
O vice-presidente da Brisa veio na passada quinta-feira ao Algarve defender que os empresários e gestores cristãos são chamados a serem “uma presença de Deus” na empresa e que isso implica terem a “dignidade da pessoa sempre no centro das decisões, dos problemas”.
Pedro Rocha e Melo, que é também o vice-presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, esteve no Colégio de Nossa Senhora do Alto, em Faro, a convite do núcleo algarvio daquela organização para falar sobre “A vocação do líder empresarial Cristão”.
“A vocação é, continuamente, pensarmos naquilo que Deus quer de nós em cada momento”, começou por afirmar, destacando assim que “a vocação é um chamamento de Deus”. O orador acrescentou que o papa Francisco considera a liderança empresarial “uma nobre vocação”. “Pode ser uma nobre vocação desde que nos deixemos interpelar pelo Deus da vida e por aquilo que acontece nas circunstâncias concretas da nossa vida, na nossa empresa”, ressalvou.

Nesse sentido, Rocha e Melo considerou a “liderança cristã” como uma “liderança de serviço aos outros” e disse que, no caso da Brisa, muito tem contribuído para isso um “movimento de voluntariado que tem vindo a crescer cada vez mais”. “Percebe-se muito bem o que é a liderança em contexto de voluntariado porque é o mobilizar a liberdade das pessoas e o melhor que há de cada pessoa. A liderança para mim é isso, inspirar pessoas a trazer essa liberdade e esse compromisso”, sustentou.

O vice-presidente da Brisa explicou que, no âmbito da sua responsabilidade social, a empresa acolheu o núcleo da Refood em São Domingos de Rana nas suas instalações e que isso foi muito positivo para a empresa. “É impressionante o impacto que isto teve nas pessoas, quer no número de voluntários que aderiram à Refood, quer o bem que nos fez ter pessoas que ali trabalham”, contou, explicando que o projeto “mobilizou toda a organização e criou um impacto muitíssimo favorável”.
Por outro lado, Pedro Rocha e Melo defendeu o “princípio da subsidiariedade”. “A ideia é dar, cada vez mais, autonomia e delegação às pessoas para desenvolverem os seus trabalhos, para se responsabilizarem e motivarem nessa medida”, explicou, considerando que as chefias devem colocar-se “numa posição de apoio e ajuda” e que cabe ao líder empresarial “acompanhar as pessoas nos processos quando as coisas correm mal”.

O orador, que trabalhou durante 15 anos no setor financeiro, concretamente na banca de investimento, mercado de capitais e na bolsa, confessou ter tido “grande dificuldade em ser coerente” nessa fase da sua vida com a fé que professava, ou seja, “em perceber como é que conseguia num contexto de mercado financeiro ter Deus presente”. “Tinha vidas divididas: a vida familiar e a vida da palavra ao domingo, mas depois quando entrava num contexto profissional tinha grande dificuldade em ser coerente”, contou.

Pedro Rocha e Melo testemunhou então ter sido a vinda do papa João Paulo II a Fátima, e particularmente uma afirmação que ali fez, que despoletou a mudança na sua vida. “Em termos profissionais o que isso significou foi uma vontade de ser mais coerente na minha vida profissional e levou-me à Doutrina Social da Igreja que é uma riqueza extraordinária”, testemunhou, garantindo ter sido esta descoberta que o levou à ACEGE.

“Precisava de fazer caminho com alguém e na ACEGE encontrei pessoas também com esta inquietação. Resolvemos criar um grupo que debatesse a Doutrina Social da Igreja, mas mais do que isso, que tentássemos perceber quais eram as situações concretas em que a poderíamos aplicar ao nosso contexto concreto”, prosseguiu, referindo-se à criação do primeiro grupo “Cristo na Empresa” do qual é membro. “[O grupo] ‘Cristo na Empresa’ mudou a minha vida, mudou a forma como olhava para a minha atividade profissional”, frisou, adiantando que o tema da vocação do líder empresarial deverá ser debatido ao longo deste ano nos grupos “Cristo na Empresa”.

No diálogo com os participantes, o vice-presidente da Brisa considerou que “os gestores têm sido muito mal formados pelas universidades porque funcionam numa lógica só de lucro”, mas disse que essa orientação está a mudar. “Neste momento há uma série de conceitos, a reboque das questões da sustentabilidade, que estão a mudar”, afirmou, acrescentando que começam a surgir ideias que defendem que o valor que a empresa cria tem de ser partilhado por acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores e pela comunidade onde as empresas se inserem. “Isto está a fazer um caminho, mas temos que agitar mais isto”, apelou, considerando que “a Igreja tem também dado o seu contributo”.
Depois do vice-presidente da ACEGE, que também se regozijou e agradeceu por o núcleo do Algarve ser “um dos mais dinâmicos” no país, o bispo do Algarve considerou que “agir deste modo pode constituir uma lufada de ar fresco” no meio empresarial.

D. Manuel Quintas, que agradeceu o testemunho de Pedro Rocha e Melo, destacou a necessidade da “defesa” e de “dar prioridade à pessoa”. “Este critério realiza-nos também como pessoas e é preciso encontrar meios para isso, também profissionalmente, porque senão tornamo-nos máquinas”, alertou, considerando que “ser Cristo numa empresa é muito desafiante”. “É possível ser empresário também desta maneira e deste modo. E isso é algo que faz bem a quem opta por ser empresário desta maneira”, concluiu o prelado que presidiu à eucaristia antes da palestra.