No passado dia 8 de Dezembro, ocorreu o vigésimo quinto aniversário da ordenação dos primeiros quatro diáconos permanentes em Portugal. Foi em Setúbal, uma Diocese jovem, que ainda não tinha sequer completado uma década desde a sua criação, pela rasgada iniciativa do seu primeiro Bispo, D. Manuel da Silva Martins. Foi uma novidade para as Igrejas de Portugal, quase vinte anos depois da conclusão do II Concílio do Vaticano, que restaurara o diaconado para a Igreja Latina, como grau próprio e permanente da hierarquia, a ele admitindo homens casados. Tiveram de passar quase vinte anos, até que um Bispo português, frontal e corajoso, rompeu com a inércia do "há-de fazer-se" e do "está-se pensando", para dar o passo decisivo e ordenar os primeiros diáconos permanentes para o serviço de uma Diocese portuguesa, alguns dos quais homens casados. Depois seguiram-se outras Dioceses, como Lisboa, Aveiro, Porto, Évora, Braga e no ano dois mil o Algarve, pelas mãos de D. Manuel Madureira Dias, fará dez anos em 20 de Fevereiro próximo. Há Dioceses portuguesas, que ainda hoje não ordenaram diáconos permanentes, isto apesar de os diáconos permanentes em Portugal serem já mais de duzentos, estando o seu maior número nas Dioceses de Lisboa, Aveiro e Porto, preparando agora a Diocese Portucalense a ordenação de um grande número de candidatos em cuja acção o actual Bispo do Porto D. Manuel Clemente deposita fundadas esperanças.

Mas voltando a Setúbal, e aos quatro primeiros diáconos permanentes ordenados há vinte e cinco anos, não podemos deixar de referir que um deles é algarvio, natural de Ferragudo, no concelho de Lagoa, onde nasceu em 26 de Dezembro de 1934 (curiosamente no dia da festa litúrgica de Santo Estêvão, diácono e primeiro mártir). A vida fê-lo viajar para outras paragens, tendo trabalhado inclusivamente na Marinha mercante e quando estava quase a completar cinquenta anos foi ordenado diácono para o serviço da Diocese de Setúbal. Desde então tem trabalhado na Paróquia da Cova da Piedade, como colaborador do Pároco. Trata-se do Diácono Inácio Francisco da Silva, que actualmente é o diácono mais antigo de Portugal, ordenado para o serviço de uma Diocese portuguesa. Ele esteve presente em Faro, no dia 20 de Fevereiro de 2000, quando os primeiros diáconos permanentes do Algarve foram ordenados, tendo assistido ao Bispo do Algarve D. Manuel Madureira Dias e acolhido na Ordem dos diáconos os primeiros diáconos permanentes da sua Diocese de origem.

"Sempre mais a Igreja descobre a inestimável riqueza do diaconado permanente", escreveu o Cardeal Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação do Clero, na recente carta que dirigiu aos diáconos permanentes por ocasião da Festa de São Lourenço, diácono e mártir, em 10 de Agosto de 2009, acrescentando que "quando os Bispos vem à Congregação para o Clero, por ocasião das visitas "ad limina" o tema do diaconado, costuma ser comentado e os Bispos geralmente mostram-se muito contentes e cheios de esperança em relação a vós, Diáconos permanentes". Nessa Carta, aquele Cardeal brasileiro recorda aos diáconos que devem centrar a sua acção nos ministérios da Palavra e da Caridade, campos onde encontrarão em Santo Estêvão e São Lourenço, diáconos e mártires, grandes modelos. O Arcebispo Emérito de São Paulo, relembra nessa sua carta que "o diaconado tem as suas raízes na organização eclesial da caridade, na Igreja primitiva. Em Roma, no séc. III, período de grandes perseguições aos cristãos, aparece e a figura extraordinária de São Lourenço, arquidiácono do Papa São Sixto II, que lhe confiou a administração dos bens da comunidade". Os diáconos, conclui o Cardeal Hummes, "identificam-se especialmente com a caridade. Os pobres constituem um dos seus ambientes quotidianos e objecto da sua incansável solicitude. Não se compreenderia um Diácono que não se envolvesse pessoalmente na caridade e na solidariedade para com os pobres, que hoje de novo se multiplicam".