Após a realização online o ano passado por causa da pandemia, o regresso à participação presencial no Cenáculo dos Caminheiros e Companheiros (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo, que constituem a IV secção escutista) do Corpo Nacional de Escutas (CNE), procurou mostrar que mesmo estando mais parados e afastados nos últimos tempos aqueles escuteiros permaneceram unidos.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O Cenáculo é um fórum, com função consultiva, que visa o debate sobre temas de interesse para o desenvolvimento da IV secção do CNE e contribui, consequentemente, para o progresso educativo do escutismo católico. Pretende igualmente estimular os processos de tomada de decisão a todos os níveis, procurando tornar aqueles escuteiros mais ativos e participantes no movimento, na Igreja e na sociedade, e todos os participantes têm oportunidade de partilhar ideias e experiências e de apresentar sugestões.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O 12º ciclo do Cenáculo decorreu, de 4 a 6 deste mês, na Escola Básica de 2.º e 3.º ciclos Dr. João Lúcio, na Fuseta, e contou com 60 participantes, incluindo 14 membros da equipa de projeto e dois dirigentes observadores. O fórum teve como imaginário a Ria Formosa e visou o desenvolvimento de capacidades, associadas a cada uma das suas ilhas barreira, que poderão ter ficado comprometidas durante a pandemia. “A Ilha do Farol é a ilha da confiança porque é o farol que guia os barcos. A Ilha da Armona é a ilha da fé porque é a ilha que tem o peixe, designado na simbologia cristã como ictus, que representa a fé cristã”, elucidaram ao Folha do Domingo os membros da equipa de projeto Ana Raquel Braz e Rita Palma, do Agrupamento 98 de Faro, Lara Escudeiro, do Agrupamento 1398 Nossa Senhora do Amparo de Portimão, e Nilton Oliveira, do Agrupamento 1200 Quelfes.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Aqueles responsáveis pelos departamentos de logística, comunicação, fórum e animação, acrescentaram ter-se procurado “associar todas as ilhas a «nós»”. “Por exemplo, a Ilha Deserta foi associada ao «nó» da solidão e outras a outros como a resiliência ou a empatia”, sustentaram, explicando que os «nós» aludiam não só às amarrações escutistas, mas também simbolizavam o que uniu, durante os últimos tempos, os escuteiros enquanto caminheiros e a própria região escutista do Algarve.

A título de exemplo adiantaram que, relativamente à solidão, foram apresentadas estratégias para “combater o facto de eles, por vezes, terem medo de estar consigo próprios”. “A Ilha dos Hangares é a ilha do amor e, nesse sentido, abordámos a importância de se conseguirem amar a si próprios para poder amar os outros”, desenvolveram.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A equipa dos departamentos daquela atividade “muito querida por todos os Caminheiros e Companheiros da região” escolheu os temas que achou pertinentes de serem abordados no encontro e foram realizados três plenários, o primeiro sobre o “PPV (Plano Pessoal de Vida) e a Carta de Clã”, conduzido pelo chefe Fábio Ferrinho do Agrupamento 1200 Quelfes, o segundo, por videoconferência, sobre a “Partida, Caminheirismo e Desafio”, apresentado pelo chefe Pedro Carragoso da região de Viseu, e por Gonçalo Costa, ex-companheiro da região do Algarve, e o terceiro sobre o tema “Ligar o chip da Espiritualidade”, orientado pelo padre Rui Fernandes da comunidade jesuíta algarvia.

As três assembleias organizaram-se de formas distintas. Na primeira, os participantes ouviram e discutiram com o orador, na segunda realizaram trabalhos por «tribos» (grupos) e a consequente apresentação dos mesmos, e a terceira decorreu sob forma de debate arbitral em que se procurou “perceber se a Igreja é realmente importante para o escutismo e se o escutismo é importante para a Igreja”. “Foi muito importante perceber que estamos fraquinhos na fé, enquanto Clã regional, e acho que saímos daqui um bocadinho mais motivados para tentar perceber algumas questões que, se calhar, estavam mais esquecidas”, referiram aqueles membros da equipa projeto.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Um dos pontos altos daquele fórum é a votação dos pontos para a Carta de Cenáculo. “Uma luta que tem havido nos últimos anos é que os pontos para a Carta são um bocadinho difíceis de concretizar”, confessou a equipa de projeto, explicando que a dificuldade se prende com o facto do clã (grupo de escuteiros da IV secção) regional ter a maioria dos elementos a estudar fora do Algarve. “É um problema da nossa região que não tem tão grande expressão em mais nenhuma outra região. É uma coisa que não ajuda a que sejam concretizados alguns pontos e que faz com que não arrisquemos sequer a pôr na Carta alguns pontos”, lamentaram.

Aqueles responsáveis asseguraram que pelo facto de a atividade ser feita de Caminheiros/Companheiros para Caminheiros/Companheiros torna-a “muito importante porque dá espaço a determinados elementos de levarem avante algo que sentem que têm de fazer”. “Sentimos que temos de dar mais à nossa região e isso faz com que ajudemos a crescer a região”, realçaram, acrescentando ser preciso pensarem no que terão de fazer para levar a “região a bom porto”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A atividade teve início no dia 4 de março com o acolhimento dos escuteiros e uma reflexão por «tribos», seguindo-se a bênção e o acendimento da vela do Cenáculo, uma assembleia inicial e a oração da noite na capela. No sábado de manhã, após o pequeno-almoço e a oração, decorreu o primeiro e o segundo plenários. Depois do almoço houve um espaço para preparação do Fogo de Conselho da noite, que foi aberto a todas as pessoas, o terceiro plenário, o trabalho por «tribos» de preparação dos pontos para a Carta, a celebração da Eucaristia presidida pelo padre Nuno da Rocha, o jantar, o Fogo de Conselho e a oração da noite. No domingo realizou-se a votação dos pontos e assinatura da Carta de Cenáculo e a eleição dos novos representantes daquele fórum.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A Carta de Cenáculo será enviada para a equipa nacional e divulgada à Junta Central do CNE.

O Cenáculo realiza-se no Algarve desde 2011 e já passou por Silves (2011), Lagos (2012), Loulé (2013), Paderne (2014), Olhão (2015), Ferragudo (2016), Quarteira (2017), Faro (2018), Albufeira (2019) e Tavira (2020).