A relíquia, acompanhada de um ícone, chegou ao Algarve no passado dia 3 deste mês, no âmbito de uma peregrinação que está a realizar pelos grupos e fraternidades da JUFRA – Juventude Franciscana e pelos conventos portugueses da Ordem das Clarissas. A iniciativa ocorre este ano por ocasião da celebração dos 800 anos da fuga de Santa Clara, em memória da sua decisão de abraçar, com a mesma radicalidade, a forma de vida evangélica de São Francisco, e realiza-se a convite das irmãs clarissas.
O frei José Quintã evidenciou o alcance da vida de São Francisco e de Santa Clara de Assis, entre outros santos franciscanos. “À distância de 800 anos ainda vivemos, não só da memória mas, sobretudo, da projeção, do que ficou registado, não só nos anais, mas no pensamento e, mais ainda, no coração. Se houve homens e mulheres que registaram no seu coração e pensamento a vida dos santos, quer dizer que eles, ao receberem o seu testamento, o projetaram, anunciando-o com a própria vida”, afirmou, desafiando os atuais cristãos a serem também “depositários deste testamento”.
Lembrando que “o maior dom que Santa Clara reconhece é a vocação”, o sacerdote salientou a importância da mesma. “Descobrir a vocação é descobrir a essência da nossa identidade e pertença e, ao mesmo tempo, responder com confiança e coragem Àquele que nos chama. Por isso, Santa Clara reconhece a dignidade e o valor da vocação à vida contemplativa mas, sobretudo, vivida em jeito franciscano”, afirmou.
O frei José Quintã referiu-se à “bênção” de Santa Clara por meio da sua “vida plena de sentido, de amor e de esperança” e da “alegria de ser testemunha do amor de Cristo”, desafiando os presentes à mesma atitude. “Olhamos para Santa Clara e São Francisco e toda a Igreja louva e bendiz o Senhor porque foi uma «árvore frondosa» que «plantou». É uma imagem bela de um «jardim» que nos faz remontar àquele diálogo das origens no jardim do Éden”, relacionou, considerando que o “projeto do amanhã” passa por colocarmo-nos, “como instrumentos, nas mãos de Deus”.
O sacerdote lembrou que a “regra de vida” das Ordens Franciscanas Regular e Secular é “viver o Evangelho”. “O despojamento é uma das características essenciais da nossa espiritualidade cristã porque a aprendemos de Jesus”, justificou.
A vigília ficou ainda marcada pelo testemunho, por videoconferência, da irmã Maria do Lado, clarissa do Mosteiro de Montalvo e presidente da Federação Portuguesa dos Mosteiros das Clarissas.
A consagrada explicou que as irmãs clarissas “celebram estes 800 anos como um hino de louvor”. “Hoje, em Portugal, as clarissas proclamam as maravilhas do Senhor e a gratidão que brotou em Assis, no Convento de São Damião. Somos uma pequena parcela da Ordem de Santa Clara, mas somos conscientes e felizes pelo dom da vocação”, afirmou a religiosa, lembrando que, de Portugal, “partiram clarissas para os mais diversos países”. “Vivemos em simplicidade, disponibilidade e comunidade”, explicou, acrescentando que as clarissas, tal como Santa Clara, “oram por todo o mundo”.
A irmã Maria do Lado explicou a origem da relíquia. “É um pedacinho de pano do hábito de Santa Clara que nos foi enviado pelas irmãs do Mosteiro de Assis, as guardiãs da relíquia e seguidoras mais próximas de Santa Clara”, afirmou.
As irmãs clarissas estão presentes em Portugal desde 1858, sendo que, no século XVIII, o país chegou a ter 83 mosteiros. Atualmente são 138 religiosas, repartidas pelos 12 mosteiros de Câmara de Lobos (Madeira), Famalicão, Fátima, Funchal (Madeira), Lisboa, Louriçal, Montalvo, Monte Real, Santarém, São Miguel (Açores), Sintra e Vila das Aves.
A relíquia e o ícone seguiram agora para o grupo de jovens do Varatojo, em Torres Vedras, dando seguimento à peregrinação nacional que teve início no passado dia 12 de fevereiro e termina no dia 29 de julho deste ano. Os dois elementos marcarão presença ainda num acampamento da JUFRA Ofs, de 2 a 5 de agosto, em Ferreira do Zêzere, e no Encontro Plenário da JUFRA Ffp, de 4 e 5 de agosto, em Lisboa.
Santa Clara nasceu em 1194, em Assis, e faleceu em 1253. Foi a responsável pela continuidade do ideal franciscano, principalmente após a morte de São Francisco, em 1226, tendo sido canonizada, em 1255, pelo Papa Alexandre IV.