O Tribunal de Portimão adiou hoje para o mês de julho a leitura da sentença de uma médica ginecologista acusada de homicídio por negligência, por, alegadamente, ter causado a morte a uma mulher durante uma intervenção cirúrgica.
A leitura da sentença ficou agendada para o dia 10 de julho, às 15:00, no 1.º Juízo do Tribunal de Família e Menores e de Comarca de Portimão.
O caso remonta a abril de 2011, quando a vítima, uma mulher de 27 anos, enfermeira, aceitou a sugestão da médica de se submeter a uma cirurgia aos ovários para poder engravidar, no Hospital Particular do Algarve, em Alvor, em Portimão.
Acusada em janeiro de 2012 pelo Ministério Público (MP), a médica Madlen Youssif Benun, na altura chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Particular do Algarve, requereu a abertura da instrução do processo, tendo o juiz decidido levar a cirurgiã a julgamento sob acusação do crime de homicídio por negligência.
De acordo com o despacho de pronúncia, a morte de Vera Alves ocorreu por “negligência” da arguida durante a cirurgia ao alegadamente não proceder com o cuidado a que, “segundo as circunstâncias, estava obrigada e era capaz”.
Segundo a pronúncia, o procedimento da médica terá provocado uma “hemorragia intra-abdominal e laceração do fígado”, que estiveram na origem da morte de Vera Alves.
Durante o julgamento, a arguida assegurou que efetuou “todos os procedimentos habituais para a cirurgia em causa”, alegando que se tratou de “um acidente, decorrente dos riscos que uma intervenção cirúrgica envolve”.
Madlen Youssif Benun contou ao tribunal que durante o ato cirúrgico e após constatar uma hemorragia e sem conseguir detetar a origem, procedeu segundo “os conhecimentos enquanto cirurgiã obstetra” até à chegada de um cirurgião geral que detetou uma perfuração da artéria aorta abdominal.
Segundo a arguida, apesar de a paciente ter alguma obesidade, a intervenção cirúrgica “era considerada de baixo risco”, não havendo justificação para que fosse assistida por outro colega da especialidade.
Madlen Benun admitiu que, apesar de “ser raro”, existe sempre “o risco” de rutura de artérias durante uma intervenção cirúrgica e explicou que os cirurgiões obstetras não têm conhecimentos para efetuarem a sua sutura, cabendo essa tarefa aos cirurgiões vasculares ou gerais.
De acordo com um dos gestores do hospital, na altura do acidente não se encontrava nenhum cirurgião geral naquela unidade hospitalar, tendo sido chamado o que se encontrava “disponível e mais perto”, que demorou cerca de 25 minutos a chegar ao bloco operatório.
Durante o julgamento, foram ouvidos os três médicos – um anestesista, um obstetra e um cirurgião geral – que acabaram por intervir no processo cirúrgico, considerando que a médica Madlen Benun “atuou de acordo com os procedimentos normais para a situação”.
Contudo, registaram-se algumas contradições nos depoimentos de dois dos clínicos em relação à forma como foi detetada a hemorragia.
Além disso, o cirurgião Gata Gonçalves atribuiu ainda as lesões no fígado e nas artérias ilíacas, que constam do relatório da autópsia, “aos procedimentos de emergência efetuados para tentar detetar e estancar a hemorragia”.
O clínico disse que as intervenções cirúrgicas, independentemente do seu grau de complexidade, devem ser realizadas por equipas compostas por dois cirurgiões, de acordo com as recomendações da Ordem dos Médicos.