
O padre Vitor Hidalgo López, que presidiu no passado domingo à eucaristia na capela do Carmelo algarvio de Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Patacão, concelho de Faro, destacou Santa Teresa de Jesus como “autêntica mestra de vida evangélica e espiritual para todos os cristãos”.
As comunidades dos padres carmelitas em Portugal assinalaram naquele dia a abertura do ano de comemorações (15 de outubro de 2014 e 15 de outubro de 2015) do V Centenário do Nascimento de Santa Teresa de Ávila (1515-2015), também conhecida como Santa Teresa de Jesus, proclamado pelo Papa.

“Santa Teresa propõe-nos a humildade entendida como amor à verdade, ou seja, aceitar a verdade de nós mesmo e reconhecer, com simplicidade, os nossos limites para podermos aceitar a verdade de Deus que é mais forte do que os nossos erros. Ao mesmo tempo, Santa Teresa propõe-nos o amor mútuo como elemento básico para adquirir a harmonia na vida comunitária e social”, evidenciou aquele membro do governo provincial da ordem dos Carmelitas Descalços, acrescentando que a fundadora daquela ordem convida os cristãos a testemunhar “que só Deus basta” e a serem “audazes” na sua opção por Cristo.

“Santa Teresa propõe ainda as virtudes evangélicas como base de toda a nossa vida cristã e humana e, em especial, sugere o desapego dos bens, ou seja, a pobreza evangélica e isso diz respeito a todos nós porque todos experimentamos, de uma ou de outra maneira, os nossos limites, as nossas incoerências, os nossos defeitos e falhas. Tudo isto, acrescenta Santa Teresa, sem esquecer as virtudes humanas que devemos praticar no dia a dia, nas nossas relações com os outros, isto é, a cortesia, a boa educação, a amabilidade, a modéstia, a veracidade, a alegria, etc”, salientou o sacerdote.

Citando o Papa Francisco, o padre Vitor Hidalgo López lembrou que “a sua experiência mística não a separou do mundo, nem das preocupações das pessoas”. “Pelo contrário, deu-lhe novo impulso e coragem para a ação e para os deveres de cada dia”, acrescentou, destacando também a oração como “aspeto essencial da doutrina de Santa Teresa”, considerada na Igreja e não só “mestra de oração”. “Orar, diz ela, significa tratar de amizade face a face com Aquele que sabemos que nos ama. Para Teresa rezar não é uma forma de fugir, também não é evadir-se, nem isolar-se porque o caminho da oração transcorre na vida da fraternidade no seio da Igreja”, sustentou, lembrando as “gerações de irmãs, frades e seculares e de toda a grande família teresiana que aprenderam com Santa Teresa a fidelidade a Jesus Cristo e ao seu evangelho no caminho da oração”.

Teresa de Ávila nasceu a 28 de março de 1515 e, após ter entrado no convento carmelita de Nossa Senhora da Encarnação, promoveu a renovação da Ordem do Carmo, tendo fundado o primeiro convento da nova família carmelita descalça em 1562, dia em que mudou de hábito e começou a chamar-se Teresa de Jesus. No século XVI foi responsável pela reforma da Ordem dos Carmelitas em Portugal, juntamente com São João da Cruz, processo do qual saiu, em 1593, o ramo dos Carmelitas Descalços. Teresa de Ávila, que morreu em Alba de Tormes (Salamanca) no ano de 1582, e foi proclamada doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI em 1970.
O padre Vitor Hidalgo López lembrou que “ao celebrar os santos, a Igreja quer celebrar, antes de mais, a santidade de Deus que resplandece encarnada em pessoas de carne e osso porque a santidade em abstrato não existe”. “Há tantos tipos de santos e tantos tipos de santidade, quantas as situações e necessidades humanas. Santa Teresa de Jesus foi uma dessas mulheres que responderam incondicionalmente com uma «determinada determinação», expressão muito sua, na qual quis realizar uma atitude decidida e absoluta de entrega a Deus”, explicou o sacerdote.

Citando o Papa Paulo VI na homilia da celebração da proclamação de Santa Teresa como doutora da Igreja, frisou que a canonizada “tirou a sua doutrina” “da sua correspondência à graça que ela recebia na sua alma extraordinariamente rica e preparada para a prática e experiência da oração”.
O sacerdote disse ainda que “a prova de que Santa Teresa não esconde as riquezas que recebeu do Espírito Santo são os seus escritos, frutos da sua idade madura que coincide também com a época da sua atividade como fundadora de conventos”. “Entre as suas principais obras deve recordar-se, sobretudo, a autobiografia intitulada ‘Livro da Vida’ e o ‘Caminho de Perfeição’. E a obra mística mais famosa de Santa Teresa é o ‘Castelo Interior’ ou o livro das ‘Moradas’, escrito em 1577 em plena maturidade humana e espiritual. À sua obra de fundadora dos Carmelos reformados, Teresa dedica ainda o ‘Livro das Fundações’, escrito de 1573 a 1582, em que fala da vida das primeiras carmelitas”, especificou na eucaristia terminou com a veneração de uma relíquia da santa.
Toda a família carmelita e teresiana tem vindo a preparar desde 2009 este quinto centenário do nascimento desta proeminente figura da vida da Igreja com os mais variados eventos, incidindo sobretudo na leitura, meditação e estudo dos escritos da Santa de Ávila com iniciativas previstas em todas as dioceses de Portugal.
com Ecclesia