Celebração ficou marcada também este ano pela oração pelas vítimas de abusos
O bispo do Algarve desejou esta tarde que “a luz que brota da cruz de Cristo e a força da sua ressurreição” possa “iluminar a mente e o coração de toda a humanidade, particularmente daqueles que dirigem os destinos dos povos e nações e, sobretudo, aqueles que decidem sobre o seu presente e o seu futuro”.

Na celebração desta tarde de Sexta-feira Santa — em que a Igreja assinala a Paixão e Morte de Jesus perto da hora em que se acredita que Cristo terá morrido — D. Manuel Quintas lembrou “a guerra na Ucrânia e noutras partes do mundo”. “Que com esta luz de Cristo ressuscitado possa levá-los também a acabar com o sofrimento e a morte, poupando tantas vidas inocentes”, desejou na celebração a que presidiu na Sé de Faro.



Considerando que a liturgia da celebração da Paixão do Senhor em tarde de Sexta-feira Santa ajuda a fixar o “olhar de fé no mistério da Cruz”, de modo a entender o seu significado na vida e na missão de Jesus, bem como na vida de cada discípulo seu e na vida da humanidade, o bispo diocesano evidenciou que “a cruz constituirá sempre uma referência insubstituível na vida de Cristo e na vida de cada cristão”. “Só nos será possível entender o sentido redentor da cruz se acolhermos e aprendermos a lição que continuamente Cristo crucificado nos transmite: morreu por nosso amor e para nossa salvação como gesto supremo de serviço”, advertiu, desafiando cada cristão a “aprender a lição de amor e de perdão” que Jesus dela, constantemente, dá. “Adoremo-la com fé e com esperança, gratos a Deus, nosso Pai, pelo dom do seu filho Jesus, nosso salvador e nosso redentor”, pediu.


Lembrando a referência evangélica a João junto à cruz, o “discípulo amado” “que ao contrário dos outros nunca abandona Jesus”, o bispo do Algarve disse constituir “verdadeiro convite” a que cada um atribua o seu próprio nome para que, ao contemplar a paixão, morte e a ressurreição de Cristo “se assuma particularmente como discípulo amado de Jesus, o discípulo que lhe é fiel e que jamais o abandona, nem na vida, nem nas horas de paixão, de sofrimento e de cruz”.


Na catedral de Faro, a celebração da Paixão do Senhor iniciou-se, como acontece em todo o mundo, em silêncio, com o bispo do Algarve — paramentado com a cor vermelha que a liturgia católica associa aos mártires — a prostrar-se diante do altar descoberto, e terminou também em silêncio. A celebração, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudados desde a noite de Quinta-feira Santa, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.


O dia de Sexta-feira Santa, em que imperam o silêncio, o jejum e a oração, é um dia alitúrgico por ser o único do ano em que não se celebra a Eucaristia. O bispo do Algarve desafiou os cristãos a verem naqueles sinais um “incentivo” para assumirem e interiorizarem “o mistério do amor total de que a cruz é sinal”.



A celebração prosseguiu com a oração universal (vulgarmente conhecida como oração dos fiéis) que normalmente é composta por dez intenções que procuram abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade. Este ano acrescentou-se mais uma. A Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade, da Conferência Episcopal Portuguesa, propôs a todas as dioceses do país uma intenção especial de oração pelas vítimas de abusos. “Por todas as Pessoas vítimas de abusos, para que Deus nosso Senhor conceda a cura das suas feridas, coragem aos que as acompanham, conforto às famílias e torne cada vez mais a Igreja um ambiente seguro”, referiu o texto da oração. A intenção IXb acrescentada evocou as “pessoas vítimas de abusos de poder, de consciência e sexual”. Após esta oração, o presidente da celebração evocou todos os que sofrem “todo o tipo de violência”, rezando para que Deus lhes conceda o seu “abraço de compaixão, ternura e misericórdia, no tempo de purificação e reparação”.


Para além desta novidade, reza-se pelos governantes de todas as nações, “para buscarem sempre a verdadeira paz e a liberdade de todos os povos”, e “para que se fortaleça em toda a terra a prosperidade das nações, a segurança da paz e a liberdade religiosa”, para que Deus “livre o mundo de todos os erros, afaste as doenças e a fome em toda a terra, abra as portas das prisões e liberte os oprimidos, proteja os que viajam e reconduza ao seu lar os imigrantes e desterrados, dê saúde aos enfermos e a salvação aos moribundos”.



Tendo também em conta “os que sofrem toda a espécie de tribulações”, os católicos rezam também pela Igreja, pelo papa, pelo bispo local e todos os restantes bispos, presbíteros, diáconos, pelos que exercem na Igreja algum ministério e por todo o povo de Deus, pelos catecúmenos, por todos os que creem em Cristo, pelo povo judeu, pelos que não creem em Cristo e pelos que não creem em Deus.




Seguiu-se a apresentação da cruz, trazida por uma representação dos jovens da paróquia da Sé que vão participar na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. A veneração foi-lhe prestada por uma fila imensa de fiéis. Este ano omitiu-se ainda o beijo devocional, por razões de saúde pública. Depois realizou-se a comunhão da Eucaristia ontem consagrada.