Boliqueime recebeu pela primeira vez, entre 27 de fevereiro e 06 de março, o projeto de voluntariado estudantil ‘Missão País’ pela mão dos universitários da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL).

Os 42 missionários (incluindo os 8 chefes) e o padre que os acompanhou ficaram alojados no edifício sede dos escuteiros, diante da igreja matriz.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A missão, que arrancou já em contexto pós-pandémico, teve a organização facilitada com a abertura que a comunidade lhe proporcionou. Os estudantes puderam entrar no lar e no pré-escolar da Santa Casa da Misericórdia para interagir com os idosos e as crianças. “Até não me pareceu muito diferente de uma missão que fiz há dois anos”, testemunhou ao Folha do Domingo a chefe geral, Teresa Quintela, acrescentando que até foram jantar a casa de pessoas que se ofereceram para os receber.

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“Deixaram-nos estar à vontade, tanto com os idosos como com os miúdos”, reforçou José Manuel Câmara, o outro responsável pela chefia geral. “Desde o princípio que nos sentimos como se estivéssemos em casa. A comunidade de Boliqueime, sem reservas, abriu-nos os braços. Foi uma alegria receber cá os missionários”, acrescentou, constatando que “as pessoas não conheciam muito o projeto”.

Relativamente às inscrições, o chefe geral contou que muitos “ficaram interessados mesmo sendo um projeto católico e eles não”.

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O padre Miguel Ângelo Ferreira, que acompanhou o grupo, explicou que os seus membros tinham “todos prática religiosa”. “Uns mais e outros menos, alguns mais afastados, mas que aqui se reaproximam”, precisou, acrescentando serem oriundos de “várias proveniências religiosas, de paróquias diferentes”, de “alguns movimentos diferentes ligados a alguns carismas dentro da Igreja”. “Aqui estão todos juntos e acho que isso é muito salutar porque a Igreja tem sempre esta dimensão da pluralidade e da diversidade na unidade. E esta semana dá-lhes isso”, sustentou, reconhecendo haver jovens naquelas missões que “vêm claramente pelo voluntariado, pela procura do fenómeno religioso, até ateus, por vezes”.

O sacerdote, pároco de Pontével, Valada, Vale da Pedra e Lapa, na Diocese de Santarém, conheceu o projeto em 2015 numa das suas paróquias. Em 2017, os jovens da ESEL pediram para os acompanhar e até agora a colaboração têm-se mantido.

O padre Miguel Ferreira diz que a ‘Missão País’ “proporciona a muitos jovens o seu encontro com Deus”. “É um projeto que tem uma espiritualidade muito bonita, de jovens para jovens. O voluntariado e o apostolado é importante para eles”, sustenta, acrescentado a importância do “amor ao próximo” e do “serviço aos outros”. O sacerdote considera mesmo que o projeto poderá ajudar nos próximos anos à criação de um “tecido religioso diferente”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Miguel destaca ainda a ‘Missão País’ como um “tempo privilegiado” para os participantes “pensarem na própria vida”. “Das coisas que mais me toca é ver a transformação dos jovens nesta semana”, testemunhou, garantindo que o trabalho contribui para essa mudança e que muitos “acabam por procurar o sacramento da reconciliação”.

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O sacerdote considera que após a missão, “as paróquias e os movimentos poderão aproveitá-los dando-lhes espaço, autonomia, deixando que eles errem e que mudem as coisas”.
Em todas as quatro edições deste ano da ‘Missão País’ no Algarve, a problemática da guerra na Ucrânia esteve presente, tendo os missionários rezado ao longo última semana pela paz naquele país.

A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.