Após a realização online o ano passado por causa da pandemia, o regresso à participação presencial no Cenáculo dos Caminheiros e Companheiros (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo, que constituem a IV secção escutista) do Corpo Nacional de Escutas (CNE), procurou mostrar que mesmo estando mais parados e afastados nos últimos tempos aqueles escuteiros permaneceram unidos.
O Cenáculo é um fórum, com função consultiva, que visa o debate sobre temas de interesse para o desenvolvimento da IV secção do CNE e contribui, consequentemente, para o progresso educativo do escutismo católico. Pretende igualmente estimular os processos de tomada de decisão a todos os níveis, procurando tornar aqueles escuteiros mais ativos e participantes no movimento, na Igreja e na sociedade, e todos os participantes têm oportunidade de partilhar ideias e experiências e de apresentar sugestões.
O 12º ciclo do Cenáculo decorreu, de 4 a 6 deste mês, na Escola Básica de 2.º e 3.º ciclos Dr. João Lúcio, na Fuseta, e contou com 60 participantes, incluindo 14 membros da equipa de projeto e dois dirigentes observadores. O fórum teve como imaginário a Ria Formosa e visou o desenvolvimento de capacidades, associadas a cada uma das suas ilhas barreira, que poderão ter ficado comprometidas durante a pandemia. “A Ilha do Farol é a ilha da confiança porque é o farol que guia os barcos. A Ilha da Armona é a ilha da fé porque é a ilha que tem o peixe, designado na simbologia cristã como ictus, que representa a fé cristã”, elucidaram ao Folha do Domingo os membros da equipa de projeto Ana Raquel Braz e Rita Palma, do Agrupamento 98 de Faro, Lara Escudeiro, do Agrupamento 1398 Nossa Senhora do Amparo de Portimão, e Nilton Oliveira, do Agrupamento 1200 Quelfes.
Aqueles responsáveis pelos departamentos de logística, comunicação, fórum e animação, acrescentaram ter-se procurado “associar todas as ilhas a «nós»”. “Por exemplo, a Ilha Deserta foi associada ao «nó» da solidão e outras a outros como a resiliência ou a empatia”, sustentaram, explicando que os «nós» aludiam não só às amarrações escutistas, mas também simbolizavam o que uniu, durante os últimos tempos, os escuteiros enquanto caminheiros e a própria região escutista do Algarve.
A título de exemplo adiantaram que, relativamente à solidão, foram apresentadas estratégias para “combater o facto de eles, por vezes, terem medo de estar consigo próprios”. “A Ilha dos Hangares é a ilha do amor e, nesse sentido, abordámos a importância de se conseguirem amar a si próprios para poder amar os outros”, desenvolveram.
A equipa dos departamentos daquela atividade “muito querida por todos os Caminheiros e Companheiros da região” escolheu os temas que achou pertinentes de serem abordados no encontro e foram realizados três plenários, o primeiro sobre o “PPV (Plano Pessoal de Vida) e a Carta de Clã”, conduzido pelo chefe Fábio Ferrinho do Agrupamento 1200 Quelfes, o segundo, por videoconferência, sobre a “Partida, Caminheirismo e Desafio”, apresentado pelo chefe Pedro Carragoso da região de Viseu, e por Gonçalo Costa, ex-companheiro da região do Algarve, e o terceiro sobre o tema “Ligar o chip da Espiritualidade”, orientado pelo padre Rui Fernandes da comunidade jesuíta algarvia.
As três assembleias organizaram-se de formas distintas. Na primeira, os participantes ouviram e discutiram com o orador, na segunda realizaram trabalhos por «tribos» (grupos) e a consequente apresentação dos mesmos, e a terceira decorreu sob forma de debate arbitral em que se procurou “perceber se a Igreja é realmente importante para o escutismo e se o escutismo é importante para a Igreja”. “Foi muito importante perceber que estamos fraquinhos na fé, enquanto Clã regional, e acho que saímos daqui um bocadinho mais motivados para tentar perceber algumas questões que, se calhar, estavam mais esquecidas”, referiram aqueles membros da equipa projeto.
Um dos pontos altos daquele fórum é a votação dos pontos para a Carta de Cenáculo. “Uma luta que tem havido nos últimos anos é que os pontos para a Carta são um bocadinho difíceis de concretizar”, confessou a equipa de projeto, explicando que a dificuldade se prende com o facto do clã (grupo de escuteiros da IV secção) regional ter a maioria dos elementos a estudar fora do Algarve. “É um problema da nossa região que não tem tão grande expressão em mais nenhuma outra região. É uma coisa que não ajuda a que sejam concretizados alguns pontos e que faz com que não arrisquemos sequer a pôr na Carta alguns pontos”, lamentaram.
Aqueles responsáveis asseguraram que pelo facto de a atividade ser feita de Caminheiros/Companheiros para Caminheiros/Companheiros torna-a “muito importante porque dá espaço a determinados elementos de levarem avante algo que sentem que têm de fazer”. “Sentimos que temos de dar mais à nossa região e isso faz com que ajudemos a crescer a região”, realçaram, acrescentando ser preciso pensarem no que terão de fazer para levar a “região a bom porto”.
A atividade teve início no dia 4 de março com o acolhimento dos escuteiros e uma reflexão por «tribos», seguindo-se a bênção e o acendimento da vela do Cenáculo, uma assembleia inicial e a oração da noite na capela. No sábado de manhã, após o pequeno-almoço e a oração, decorreu o primeiro e o segundo plenários. Depois do almoço houve um espaço para preparação do Fogo de Conselho da noite, que foi aberto a todas as pessoas, o terceiro plenário, o trabalho por «tribos» de preparação dos pontos para a Carta, a celebração da Eucaristia presidida pelo padre Nuno da Rocha, o jantar, o Fogo de Conselho e a oração da noite. No domingo realizou-se a votação dos pontos e assinatura da Carta de Cenáculo e a eleição dos novos representantes daquele fórum.
A Carta de Cenáculo será enviada para a equipa nacional e divulgada à Junta Central do CNE.
O Cenáculo realiza-se no Algarve desde 2011 e já passou por Silves (2011), Lagos (2012), Loulé (2013), Paderne (2014), Olhão (2015), Ferragudo (2016), Quarteira (2017), Faro (2018), Albufeira (2019) e Tavira (2020).