O quotidiano dos EUA abordava o caso relativo a um sacerdote pedófilo, no tempo em que o cardeal Ratzinger era arcebispo de Munique (Alemanha).
Segundo o padre Lombardi, a notícia do Times “não traz nenhuma informação nova” em relação ao que a diocese alemã já comunicou em relação “ao conhecimento do seu então arcebispo sobre a situação do sacerdote H”.
Recorde-se que já anteriormente o padre Lombardi, em resposta ao "New York Times", considerara que não existe qualquer relação entre a aplicação da Instrução Crimen sollicitationis, do antigo Santo Ofício, e a não denúncia de abusos de crianças às autoridades civis.
“Contrariamente a algumas declarações que circularam na imprensa, nem o Crimen nem o Código de Direito Canónico proíbem a participação de abuso de crianças às autoridades policiais”, assegurou o porta-voz do Vaticano.
A Santa Sé admite que o “trágico caso” do padre H., da arquidiocese de Milwaukee (EUA), “envolveu vítimas particularmente vulneráveis que sofreram terrivelmente com o que ele fez”.
“Ao abusar sexualmente de crianças com deficiências auditivas, o padre H. violou a lei e, mais importante, a confiança sagrada que as vítimas tinham nele”, pode ler-se.
Após reconhecer a existência dos casos, o director da sala de imprensa da Santa Sé precisa que “durante os meados da década de 1970, algumas vítimas do padre H. denunciaram os seus abusos às autoridades civis, que o investigaram nessa altura; contudo, de acordo com as notícias da imprensa, a investigação foi abandonada”.
“A Congregação para a Doutrina da Fé só foi informada do caso cerca de vinte anos mais tarde”, assegura o comunicado.
Segundo revelou a Santa Sé, só em finais dos anos de 1990, depois de terem passado mais de duas décadas da denúncia dos abusos aos responsáveis diocesanos e à polícia, a Congregação para a Doutrina da Fé se deparou pela primeira vez com a questão de como tratar canonicamente o “caso do padre H.”.
“A Congregação foi informada do assunto porque envolvia sedução no confessionário, o que constitui uma violação do Sacramento da Penitência”, revelou a nota publicada na última quinta-feira, sublinhando que a questão canónica apresentada à Congregação “não estava relacionada com eventuais procedimentos civis e criminais contra o padre H”.
Nesses casos, o Código de Direito Canónico não prevê sanções automáticas, mas “recomenda que seja feito um julgamento, não excluindo mesmo a maior pena eclesiástica, que é a demissão do estado clerical” (Cânone 1395, n.º 2).
O director da sala de imprensa da Santa Sé explica que a decisão da Congregação para a Doutrina da Fé a este respeito levou em consideração o facto de “o padre H. ser idoso, estar em condições de saúde precárias, viver em isolamento e não terem surgido durante mais de 20 anos alegações de abuso”.
Nesse sentido, a Congregação, na altura presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, sugeriu que o arcebispo de Milwaukee “resolvesse a situação mediante, por exemplo, a restrição do ministério público do padre H. e a exigência de que ele aceitasse a total responsabilidade pela gravidade dos seus actos”.
“A arquidiocese confirma, portanto, a sua posição, segundo a qual o então arcebispo (cardeal Ratzinger, ndr) não conhecia a decisão de reinserir o sacerdote H. na actividade pastoral paroquial”, pode ler-se no novo comunicado.
A Santa Sé lembra que o vigário-geral da época, monsenhor Gerhard Gruber, “assumiu a plena responsabilidade da decisão” de voltar a confiar responsabilidades a um padre acusado de abusos sexuais.
O padre H. morreu "aproximadamente quatro meses depois", sem registo de quaisquer incidentes, conclui a nota do padre Lombardi.
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