Os universitários da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL) trouxeram a ‘Missão País’ de volta a Boliqueime para a conclusão do triénio de voluntariado que teve início em 2022.

Sob o lema ‘Lança as redes e encontrarás!’, a iniciativa – que teve início no passado dia 17 e decorre até ao próximo domingo, 24 de fevereiro – conta este ano com 60 missionários, incluindo os oito chefes, o sacerdote assistente e uma religiosa. Desses, cerca de 30 são alunos da ESEL e os restantes de outras universidades, principalmente do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa.

Um dos oriundos do IST é Alexandre Gonçalves, que assume este ano, juntamente com Rita Garcez, a chefia geral da ‘Missão País’ em Boliqueime. Aquele estudante de engenharia explica que a participação de alunos do IST na ‘Missão País’ promovida pelos colegas da ESEL e não nas que a sua própria academia promove se deve à tentativa de procurar o desejável equilíbrio entre rapazes e raparigas naquele projeto de voluntariado social. “Na minha faculdade há muitos mais rapazes do que raparigas e as vagas para os rapazes na missão da nossa faculdade têm mais concorrência, enquanto na ESEL é o contrário”, observa à reportagem do Folha do Domingo.
Rita Garcez, da ESEL, acrescenta que muitos dos participantes de outras faculdades “conhecem-se por serem amigos de amigos” e outros escolhem a missão da sua universidade por coincidir na semana em que também têm as férias entre semestres.

Juntamente com o padre Miguel Ângelo Ferreira, ambos os chefes gerais estiveram nos três anos de voluntariado da ‘Missão País’ em Boliqueime, que também foi a primeira em que os dois participaram, e isso dá-lhes uma visão retrospetiva mais abrangente agora que se encerra a experiência. “Boliqueime acolheu-nos como nunca esperámos e transformou a todos os cerca de 180 missionários que passaram por cá ao longo destes três anos”, assegura Rita Garcez, corroborada por Alexandre Garcez. “Nós abdicamos de uma semana de férias para vir para aqui ajudar, mas a verdade é que nós também crescemos muito. No meu caso, reconheço que o Alexandre que veio no primeiro ano não é o mesmo que sai no terceiro”, assegura o futuro engenheiro, que também insiste na receção dos boliqueimenses. “Conseguimos notar que a comunidade vai com o passar do tempo gostando cada vez mais de nós. Antes, estranhavam um pouco e agora já nos conhecem, vêm ter connosco e cumprimentam-nos e é muito bom”, conta.


O padre Miguel Ângelo Ferreira realça que, no cômputo dos três anos, “a primeira coisa a ter em conta é o encontro que se faz com Jesus” que leva, inevitavelmente, a uma “renovação”. Explicando que a maioria dos missionários também participou na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa e que isso também os marcou, trazendo uma mais-valia à ‘Missão País’, o assistente espiritual, garante que nos jovens houve “uma descoberta, um encontro, um aprofundamento muito bonito da pessoa de Jesus”. “Há aqui alguns jovens que já não se confessavam há bastante tempo, que aprofundam o sentido e a importância da Eucaristia, da oração, que põem questões sobre o sentido da vida, sobre a vocação, incluindo o matrimónio”, conta o sacerdote que é também o responsável pelo Pré-Seminário e pela Pastoral Vocacional da sua diocese, acrescentando que os missionários ouviram ainda testemunhos sobre os temas do namoro, por uma rapariga que participou na ‘Missão País’ durante quatro anos, e do sacerdócio por um sacerdote.

O padre Miguel Ângelo – que é pároco, juntamente com outro presbítero, das paróquias do concelho do Cartaxo, concretamente Cartaxo, Ereira, Lapa, Pontével, Valada, Vale da Pedra, Vale da Pinta e Vila Chã de Ourique, na Diocese de Santarém – lembra, por outro lado, que a missão é composta pela transmissão de um legado. “Quem chega pela primeira vez, quer dos missionários, quer da comunidade, recebe a história de quem já vem há mais tempo”, concretiza, explicando que este ano há muitos alunos que vieram pela primeira vez por serem alunos do 1º e 2º anos. “Têm sido dias intensos”, conta, testemunhando que, por exemplo, a noite de oração com a comunidade durou cerca de duas horas.

Aquele responsável explica que os estudantes, colegas de faculdade, descobrem naquela semana que a fé é algo que os une, o que até ali desconheciam. “Penso que o companheirismo na fé lhes vai fazer muito bem agora no pós-missão”, considerou.

O assistente espiritual da ‘Missão País’ em Boliqueime, que destaca que outro aspeto “muito bonito” do projeto que é o da “abertura a quem está fora” da Igreja, garante haver um “cansaço saudável que vem da generosidade da doação aos outros e de estar com Jesus”. “Isto desperta, sobretudo, para uma consciência do amor, da atenção aos outros, do cuidado. Temos aqui uma experiência muito intensa que nos revela que, se calhar, em casa ou por onde andamos podemos estar mais atentos ao outro e mais solícitos pelo seu bem”, conclui.

Para além do assistente, os chefes gerais também perspetivam como será o futuro marcado por aquela experiência. “Como é que pegamos nesta vontade de ajudar e a levamos para as nossas famílias, para as nossas casas, para os nossos amigos e para todos os que nos acompanham na vida normal?”, questiona Alexandre Gonçalves. “Vamos regressar à faculdade, às nossas famílias e às nossas rotinas e vamos tentar, com algumas dinâmicas e momentos que tínhamos na missão, continuar”, responde Rita Garcez, garantindo que “as amizades e os laços” criados durante a ‘Missão País’ vão “ajudar muito”. “Acabamos por conhecer pessoas da nossa faculdade que têm a mesma visão e pensamento que nós. Isso acaba por ajudar muito no caminho”, sustenta.

A ‘Missão País’ é uma iniciativa universitária que começou com estudantes ligados ao Movimento Apostólico de Schoenstatt, com 20 jovens, em 2003, e que se organiza e desenvolve a partir de várias faculdades de Portugal. Nela participam jovens de todos os credos e também quem não professa nenhuma religião. São semanas de apostolado e de ação social que decorrem durante três anos consecutivos no período de interrupção de aulas entre o primeiro e o segundo semestres, divididas em três dimensões complementares – externa, interna e pessoal – em que o primeiro ano consiste no “acolhimento”, o segundo na “transformação e o terceiro no “envio”.
‘Missão País’ em Boliqueime é a primeira no Algarve a contar com a participação de uma consagrada