
A apresentação do inventário do arquivo histórico da paróquia de Santa Bárbara de Nexe foi feita na passada quarta-feira, 4 de março, na Biblioteca Municipal de Faro, depois de um trabalho de recuperação e restauro da documentação.
A salvaguarda, organização e inventariação do fundo arquivístico daquela paróquia resultou de um protocolo de colaboração estabelecido com a Câmara de Faro em setembro de 2013.

Segundo o padre Miguel Neto, pároco de Santa Bárbara de Nexe, a ideia surgiu de um grupo de quatro paroquianas. “Esta edição é a demonstração de que para se fazer alguma coisa importante não tem de ser necessariamente por iniciativa do pároco”, afirmou, explicando que a iniciativa não foi sua.
Após o acordo com a autarquia seguiu-se então o trabalho da equipa do Arquivo do Município de Faro, composta pelos arquivistas João Sabóia e Tiago Barão, com a colaboração de António Madeira da Cruz.
Tiago Barão explicou que, através de muitos trabalhos sobre as visitações da Ordem de Santiago à igreja de Santa Bárbara de Nexe “percebe-se que se trata de uma igreja com mais de cinco séculos de existência e que, supostamente, deveria ter uma documentação compatível com essa história, o que não acontece na realidade”. Os historiadores acrescentaram que o arquivo paroquial não possui documentos anteriores ao século XX e que isso se deve a diversos acontecimentos que, ao longo do tempo, terão levado à destruição de muito do património documental da paróquia, tal como o terramoto de 1755, que danificou seriamente a igreja, assim como, no século XIX, a guerra civil entre liberalistas e absolutistas, em que a casa paroquial foi assaltada, e a própria implantação da República. Os arquivistas destacaram ainda que o mau estado de conservação da documentação não ajudou a que ela se conseguisse manter até aos dias de hoje.

No entanto, João Sabóia frisou que “os documentos encontrados são importantes pelo valor probatório e como conhecimento e memória do papel da Igreja na comunidade onde se integra” como é disso exemplo os autos de entrega da igreja e das suas dependências (1933 e 1945) que estavam desaparecidos, sendo necessários para efeitos de regularização no Registo Predial.
Tiago Barão referiu que, para além da paróquia, as entidades identificadas como produtoras de documentação paroquial foram o Apostolado da Oração, a Associação do Canto das Almas, a Associação Rosário Perpétuo, a Caritas Paroquial de Santa Bárbara de Nexe, a Confraria de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a Confraria do Santíssimo Sacramento, a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, a Juventude Agrária Católica Feminina, a Liga Agrária Católica Feminina, a Obra de São Francisco de Sales e a Pia União dos Cruzados de Fátima.

Os arquivistas destacaram a elaboração do inventário, que agora ficou disponível em formato digital para consulta no sítio do Município de Faro, como um “trabalho importante para investigadores não apenas da área religiosa” e sublinharam o facto de ter sido a primeira vez que a entidade municipal realizou este trabalho ao nível paroquial. “O trabalho agora apresentado poderá representar um projeto consistente e continuado de organização e publicação do arquivo das paróquias sedeadas no concelho de Faro sob a orientação técnica do arquivista”, desejou João Sabóia, sublinhando a importância da salvaguarda do património arquivístico paroquial e adiantando que a equipa do Arquivo Municipal “já está a pensar continuar com este tipo de colaborações”.
O padre Miguel Neto manifestou o seu regozijo por Santa Bárbara de Nexe ter sido a primeira paróquia do concelho de Faro a tomar a iniciativa. “Tomei como exemplo a paróquia de Silves”, confessou o pároco, considerando que o trabalho agora finalizado “é um início de uma forte ligação entre as paróquias de Santa Bárbara e Estoi, o Arquivo Distrital e o Museu Municipal” que deverá avançar agora com a recuperação do arquivo paroquial de Estoi.
Na sessão de apresentação, participada também pela diretora da Biblioteca Municipal de Faro, Sandra Martins, a vereadora Teresa Correia destacou a importância dos arquivos para a formação da identidade e congratulou-se com a disponibilização dos arquivos à consulta pública. “Este tipo de trabalho resulta de uma disponibilidade sã da parte da Igreja. Gostava que este trabalho fosse um exemplo a continuar”, afirmou.
De acordo com a organização arquivística, no âmbito da Igreja do Algarve encontram-se já publicados os inventários relativos às paróquias de São Clemente (1993) e São Sebastião (1994) de Loulé, Salir (1996), Querença (2004), São Pedro de Faro (1929), Silves (2011) e São Bartolomeu de Messines (2014). Igualmente publicados estão também os inventários dos arquivos Diocesano, do Cabido Catedralício da Sé de Faro e da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo (1994). A nível nacional, foi também realizado o inventário do património cultural móvel onde se incluem as Misericórdias (1997).
com Sandra Moreira