O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje ao clero do sul do país que a “espiritualidade cristã de rosto mariano” constitui um “poderoso auxílio para a vida da Igreja, mas, de um modo muito especial, para a vida e missão dos presbíteros”.
Na atualização de bispos, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que decorreu de 15 de janeiro até hoje em Albufeira com a participação de 77 elementos, D. Virgílio Antunes abordou o tema “A espiritualidade mariana na vida do presbítero”.
Aquele orador — que começou por defender que “mais do que uma espiritualidade mariana” deve-se “falar de uma dimensão mariana da única espiritualidade que é a cristã” — afirmou que “o culto mariano ajuda o presbítero a tomar consciência da sua vocação e missão e ajudam-no a viver melhor” aquela espiritualidade eclesial. “Não se pode dizer que existe uma espiritualidade mariana e uma espiritualidade do presbítero. Trata-se sempre da única espiritualidade que nasce da fé em Jesus Cristo”, sustentou.

Referindo-se ao “lugar” e ao “papel de Maria, tanto na vida como na espiritualidade, na devoção, no culto eclesial e, concretamente, na relação com a vida da Igreja e com o ministério sacerdotal e com a fé nos últimos tempos”, o bispo da Diocese de Coimbra garantiu que “não há uma vida espiritual cristã sem esta dimensão mariana”, que disse ser “essencialmente cristológica e eclesiológica”, e explicou que “a questão da Virgem Maria na Igreja não é uma devoção que possa ser opcional”.
O formador rejeitou também a ideia de Maria ser “degrau” entre sacerdotes (ou outros membros da Igreja) e Cristo. “Nós não precisamos de nenhum degrau entre nós e Cristo porque Cristo está próximo dos cristãos”, justificou, explicando que “a imitação de Maria é estrutural na Igreja porque a Igreja, na sua dimensão mais profunda, isto é, no seu aspeto místico e teologal, é configurada sobre o exemplo da Mãe do Senhor”. “De Maria não pode a Igreja prescindir porque tornar-se-ia um espiritualismo ou um nacionalismo. Sem Maria faltaria à Igreja uma dimensão essencial que é a dimensão da carne ou do corpo”, alertou.
Referindo-se aos “traços da vocação sacerdotal e presbiteral, inserida na vocação apostólica”, que se encontram também na espiritualidade da Virgem Maria, disse haver “uma conexão íntima entre os traços fundamentais da vocação e da vida apostólica sacerdotal” e os que se encontram “na vocação e na vida da Virgem Maria que fazem dela modelo a imitar e uma vida a seguir na amizade, no amor e na veneração”.

D. Virgílio Antunes explicou que “tanto Maria como o sacerdócio são meios de mediação” “no único mediador que é Cristo”. “Maria tem um papel único enquanto facilitadora da união do cristão com Cristo. O sacerdote, se estiver unido à criatura mais unida a Cristo, que é a Virgem Maria, também ele não pode ofuscar nem impedir de modo algum a união dos fiéis com Cristo”, completou, evidenciando a condição do sacerdote e da Virgem Maria, unidos, como “facilitadores dessa união dos cristãos com Cristo”. “Com Maria e como Maria, o sacerdote, pela sua entrega ao exercício do ministério e a Deus, ajuda a realizar essa relação dos fiéis com Cristo”, acrescentou.
O bispo de Coimbra lembrou que “a devoção mariana, que faz parte integrante vida cristã, não consiste numa devoção estéril e passageira, mas nasce da fé que faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus, e incita a amar fielmente” Maria e “imitar as suas virtudes”. “No seio de Maria, o sacerdote encontra o modelo do ‘sim’ da Igreja e do seu próprio ‘sim’ à realização do plano de Deus”, completou.
Salientando que “a vida no espírito é central na vida de Maria, da Igreja e do presbítero”, o vice-presidente da CEP destacou a “relação muito próxima para a espiritualidade cristã e sacerdotal entre Maria, o presbítero e a Eucaristia”. “O presbítero, pela sua relação filial com Maria, é o primeiro a beneficiar com esse auxílio espiritual da Mãe de Deus que acompanha o seu crescimento espiritual e potencia a sua caridade pastoral, tanto como preparação para o Evangelho, como já na condição de fortalecimento da fé dos cristãos por meio da catequese e do culto”, afirmou, acrescentado que “Maria é modelo” para cada ministro saber como “é chamado a acolher a doação que Jesus fez de si mesmo na Eucaristia”.

Enumerando as diversas dimensões da “oferta de Maria”, concretamente “na obediência”, “na fé”, “na cruz e na morte”, “na alegria”, “no louvor” e “na sua ternura de mãe”, o preletor lembrou que “a vida de Maria foi toda ela uma oferta de si mesma a Deus”. “Ela oferece o que tem de mais pessoal e mais íntimo que é o seu seio virginal, tal como nós, presbíteros, somos convidados a oferecer o pão e o vinho na Eucaristia que significa a oferta de nós mesmos, o que temos de mais pessoal e mais íntimo”, comparou.
D. Virgílio Antunes realçou que “a oferta de Maria inclui a submissão plena da sua fé”. “Diante do mistério ela faz silêncio, contempla, mas crê no que os olhos da sua pobre humanidade não veem. O mesmo acontece com o presbítero que, em nome e na pessoa de Jesus, preside à Eucaristia, apoia-se inteiramente na palavra”, referiu, exortando o clero à “graça de aprender de Maria esse jeito materno de dar Cristo ao mundo”.
A terminar, considerou que “os presbíteros têm tido papel de relevo no que se refere à edificação de uma Igreja de rosto mariano e hão-de tê-lo ainda mais no futuro se continuarem pela via da assunção de uma espiritualidade cristã” com essa face.