
Um pouco antes das 19h00, hora marcada para o início da apresentação dos novos vinhos da Casa Santos Lima e da ARTgilão Tavira, as pessoas que passavam pelo stand deste produtor já faziam perguntas. «Onde está o novo vinho, aquele que é mesmo de Tavira e que vai ajudar as igrejas?», perguntavam aos funcionários das duas empresas, que montavam o seu local de trabalho para os próximos dois dias, na mostra “Os Dias do Vinho”. E a única garrafa que estava à vista nesse momento, já que se pretendia total surpresa até à hora marcada para a apresentação, andou em várias mãos e gerou muitos comentários.
“Sete Cavaleiros do Castelo” é o nome destes novos vinhos. Um branco, um tinto e um rosé foram desenvolvidos no âmbito desta parceria entre a importante casa de vinhos que tem produção neste concelho algarvio e a empresa das paróquias de Tavira, que assim procuram associar um produto de excelência ao património desta cidade, ao mesmo tempo que buscam trabalhar de forma sustentada na angariação de fundos que reverterão para a recuperação e restauro do património religioso que se encontra a cargo dessas paróquias.
«Esta foi a primeira ideia que tivemos quando criámos a empresa ARTgilão, mas demorou cerca de dois anos e meio a ser concretizada porque tivemos de, primeiro, ir à procura do parceiro certo. Entendemos logo no primeiro momento que temos de dar a conhecer os produtos locais, aqueles que são verdadeiramente marcas culturais da nossa cidade e região e o vinho surgiu logo como um dos que mais nos interessava, porque nos permitiria essa relação, bem como um posicionamento importante ligando-nos a algo que é de excelência, como o vinho», explicou o padre Miguel Neto, pároco de Tavira e diretor da ARTgilão e agradeceu a José Luís Santos Lima Oliveira da Silva, proprietário da Casa Santos Lima, que «desde a primeira hora se manifestou disponível para abraçar este projeto». Ultrapassados os trâmites legais obrigatórios para a criação de um novo vinho, feita a escolha do nome e desenvolvido o processo de design, são agora lançados estes produtos que estarão à venda na loja ARTgilão (localizada na igreja de Santa Maria do Castelo, em Tavira), na restauração local e que poderão ser enviados para todo o mundo por correio, sempre que alguém o deseje.

Este não é, pois, um vinho qualquer, já que o seu surgimento e a finalidade para que foi criado estão intimamente ligados à preservação do património religioso. «Antigamente eramos conhecidos pela cidade das Igrejas fechadas, mas graças à Câmara Municipal e ao esforço que a paróquia e a Misericórdia e outras entidades têm feito já somos conhecidos pela cidade das Igrejas abertas. E agora vamos ser conhecidos pela cidade das Igrejas que têm um vinho, que é uma imagem de marca e que, quem o comprar, sabe que está a ajudar a rentabilizar e, sobretudo, a recuperar e divulgar o património das nossas Igrejas históricas», salienta o sacerdote e apela a que «todos divulguem este vinho não só nas vossas casas, mas em todo o comércio. Que este vinho seja o sinal das igrejas de Tavira à mesa dos Tavirenses e à mesa dos restaurantes e de todos os que aqui vêm passar férias, um sinal especial, pois estará à nossa frente um vinho que é bom, mas sobretudo que faz o bem», reforça em tom brincalhão, mas com grande sentido prático, já que efetivamente o lucro proveniente do vinho servirá para fazer coisas positivas em prol da cultura.

«Temos vários projetos em mente e estamos a preparar algo de que em breve daremos nota, mas que permitirá dar a conhecer o espólio das nossas igrejas, de uma forma muito mais apelativa e cientificamente correta. Ora, sem dinheiro, nada disso se consegue e é preciso trabalhar no sentido de podermos ter os nossos templos preservados, realmente interpretados e dignamente recuperados, dando nota de que são sobretudo espaços de culto, mas também de cultura, que é obrigatório cuidar e deixar para os vindouros», revela o padre Miguel Neto, que não teme ser considerado um empresário, pois «se assim for, só me sinto empresário do trabalho que Deus pede a todos na sua messe. Salvaguardar a história da Igreja e os seus bens é legar ao mundo a imensa riqueza cultural que ela, ao longo de tantos séculos, foi produzindo e essa é uma obrigação minha enquanto cristão e ordenado» e conclui: «Restaurar, mostrar arte é também realizar catequese e promover a consciência cívica, que é dever de todos pôr em prática enquanto batizados. E ainda, fazendo isso, estamos a criar empregos e, logo, a ajudar famílias a terem a sua subsistência garantida, o que me parece bastante importante».
Jorge Botelho, presidente da Câmara Municipal de Tavira, concorda com esta ideia de criar mais-valias que permitam cuidar dos bens culturais: «Há uns anos, quando o senhor padre chegou cá e pôs em cima da mesa a ideia de criar uma empresa para gerir o património ou para rentabilizar um conjunto de produtos para poder gerar receitas e poder reabilitar o património, neste caso, as igrejas, eu achei que era uma excelente ideia e acho que hoje se dá mais um passo na sua concretização, numa linha ainda inovadora: é que associou um empresário de referência, que investiu muito aqui no concelho de Tavira, que faz questão de estar cá, que faz um vinho produzido em Tavira, que investe na vinha, nos terrenos, no parque industrial, faz o vinho cá em Tavira e eu diria que esta á uma simbiose perfeita».
Sem dúvida, este vinho só nasce porque a Casa Santos Lima aceita este desafio das paróquias. «Quando se proporcionou esta colaboração com ARTgilão, foi com muito entusiasmo que aderimos a esta ideia e estamos confiantes que “Os Sete Cavaleiros do Castelo” irão contribuir para a promoção da excelente aptidão e grande potencial das vinhas e do vinho desta região», refere o proprietário da Casa, José Luís Santos Lima Oliveira da Silva e recorda que, «quando há uns anos eu e a minha família decidimos ter uma vinha e uma adega aqui na região de Tavira foi num sonho, porque gostamos muito desta cidade». «O vinho do Algarve é um vinho com excelentes aptidões e o desta região de Tavira em particular, por questões de clima, de solos, oferece um potencial de qualidade muito grande. É possível fazer aqui, pois, um vinho de grande qualidade», defende e foi o que se conseguiu com estes “Sete Cavaleiros do Castelo”.
Feitos com as castas Arinto, Crato Branco, Touriga Nacional e Syrah, e classificados como Vinhos Regionais do Algarve, resultam de processos de seleção e colheita manuais, seguidos de vinificação na adega. Com características muito contemporâneas e grandes paladares e aromas, foram criados com maestria pela equipa de enólogos da Casa Santos Lima. «Não podemos esquecer que há quem diga que o vinho entrou em Portugal precisamente pelo Algarve, através dos Fenícios e Romanos, que traziam sempre vinho consigo», recorda José Luís Santos Lima. «Pelo desenvolvimento que teve noutras áreas, a região deixou para trás a cultura da vinha e agora, felizmente, há um re-acordar e nós estamos muito felizes e orgulhosos de contribuir para esse renascer. Somos o maior exportador de vinho do Algarve e vamos continuar a desenvolver esta área, a plantar vinha, a expandir a adega e esperamos que este vinho que hoje aqui se apresenta – um rosé, um tinto e um branco – possa ser continuado com um reserva ou um varietal. É um projeto que apenas começa e contamos convosco para o divulgar e saborear», conclui o empresário vitivinícola.

Nesta hora, já bem depois das 19h00, a “Tavira, Os Dias do Vinho” estava cheia de visitantes e a fila para provar os “Sete Cavaleiros do Castelo” crescia. No stand, os funcionários da equipa da Casa Santos Lima e da equipa da ARTgilão Tavira, em conjunto, preparavam copos, davam vinhos a provar, vendiam os produtos e o que mais se podia observar eram os sorrisos: os de quem vendia e os de quem comprava. A brincadeira ficou: «Este é o vinho que é bom, porque faz o bem!»