© Samuel Mendonça
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A população de Santa Luzia de Tavira despediu-se no passado sábado do padre José Nabais Pereira, de 83 anos, que era responsável daquela capelania desde 2001 e que faleceu na véspera.

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Na celebração exequial do funeral do sacerdote, presidida pelo bispo do Algarve e concelebrada por vários sacerdotes na igreja daquela localidade, D. Manuel Quintas agradeceu a Deus pelo dom da vida e do sacerdócio do falecido. “Reunidos no amor de Cristo, na fé e na esperança da ressurreição encontramo-nos reunidos em eucaristia para sufragar a alma deste nosso irmão, padre José Nabais. Queremos louvar o Senhor pelo dom da vida que lhe concedeu e também pelo dom do seu sacerdócio que, ao longo de muitos anos, ele exerceu também aqui na nossa Igreja diocesana”, introduziu o prelado.

O bispo diocesano explicou que “a progressiva fragilidade física que, há muito, o padre José Nabais vinha evidenciando, agravou-se nestes últimos dias provocando o desenlace da sua morte”. “É à luz da fé e da esperança que acolhemos este desígnio de Deus, como acolhemos igualmente o testemunho sacerdotal que o padre José Nabais nos deixou”, sustentou.

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D. Manuel Quintas lembrou que os quase 60 anos de sacerdócio do padre Nabais Pereira foram exercidos na Diocese da Guarda (13), a sua diocese de origem, no Brasil (30) e no Algarve (18). O bispo diocesano explicou que a ida para o Brasil ocorreu no contexto do pedido do Papa XII, na encíclica “Fidei Donum” de 1957, para que as dioceses disponibilizassem sacerdotes para o serviço missionário pelo mundo. “Estes sacerdotes passaram a ser conhecidos e denominados como «Fidei Donum». Foi neste contexto que o padre Nabais partiu para o Brasil em 1967, aí permanecendo até 1997, ano em que regressando a Portugal não quis remeter-se a uma vida retirada sem compromisso apostólico direto. Sabendo das necessidades da Diocese do Algarve aqui se apresentou e foi acolhido por D. Manuel Madureira nesse mesmo ano de 1997 e aqui exerceu de, de modo entusiasta e dedicado, o seu sacerdócio, primeiro no Montenegro e, desde 2001, aqui em Santa Luzia de Tavira onde veio a falecer”, relatou.

Destacando que “a vida e o ministério de um sacerdote só se compreendem em estreita relação com a eucaristia”, o bispo do Algarve lembrou a resposta dada ao capelão de Santa Luzia quando este, ao pressentir aproximar-se o agravamento da sua doença, lhe revelou que o que mais lhe custaria seria quando já não pudesse realizar a celebração eucarística diária. “Recordo que nessa altura lhe respondi: «Como o padre Nabais sabe, a sua vida, a partir desse momento, será toda ela uma eucaristia, com a doação total de si mesmo, numa identificação plena com Cristo que na cruz consuma a sua entrega pela humanidade e desse modo continuará a fortalecer na fé os cristãos de Santa Luzia e a ser para eles sinal da presença de Cristo». E eu sei e testemunhei que isto é verdade e que aconteceu, tendo vindo celebrar aqui algumas vezes durante esse tempo”, contou.

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O prelado lembrou o seu “entusiamo e ardor missionário de a todos levar Boa Nova do evangelho, de a todos distribuir os dons de Cristo ressuscitado”, bem como o “último sonho, quase concretizado, do Centro Pastoral em Santa Luzia”.

D. Manuel Quintas manifestou o seu reconhecimento e também o da diocese “a todos os que, de maneira desprendida, apoiaram sempre o senhor padre José Nabais, mas particularmente, neste últimos tempos em que ele esteve mais limitado na sua saúde” e exortou os membros da capelania a “prosseguir no caminho que vinham percorrendo com o padre Nabais e agora que continuarão com o padre Flávio [Martins]”, pároco de Tavira que vem assistindo aquela comunidade nos últimos tempos.

O bispo do Algarve pediu “alguma compreensão pela dimensão dos serviços que ele é chamado a prestar na diocese” e, ao mesmo tempo, desafiou os fiéis a uma “responsabilização maior” no seu envolvimento, não apenas em suprir a necessidade de sacerdotes da Igreja algarvia, mas no exercício da sua própria missão. “Reunirmo-nos para celebrar a eucaristia exequial de um dos nossos sacerdotes deve ser, acima de tudo, um apelo muito grande a rezarmos ao Senhor da messe para que continue a enviar trabalhadores para a sua Igreja, e concretamente, para nossa Igreja diocesana. Por isso, sempre que rezardes pelo padre Nabais, tende presente também esta intensão. Certamente que ele no céu dirige a Deus também essa oração e certamente que ele no céu continua a ser o vosso pastor e continua a reservar um lugar especial no seu coração para todos vós aqui de Santa Luzia”, concluiu.

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Também na eucaristia da Jornada Diocesana da Juventude, a que presidiu logo a seguir em Vila Real de Santo António, o bispo do Algarve se referiu ao exemplo do padre Nabais Pereira, lançando um desafio aos rapazes presentes. “Era tão bom que neste dia alguém dissesse: «Senhor, eu quero substituir o padre que hoje faleceu da Diocese do Algarve»”, desejou.

O sacerdote, de 83 anos, faleceu no Hospital de Faro, onde foi internado na passada terça-feira, vítima de doença prolongada do foro oncológico.

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O padre Nabais Pereira foi também o primeiro pároco da paróquia do Montenegro, paroquialidade que assumiu em 28 de setembro de 1997, dia em que o então vicariato, entregue até aí aos cuidados do padre António Manuel Martins, foi elevado a paróquia.

O sacerdote agora falecido, natural de Vale de Espinho, concelho de Sabugal (distrito da Guarda), foi ordenado a 11 de julho de 1954 na Diocese da Guarda, tendo sido, naquela diocese, coadjutor da paróquia de Nossa Senhora da Conceição e pároco da paróquia de Vila do Carvalho entre 1957 e 1967.

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Foi depois enviado como missionário para o Brasil, onde permaneceu durante largos anos até vir para o Algarve, tendo sido nomeado capelão do Carmelo algarvio, no Patacão (concelho de Faro), e vigário paroquial do Montenegro no dia 8 de setembro de 1997. No dia 27 desse mês foi nomeado pároco do Montenegro, continuando como capelão do Carmelo, funções que desempenhou até ao dia 28 de outubro de 2001, data em que foi nomeado capelão de Santa Luzia de Tavira.

O sacerdote, lembrado também pelos antigos paroquianos pela jovialidade e pelo gosto pelo desporto, em particular pelo futebol, na década de sessenta do século passado foi ainda professor de música da disciplina de Canto Coral na então Escola Industrial Campos Melo, na Covilhã.

Na Diocese do Algarve, o padre Nabais Pereira foi também membro do Conselho Presbiteral.

Após a eucaristia, o cortejo fúnebre seguiu até ao cemitério de Tavira, onde foi sepultado o corpo do sacerdote.