No final do encontro, os trabalhadores pediram ao Bispo diocesano que presidisse à celebração de uma Eucaristia que ficou agendada para o próximo dia 3 de Dezembro, na igreja matriz de São Pedro, em Faro, pelas 18h. A missa, que D. Manuel Quintas aceitou celebrar prontamente, será participada pelos 336 trabalhadores despedidos, pelos seus familiares e amigos.
Mateus Mendonça, do STHA – Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos, que liderava o grupo constituído ainda por um elemento do SINTAC – Sindicato Nacional de Trabalhadores da Aviação Civil, outro do SQAC – Sindicato dos Quadros da Aviação Comercial e mais dois membros da sub-comissão de trabalhadores, explicou à FOLHA DO DOMINGO que o objectivo foi agradecer não só a intervenção que o Bispo do Algarve teve junto do Presidente da República, aquando da sua recente vinda à região algarvia para as comemorações dos 550 anos da morte do Infante D. Henrique, mas também pelas “palavras que tem tido junto dos fiéis” a propósito da situação da Groundforce de Faro.
Recorde-se que o prelado iniciou a vigília de encerramento do Lausperene Diocesano, a cadeia ininterrupta de oração ao Santíssimo Sacramento, pedindo aos cristãos algarvios que se incluísse naquela oração os 336 trabalhadores da Groundforce despedidos naquela semana.
Aquele dirigente explicou ainda que procuraram também sensibilizar o Bispo do Algarve para a “realidade dos acontecimentos”, apresentando-lhe o “ponto da situação das negociações” e contando a sua versão, “muito contraditória em relação àquilo que foi apresentado pela empresa”.
Mateus Mendonça explicou ao prelado que neste momento foram apresentadas propostas à empresa para manutenção da escala de Faro com recurso a uma diminuição de trabalhadores por via de pré-reformas, rescisões e transferência de trabalhadores para as escalas de Lisboa e do Porto. “Quando este número de 165 trabalhadores surgiu foi-nos respondido pela empresa que não era suficiente porque a escala precisa de um mínimo 220 trabalhadores para se manter a trabalhar, o que nos leva a pensar que afinal há emprego em Faro e que não faz qualquer sentido o despedimento colectivo”, denunciou.
Por outro lado, a delegação que foi recebida também pelo vigário-geral da diocese algarvia, o padre Firmino Ferro, explicou que neste momento, parte do trabalho desenvolvido até aqui pela Groundforce, está a ser assegurado pela Portway, a outra empresa de handling a operar em Faro. “O serviço à TAP e à Bmibaby está a ser assegurado pela Portway, mas a British Airways e a Monarch continuam connosco, visto que sermos os únicos detentores de formação e capacidade para assistir as suas aeronaves”, testemunhou, acrescentando que “a habilitação técnica dos trabalhadores da Groundforce tem a ver com sistemas informáticos de emissões e de check-in.
Segundo Mateus Mendonça, a absorção pela Portway dos trabalhadores tecnicamente habilitados da Groundforce era uma das soluções que se apresentavam no início do processo, mas “foi uma oportunidade deitada fora quando a empresa rescindiu o contrato com as companhias” sem passar os trabalhadores para a Portway. “Trabalhadores com 10 a 30 anos de casa têm um know-how que fariam falta a qualquer companhia que estivesse a operar no mundo do handling”, disse.
Aquele dirigente referiu ainda que a empresa “continua a preocupar-se com os custos, empurrando o ónus do custo para cima do trabalhador e nada fazendo no campo das receitas que é onde a empresa tem um problema”. “A perca da Air Berlim por uma tentativa de aumento de preço a meio do contrato levou a que a companhia rescindisse com a Groundforce, fazendo com que perdêssemos uma companhia que representava mais de 1,4 milhões de euros só na escala de Faro e que em 2010 cresceu 22%”, criticou, lamentando que não tenha havido conquista de novos clientes, nomeadamente para escala de Faro.
“Este processo tem como objectivo pregar um grande susto aos trabalhadores da Groundforce e fazê-los ceder nos direitos conquistados ao longo de tantos anos, tentando precarizar o trabalho”, lamentou, criticando que a empresa tenha anunciado o pagamento de 11 milhões de euros em indemnizações. “Este é um valor calculado por baixo que poderá aumentar para 12 a 14 milhões de euros apenas para despedir as pessoas. Há depois o valor acrescido que o Estado vai ter de pagar de subsídios de desemprego que estão calculados, no período de um ano, em 4 milhões de euros, deixando o Estado de encaixar mais de 2 milhões de euros em Taxa Social Única, IRS, Segurança Social e outras contribuições que seriam receita para o próprio Estado”, complementou.
Aquela delegação aludiu ainda à legislação vigente que obriga a que haja mais do que uma empresa de handling a operar em cada base, prevendo que, daqui a algum tempo, surja uma nova empresa a operar em Faro. “Depois da liberalização do mercado e da entrada da Portway em 2001, existe uma guerra de preços desenfreada que tem feito com que cada vez mais a empresa continue a baixar os preços e esteja a vender o produto abaixo do preço de custo”, constataram.
O Bispo diocesano incentivou os trabalhadores a continuarem a lutar pelos seus direitos e garantiu o apoio da Igreja do Algarve ao nível de alguma palavra que os seus Presbiteros possam continuar a dirigir sobre o assunto às assembleias de fiéis.
Samuel Mendonça