniais, sendo que aquela instituição da Diocese do Algarve é ela própria detentora de um daqueles acervos que motivou o encontro.

A iniciativa foi promovida em parceria com a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade do Algarve (UAlg) e a Biblioteca daquela academia e reuniu mais de meia centena de participantes, entre bibliotecários, membros da comunidade científica, agentes culturais e da área do turismo e professores.

Motivada pela existência da biblioteca antiga do Seminário de São José, a ideia do colóquio partiu de um dos organizadores, o historiador Luís Filipe de Oliveira, docente auxiliar convidado da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UAlg e investigador do Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. “O objetivo é conhecer para valorizar” explicou ao Folha do Domingo aquele investigador.

Outra das responsáveis pelo evento, a historiadora Andreia Fidalgo, acrescentou que se procurou reunir um conjunto de investigadores que pudesse refletir sobre as bibliotecas patrimoniais e “chamar a atenção para este tesouro que é esta biblioteca que existe aqui no Seminário e que é desconhecida da maior parte das pessoas”, incluindo de alguns dos oradores do colóquio que, tal como restantes participantes, a puderam visitar no final do encontro.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Segundo aquela docente auxiliar convidada da FCHS da UAlg e investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL), o encontro alertou ainda para o estado do acervo daquela biblioteca que “necessita de alguma atenção, cuidado e intervenção”. “Já há ali livros que estão em mau estado, que necessitam de intervenção urgente”, alertou Andreia Fidalgo.

Explicando que o reitor da instituição, o padre António de Freitas, “está visivelmente empenhado” na recuperação daquela biblioteca, Luís Filipe de Oliveira observou que “o espaço precisa de intervenção na estrutura”. “As estantes e os livros precisam de ser recuperados, mas no decurso do colóquio levantou-se a possibilidade de estabelecer um protocolo com a Biblioteca Nacional e de levar lá o espólio da biblioteca do Seminário para ser intervencionado e expurgado para parar a degradação”, anunciou, explicando que a responsável da Biblioteca Pública de Évora se disponibilizou para intermediar o contato entre as duas entidades.

Evidenciando que aquela intervenção é necessária para que o espaço possa ser mais conhecido, aquele investigador defendeu que “o investimento no património compensa sempre”, dando como exemplo a recuperação do Castelo de São Jorge. “A EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural gastou um milhão de euros no castelo de Lisboa, mas agora tira de lá 15 milhões todos os anos”, contabilizou.

Andreia Fidalgo explicou ainda que o colóquio, apoiado financeiramente por um centro de investigação em ciências do património, reuniu palestrantes não só do Algarve, mas de vários outros pontos do país como Coimbra, Vila Viçosa ou Évora, que “trouxeram experiências valiosíssimas de muitos anos de trabalho” sobre outros acervos como a Biblioteca de D. Manuel II, a Biblioteca Pública de Évora ou a Biblioteca do Liceu de Faro. Inclusivamente estiveram presentes as bibliotecárias que realizaram em 1997 o primeiro inventário da biblioteca antiga do Seminário da Diocese do Algarve.

As conferências foram apresentadas por João Ruas, Zélia Parreira, Patrícia de Jesus Palma, Anabela Estudante, Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão. Para além daqueles casos concretos, a reflexão também incidiu a nível mais geral sobre as coleções patrimoniais nas bibliotecas do Algarve e sobre os caminhos do futuro para o património bibliográfico.