Na primeira audiência do julgamento da acção interposta pela família McCann contra Gonçalo Amaral, que decorreu no Palácio da Justiça, em Lisboa, as quatro testemunhas defenderam que a teoria do ex-agente não prejudica nem impede qualquer investigação para a descoberta de Madeleine com vida.
O primeiro a rebater a argumentação de Kate e Gerry McCann, presentes na sessão, foi o procurador da República de Portimão Magalhães Menezes, que, ouvido em vídeo-conferência, disse que a tese "da morte da criança era uma das possibilidades inicialmente avançada pela PJ", indício que levou "à constituição do casal inglês como arguido".
O titular do inquérito ao desaparecimento da criança inglesa, a 03 de Maio de 2007, referiu que "manteve-se em aberto a tese de crime de homicídio e de ocultação de cadáver por não se saber o que aconteceu" e sublinhou que "nada no inquérito levou a que o casal McCann cometesse qualquer crime", levando ao arquivamento.
O inspector Tavares de Almeida, que participou na investigação, relatou a diligência com os dois cães para detecção de sangue e odor a cadáver no apartamento da Praia da Luz, Algarve, onde a criança passava férias com os irmãos e os pais, e na viatura alugada por Kate e Gerry.
Referindo que na investigação "sempre se falou em morte acidental", Tavares de Almeida vincou que "todos os actos foram gravados, com imagem e som", e notou que, naquela altura, eram fundadas as suspeitas de crime de ocultação de cadáver e simulação de rapto.
Essas conclusões foram reproduzidas no livro de Gonçalo Amaral, cuja proibição de venda foi decretada provisoriamente a 09 de Setembro de 2009, no âmbito da acção principal de reclamação protecção de liberdades, direitos e garantias da família McCann.
"Gonçalo Amaral não usurpa as conclusões da investigação, porque são aquelas que vieram da investigação", disse Tavares de Almeida.
Por sua vez, o inspector da PJ Ricardo Paiva, oficial de ligação à Polícia inglesa e depois à família McCann, disse que "a tese do livro de Gonçalo Amaral é a da investigação" e garantiu que não existiu "qualquer intenção" do autor do livro "em prejudicar o casal".
Por último, o coordenador superior de Investigação Criminal da PJ e director nacional da Unidade de Combate ao Banditismo assegurou que o descrito na obra "são factos que estão filmados e descritos e que estão no processo".
Nunes das Neves chegou a dizer que a teoria de morte de Madeleine foi "uma das hipóteses assumidas" por Kate.
No entanto, reconheceu que "não há prova de sustentação" do falecimento da criança, mas, enfatizou, "sabe-se como as coisas aconteceram".
A acusação, através da advogada do casal McCann, Isabel Duarte, confrontou as testemunhas com alegadas incongruências do livro, como o trajecto em que um casal irlandês disse ter visto um homem com uma criança ao colo a encaminhar-se em direcção às praias, no dia do desaparecimento.
"O livro está cheio de inferências e deduções", disse Isabel Duarte, no final da audiência, que continua na quarta-feira, com a inquirição de testemunhas de defesa.
Além de Gonçalo Amaral, que dirigiu inicialmente a investigação sobre o desaparecimento da criança inglesa, neste julgamento são ainda visadas a editora Guerra & Paz, a TVI, por ter exibido documentário baseado na obra, e a produtora Valentim de Carvalho, por ter comercializado o vídeo desse programa.